terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Pedro Luís pilota a batucada carioca

O quinteto formado por Pedro Luís, Celso Alvim, Mário Moura, C.A. Ferrari e Sidon Silva ficou conhecido pela sonoridade original, ao desmontar a bateria no palco e formar uma parede com os tambores — o que gerou o nome do grupo —, e por suas letras relevantes, com forte crítica social. A amostra de 15 anos de carreira está reunida no novo CD e DVD, ‘Navilouca Ao Vivo’, registro do show que Pedro Luís e A Parede (Plap) fez no Circo Voador no dia 2 de setembro.

São músicas (16 no DVD e 14 no CD) que marcaram a trajetória do grupo, como ‘Menina Bonita’, ‘Rap do Real’ e ‘Caio No Suingue’, além de uma emocionada participação de Herbert Vianna na bem sacada junção de ‘Selvagem’ (do Paralamas) e ‘Chuva de Bala’ (da Plap).

“Pena que as letras dessas músicas continuam tão atuais”, comenta Pedro Luís, sobre a emblemática música de Herbert e a sua, que traz os versos: “Amor, tá chovendo bala/abre a janela pra não quebrar”. “Eu estava no Japão fazendo shows com a Roberta Sá (cantora e mulher do artista) quando houve a ocupação do Alemão. Acompanhamos tudo pela Internet, e foi uma coisa de louco”.

Loucura, mas da boa, acontece no fim do show no Circo. No bis, o grupo desce à plateia, traz Lenine a tiracolo e, junto do público, eles resgatam ‘Pena de Vida’, de ‘Astronauta Tupy’, estreia em disco da Plap (1997). No meio da cantoria, falta luz, mas o show continua. “As participações especiais, assim como o repertório, foram escolhidas a dedo. São parceiros muito significativos na nossa carreira, que nos acompanham desde o início”, frisa Pedro Luís.

A impressão de “escolhido a dedo” é nítida. Enquanto enfileiram suas pancadarias — em peso percussivo e força das mensagens —, ‘Miséria no Japão’ após ‘Navilouca’, ‘Seres Tupy’ após ‘Fazê o Quê?’, a sensação é a dos tempos em que os discos eram escutados do início ao fim, da primeira à última faixa. “Hoje em dia é tudo muito corrido. A gente quis fazer algo como antigamente, da época do vinil, quando era um ritual escutar música”, atesta C.A. Ferrari.

Os cinco integrantes da Plap são os mesmos desde a criação do conceito do grupo, das oficinas de percussão e, depois, do Monobloco. “Dificilmente sai pancadaria, ninguém leva faca para as reuniões”, brinca Mário Moura, sobre o astral entre eles. “Somos apenas cinco caras que viram a chance de fazer uma coisa bacana para ganhar a vida”, define.

MONOBLOCO EM ALTA ROTATIVIDADE
Em 2000, ao criar as oficinas do Monobloco, Pedro Luís e sua trupe deram origem a um dos maiores fenômenos da revitalização do Carnaval de rua do Rio. Em plena atividade nesse período das festas de Momo, a big band toca no Réveillon do Jockey Club, na Gávea, viaja Brasil afora e volta à cidade dia 18 de fevereiro, na Fundição Progresso. “Agora está impossível pensar em lançar o novo DVD da Parede. Os shows de lançamento vão ter que ficar para abril”, explica Celso Alvim. LSM

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Fuck Christmas!

Fuck Christmas!
It's a waste of fucking time
Fuck Santa
He's just out to get your dime,
Fuck Holly and Fuck Ivy
And fuck all that mistletoe
White-bearded big fat bastards
Ringing bells where e'er you go
And bloated men in shopping malls
All going Ho-Ho-Ho
It's Christmas fucking time again!

Fuck Christmas
It's a fucking Disney show
Fuck carols
And all that fucking snow
Fuck reindeer
And fuck Rudolph
And his stupid fucking nose
And fucking sleigh bells tinkling
Everywhere you fucking goes
Fuck stockings and fuck shopping
It just drives us all insane.
Go tell the elves
To fuck themselves
It's Christmas time again!

Composers: Eric Idle & John Du Prez; Singer: Eric Idle; Originally From: The Greedy Bastard Tour

(Foda-se o Natal!
É uma perda de tempo fudida
Foda-se o Papai Noel
Só existe para tirar nosso dinheiro

Foda-se o azevinho e a foda-se a hera
E todo aquele musgo verde
Babacas gordos de barbas brancas
Tocando sinos em todos os lugares

Gordões em todas as lojas
Só fazendo ho-ho-ho!
É a porra do Natal de novo!

Foda-se o Natal
É um fudido show da Disney
Fodam-se as renas
E toda aquela neve fudida

Fodam-se as canções e foda-se o Rudolph
E seu estúpido nariz fudido
E os sininhos fudidos do trenó
Tocando em tudo quanto é lugar

Fodam-se as meias
E fodam-se as compras
É de enlouquecer!
Fodam-se os elfos
É Natal de novo!)


terça-feira, 21 de dezembro de 2010

À sombra do Cidade Negra

Cofundador e coautor de alguns dos grandes sucessos do Cidade Negra, o guitarrista Da Ghama soube pelo rádio que o grupo que integrou por mais de 20 anos terá novamente Toni Garrido na formação. Dissidente assim como o vocalista, ele, porém, não foi contactado para a retomada.

"Não sei o que eles pensam. Voltaria amarradão, mas para isso eles três (Toni, o baixista Bino e o baterista Lazão) têm que me querer. E a gente teria que conversar, porque houve problemas na ruptura. Não quero acusar ninguém, nem me colocar como vítima. Estando ou não, torço pelo sucesso do Cidade Negra, até porque sou sócio da marca. Estou quieto, levando meu trabalho", desabafa Da Ghama, que segue em carreira solo com shows baseados em seu CD 'Violas & Canções', lançado em 2009, no qual ele trocou as guitarras pelos violões.

"Confesso que estou doido para largar a mão em uma guitarra distorcida", revela o músico, declarando-se fã de Eric Clapton. "Já estou preparando um novo álbum, elétrico, para o segundo semestre de 2011. Meu repertório solo não se fixa muito nas músicas do Cidade Negra. Não é que esteja negando minha história, mas não quero associar meu trabalho ao grupo".

NAS MÃOS DE JAH E DE DEUS
Nesses tempos em que vender CDs é cada vez menos fonte de renda para artistas, as vezes que sobe ao palco ajudam a fechar as contas no fim do mês. Atualmente, Da Ghama vive desses shows e, principalmente, dos direitos autorais, de músicas como 'A Sombra da Maldade' e 'Firmamento'. "Vivo bem com o básico. Se meus dois filhos tiverem o que comer, estou tranquilo. Sigo na mão de Jah e na mão de Deus", sacramenta. LSM

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

De Juazeiro a Nova York

As histórias da infância de Ivete Sangalo, que saiu do interior da Bahia e agora lança DVD do show no palco onde até Frank Sinatra cantou

Ivete Sangalo dispara pela rua vestindo apenas uma calcinha cheia de babados, um modelo que ela chama de ‘bunda rica’. Ela e a melhor amiga olham para um lado e para o outro e, travessamente, pulam o muro do Country Club para tomar banho na piscina de madrugada. “Continuo essa mesma menina. Só não posso mais sair na rua só de calcinha, né?”, diverte-se a cantora, lembrando a infância em Juazeiro.

Fomos até o interior da Bahia atrás dos primeiros passos da antiga ‘campeã’ de cuspe à distância da cidade e atual popstar internacional, que lança semana que vem o CD e DVD com registro do show que fez em setembro, no badalado palco do Madison Square Garden, em Nova York. Ivetinha — como é chamada em Juazeiro — garante que não mudou quase nada desde aquela época. “Bom, é verdade que também não me aventuro mais a pular daquela ponte!”, conta, referindo-se ao local em que mergulhava no Rio São Francisco. “Mas continuo enraizada naquela terra. Frequentemente me perguntam onde aprendi uma coisa ou outra, e foi tudo lá”, atesta.

Ivetinha no Madison Square Garden (acima) e aos 15 anos com o pai e a amiga Leila

De fato, a espevitada artista que levanta poeira durante um show inteiro conserva muito da garotinha que se divertia assustando o povo, pulando embaixo de um lençol. “Uma das brincadeiras preferidas da minha turma chamava-se Casa do Terror. Era assim: a gente ia dormir, depois acordava às três da madrugada e partia para a rua fingindo ser um bando de fantasmas”, recorda.

Dessa turma de amigas, a inseparável era Leila Lisboa. As duas meninas foram das primeiras moradoras do bairro Country Club e, em saraus familiares, costumavam se deixar embalar horas a fio pelo violão do pai de Ivete, Alsus Almeida de Sangalo. Célebre em Juazeiro, o seresteiro tem até estátua na praça em frente da casa onde moravam. “Fazer piquenique embaixo de um pé de juazeiro (árvore típica da região), pular elástico e jogar Banco Imobiliário eram as nossas brincadeiras prediletas”, conta a companheira Leila. “No Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, onde a gente estudava em Petrolina (cidade vizinha, que faz parte de Pernambuco), eu era boa em matemática, enquanto Ivetinha era mais das letras: português e história eram seu forte”, relata.

Leila Lisboa diz que sempre achou que a amiga era ‘diferente’. “Foi ela quem me ensinou a falar palavrão”, revela, às gargalhadas. “Achava que ela seria uma modelo muito famosa, mas não cantora”.

Ivete, antes da música, até ensaiou trabalhos como modelo. “Logo que ela definiu que seria cantora, eu era como sua primeira empresária, pedindo patrocínio de porta em porta e até solicitei ao prefeito para ela se apresentar na festa junina da cidade”, conta Leila.

Hoje, Ivete Maria Dias de Sangalo não precisa pedir mais nada. Pelo contrário. Desde este ano, o Carnaval de Juazeiro até mudou de data só para contar com a disputada presença da conterrânea: migrou para coincidir com o dia 27 de maio, data de seu aniversário.

Vem aí a dobradinha Ivete Sangalo-Shakira
Depois do Maracanã e do Madison Square Garden, onde se apresentaram de Frank Sinatra a Paul McCartney, o céu é o limite para Ivete Sangalo? “Esta não é a minha preocupação. Em Nova York tem muitos brasileiros. Estou é atrás desses Brasis que estão pelo mundo”, explica a musa do axé, que recebeu 20 mil pessoas na emblemática cidade norte-americana.

Nelly Furtado, Diego Torres, Juanes e Seu Jorge emprestaram seu brilho à gravação. “Pena que não deu para o James Morrison ir, porque o pai morreu, e o Lenny Kravitz, por problemas de agenda”, lamenta. Não seja por isso, Ivete, afinal Shakira vem aí. “Temos um projeto juntas que está 90% adiantado”, faz mistério. “É possível que ela venha me prestigiar no Carnaval, vamos torcer”.

Enquanto não começa a nova turnê, em 2011, a estrela só quer saber do filhote, Marcelo: “Virei uma louca de paixão!”. LSM

sábado, 27 de novembro de 2010

A mágica viagem de Izzy Gordon

Em 1967, a fã brasileira Lizzie Bravo dividiu o microfone com John Lennon, na música ‘Across The Universe’. Esta semana, mais uma privilegiada soltou a voz ao lado de um beatle. A paulista Izzy Gordon se apresentou na festa particular que Paul McCartney fez para sua namorada, Nancy, no hotel Grand Hyatt, onde se hospedou durante as apresentações em São Paulo.

“Foi um sonho. Quando soube que ele estava na cidade, pensei, sem pretensão: ‘Puxa, já cantei para o Bono (Vox, do U2), bem que podia cantar para o Paul’. Não sei se os anjos me atenderam, mas logo depois ligaram dizendo que fui escolhida novamente para mostrar a música brasileira a um estrangeiro muito famoso”, relata Izzy, lembrando a ocasião, em 2006, quando foi a estrela de uma festa no mesmo local durante a passagem do U2 pelo País.

Ao contrário daquela vez, em que registrou o encontro com Bono, a produção de McCartney vetou a entrada de máquinas fotográficas e até celulares. No entanto, a cantora, que é sobrinha de Dolores Duran, não perdeu a oportunidade de dar ao astro inglês seu recém-lançado CD, ‘O Que Eu Tenho Pra Dizer’.

“Ele parecia um amigo. Subiu no palco, tocou tamborim, pegou o microfone e brincou no refrão de ‘É Com Esse Que Eu Vou’ (samba que foi sucesso com Elis Regina), num jogo de pergunta e resposta comigo”, descreve.

Para ela, o sonho não acabou. Depois de Bono e Paul McCartney, Izzy já vislumbra estar ao lado de outra estrela internacional. “Gostaria de cantar com a Erykah Badu. Quem sabe, assim como aconteceu com o Paul, este desejo também se realiza?”, imagina. LSM

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Beatlemania invade o mercado

Os 70 anos de John Lennon e os shows de Paul McCartney no Brasil turbinam o lançamento de CDs e livros

As atenções no Brasil estão voltadas para os shows de Paul McCartney, mas seu antigo parceiro também promete ir para o centro dos holofotes. John Lennon, que completaria 70 anos em 2010, acaba de ter sua discografia solo remasterizada com o mesmo trato que a obra dos Beatles ganhou ano passado. A viúva Yoko Ono acompanhou tudo de perto.

“Nunca gostei da maneira como as músicas eram mixadas nos anos 70, com a voz escondida, enterrada”, define Yoko, no novo encarte do CD ‘Double Fantasy’, último álbum lançado com Lennon ainda vivo.

Este título é o que mais promete surpreender entre os relançamentos. Yoko Ono e Jack Douglas, coprodutor do disco original, colocaram as guitarras e a voz de Lennon mais altas e deletaram boa parte dos vocais de apoio e teclados que datavam o som do álbum. O resultado é ‘Stripped Down’, CD que acompanha a nova edição do ‘Double Fantasy’ (R$ 54). “Mesmo para quem conhece bem o disco, a experiência é como escutá-lo pela primeira vez”, garante Yoko.

Produtor cultural e grande fã dos Beatles, Marcelo Fróes exulta a qualidade deste álbum. “Com canções lindas, ‘Double Fantasy’ é insuperável, e esta versão ‘Stripped Down’ ficou bem interessante”, avalia. “Aguardemos a remasterização da obra de Paul McCartney, que começa com o ‘Band On The Run’, em 2010”.

Supervisionada pelo próprio McCartney, esta reedição sai este mês em CD duplo com novas fotos e um DVD incluindo cenas de bastidores. Outra referência no Brasil quando o assunto é Beatles, Lizzie Bravo, que gravou vocais com o grupo na música ‘Across The Universe’, festeja o tratamento pelo qual a obra dos ídolos vem passando. “Especialmente na faixa que participei, minha voz ficou bem mais evidente. Só que ouvir o Lennon com este som melhorado dá um sentimento estranho, porque parece que o cara está na minha sala, e sabemos que ele não está mais entre nós”, suspira.

Os títulos estão disponíveis separados (R$ 34,90) ou reunidos na caixa ‘Signature Box’ (R$ 1.000), com textos de Yoko Ono e dos filhos Sean e Julian, além de um disquinho extra com gravações caseiras. “Este material, que colecionadores já conheciam, veio com som igualmente cristalino, mas mantendo a cara dos anos 70”, ressalta Ricardo Pugialli, pesquisador e autor do livro ‘Beatlemania’.

Entre os novos lançamentos, destaque ainda para a coletânea ‘Power To The People’ (R$ 59), com um DVD e um cartão interativo que dá acesso a mais conteúdo no site http://www.johnlennon.com/.

PARA SABER MAIS
Pegando carona nas apresentações de Paul McCartney no Brasil, foi lançado o DVD ‘Live In Canada’ (R$ 16,50), com show dele celebrando os 400 anos da cidade de Quebec, em 2008. Já as clássicas coletâneas ‘Azul’ e ‘Vermelha’ dos Beatles voltam reembaladas e remasterizadas (R$ 59).

Para ler sobre o grupo, acabam de sair os livros ‘The Beatles — Gravações Comentadas e Discografia Completa’ (R$ 59,90), belo documento sobre a história de cada álbum, e ‘Can’t Buy Me Love — Os Beatles, a Grã Bretanha e os Estados Unidos’ (R$ 99), que entrelaça biografia com a história cultural dos anos 60.

Já no mercado, mas também afetados pelo ‘efeito Paul’, e por isso em destaque neste período, os definitivos ‘Many Years From Now’ (R$ 49,50), autobiografia de McCartney, e ‘The Beatles — A Biografia’ (R$ 111), de Bob Spitz. “Este é o livro sobre eles que mais vende”, conta Janice Florido, publisher da editora Larousse, sobre a ‘Bíblia dos Beatles’ de Spitz. LSM

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Maria Bethânia se queixa do mano Caetano

Diva homenageia a mãe em CD e reclama do irmão: ‘Ele não compõe mais pra mim’

Que vontade de produzir tem Maria Bethânia. Num tempo em que as lojas, em diversos mercados do mundo, já não estão mais vendendo CDs, ela lança dois discos, ‘Tua’ e ‘Encanteria’, em 2009, e sai em turnê que vira CD e DVD, um ano depois. “Gosto mesmo de gravar e me apresentar ao vivo. Isso de virar um disco, eu nem ligo mais. Sei que disco é algo que já não existe. DVD é um pouco melhor: talvez venda uns 12 exemplares”, brinca Bethânia, sobre ‘Amor Festa Devoção’ (Biscoito Fino), dedicado à sua mãe, Dona Canô.

O novo lançamento, com 18 músicas dos discos do ano passado, traz pouca novidade além de confirmar que a intérprete continua cantando muito. Tudo bem: Bethânia já produziu o suficiente para alcançar, faz tempo, um estágio no qual não precisa mais lançar nada que surpreenda ou necessite aprovação. “Nem vou fazer show de lançamento no Rio e São Paulo. Fiz, agora, uma apresentação em Buenos Aires. O Caetano (Veloso) foi lá me ver, contou que tocou na Islândia e que foi demais. Fiquei com muita vontade de cantar lá também”, relata.

No novo CD, Bethânia registrou um punhado de músicas do irmão, um dos compositores que mais gravou durante a carreira. Porém, deixa escapar uma reclamação: “Ele não faz mais músicas para mim”, lamenta.

Será que a queixa tem relação com o fato de Caetano ter composto cerca de uma dezena de músicas para o novo álbum de Gal Costa, previsto para 2011, além de assinar a produção com o filho Moreno Veloso? Espera-se que a ‘concorrente’ venha com tintas tropicalistas e roqueiras, como a da Banda Cê, de Caetano. Mas Bethânia deixa no ar que também é aberta para algo direrente: “Posso cantar até um heavy metal, se for do bom!”. LSM

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

"É mais fácil conseguir entrevistar Jesus Cristo que o Chico Buarque"

Sempre que pensei conseguir uma declaração do Chico Buarque para abrilhantar alguma matéria, seja sobre música, política ou futebol, me diziam: "Acho mais fácil você conseguir uma declaração de Jesus Cristo que do Chico Buarque". Daí, nem me animava em começar a tentar contactar o artista. Quando o editor do plantão das eleições me deu tal missão, pedindo que fosse tentar abordá-lo no momento do voto alegando que este era um dos principais personagens da campanha no segundo turno, eu de pronto devolvi: "Não acha mais fácil me mandar tentar entrevistar Jesus Cristo, não?". Mas, como nessas situações não dá para argumentar muito em cima da missão dada, saí da redação com o objetivo de voltar com ela cumprida.

Exatamente às 14h28 deste domingo, Chico Buarque atravessou a rua com seu passo tímido e chegou a pé no antigo Colégio Bahiense, atual campus da PUC, na Estrada da Gávea. Junto do fotógrafo André Luiz Mello, o papo começou pelo encontro com a Dilma, e sobre o impacto que seu engajamento no ato público pode ter causado sobre os fãs-eleitores. "Não tenho essa pretensão, de persuadir alguém com a declaração do meu voto ou com minha presença ao lado de ninguém", descartou o cantor e compositor, caminhando em direção à sessão 21, na 211ª Zona Eleitoral.

Depois do voto, entre autógrafos e fotos com admiradores, o artista assumiu que não está 100% satisfeito com a situação do País "Nem a Dilma está. Tem muita coisa ainda para melhorar", opinou. "Mas o caminho que eu topo é esse, que o Lula está traçando, e que espero que a Dilma continue".

Para o músico, amanhã há de ser outro dia, melhor que o de hoje. LSM

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Carlinhos Brown na pressão: artista lança dois CDs, anuncia um terceiro e grava com Chico Buarque e Black Eyed Peas

Em tempos de pré-sal, Carlinhos Brown sugere que se apostem em “outro expoente nacional: a pressão, pressão musical”. Conversar com o multiartista baiano é assim: um trocadilho atrás do outro. Mais ainda quando está cheio de coisas para falar sobre dois novos CDs, ‘Diminuto’ e ‘Adobró’, que lança simultaneamente em tempos de crise da indústria fonográfica. “A pirataria é um acaso do descaso. Não acho que o CD morreu. Qualquer artista tem mais que dois discos para oferecer”, define, assumindo que não realizaria tal projeto sem o apoio da Natura, por meio do projeto ‘Natura Musical’. “Eles conseguem o marketing espontâneo oferecendo o que as pessoas querem. Existe uma panela de pressão cultural no País que nenhuma crise vai calar”, decreta Brown.

Com dois lançamentos na praça e já em turnê, o inquieto artista agora parte para dentro das rádios e TVs, mas, de antemão, lamenta que tais meios temam apostar em novidades. “É lindo ouvir o Rei (Roberto Carlos) no final do ano, mas que tal um festival de coisas inéditas também? Temos que ser música popular brasileira e não museu popular brasileiro”, dispara mais um de seus jogos de palavras. “É doloroso quando me veem só como o cara que fez ‘Água Mineral’ e ‘A Namorada’. Pô, a namorada já é vovó! Fiz muitas outras coisas”.

Além desses sucessos, Carlinhos Brown é lembrado também pelo Rock In Rio, em 2001, quando foi execrado por roqueiros ávidos por ídolos como Guns ‘n’ Roses. “Eu não estava no lugar errado, na hora errada. Fiquei mais conhecido no mundo depois daquilo e passaram a prestar mais atenção na minha mensagem por um mundo melhor”, avalia. “Se for chamado para o festival em 2011, vou com o maior prazer! Quem sabe com um show do Mar Revolto?”, sugere Brown, referindo-se ao grupo de rock que integra e que gravou um CD, ainda inédito. “Lanço em janeiro”, promete.

DOSE DUPLA
Enquanto ‘Diminuto’ tem inspiração em sambas, ‘Adobró’ traz elementos eletrônicos e pegada mais pop. No primeiro, destaque para o sogrão Chico Buarque, que, pela primeira vez, grava uma participação declamando um texto, ‘Suor Caseiro’, de autoria de Brown. “Em um domingo familiar, sugeri, e ele na hora disse: ‘Demorou, vou fazer’, com espontaneidade e sinceridade”, conta o genro orgulhoso.

O Paralamas do Sucesso participa dos dois CDs. Brown, por sua vez, também tem dado uma palinha no disco dos outros. “Há duas semanas gravei percussão e vocal com o Black Eyed Peas, em Los Angeles”, tira onda. LSM

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

A cigarra canta mais alto: Simone (também) é rock

É possível que o flerte de Simone com o rock nunca tenha estado oculto, como a própria cantora garante, e que em 37 anos de carreira tenha sido até mesmo óbvio. Mas a intimidade que ela revela ao tratar do gênero pode surpreender até mesmo o mais ferrenho fã. “Já gravei Samuel Rosa, Cazuza, Legião Urbana, essa turma toda. Sempre teve algo disso nos meus discos. E já tocou comigo muito roqueiro brabo”, faz questão de ressaltar.

Se alguém ainda duvida, é só conferir a performance de Simone em seu mais novo CD e DVD, ‘Em Boa Companhia’ (Biscoito Fino), registro da turnê que estreou em 2009, gravado no Teatro Guararapes, em Olinda, Pernambuco — o show de lançamento passa pelo Rio nos dias 16 e 17 de novembro, no Teatro João Caetano, no Centro.

No palco, músicas manjadas de sua trajetória, como ‘Tô Que Tô’ (Kleiton e Kledir), ganham tintas roqueiras principalmente pelas cordas da guitarra de Walter Villaça, que, antes de integrar a trupe da ‘cigarra’, era fiel escudeiro de Cássia Eller. “Essa é mesmo a banda mais pop que já tive. Às vezes, o Waltinho fica meio tímido, mas eu dou a maior pilha nele para botar ainda mais guitarra nos arranjos”, diverte-se.

No vídeo, Simone arranca da plateia gritos frenéticos de “gostosa” ao interpretar o rock ‘Perigosa’ (Rita Lee, Roberto de Carvalho e Nelson Motta). Cheia de atitude, a cantora assume que tem um gogó poderoso. “Acho minha voz muito bonita. Minhas cordas vocais são em forma de U, enquanto o normal é ser em V. Quando isso acontece, a voz da pessoa é mesmo diferenciada. A ZD (como Simone chama Zélia Duncan) também é assim”, revela.

Foi a amiga Zélia Duncan, com quem dividiu disco em 2008, que a iniciou em Amy Winehouse. “Ela falou do disco ‘Back To Black’ e me mostrou a Joni Mitchell”, conta. “Curti o timbre da Amy, mas não as loucuras”. Outra popstar polêmica, porém, não fez sua cabeça. “Prefiro outras praias que a da Lady Gaga”, confessa. “Mas não seria louca de não curtir Paul McCartney. Só não vou vê-lo por pânico de multidão”, lamenta. LSM

terça-feira, 26 de outubro de 2010

A praia da cantora inglesa Corinne Bailey Rae é o Brasil

Prestes a se apresentar pela primeira vez no Brasil, a cantora inglesa Corinne Bailey Rae jura que não está fazendo média ao revelar o disco que mais escuta no momento. “Pode acreditar, não paro de ouvir o ‘Elis & Tom’. A música daí é muito boa, tem uma tradição de grandes intérpretes e compositores. Adoro bossa nova, o disco do João Gilberto com o Stan Getz é fantástico. É muito bom ir para os lugares onde esses discos foram feitos. Quero aproveitar a ida para conhecer artistas novos”, anuncia.

No Rio, onde canta no sábado, dia 6, na HSBC Arena, na Barra da Tijuca, Corinne tem planos de curtir algo mais que a música. “Também quero andar pelas ruas e ver a arquitetura da cidade, que, me disseram, é muito bonita”, conta.

Ela não sabia, mas festejou ao saber que músicas suas emplacaram em trilhas de novelas por aqui: ‘Put Your Records On’ (‘Páginas da Vida’), ‘Like a Star’ (‘Sete Pecados’) e ‘Paris Nights/New York Mornings’ (‘Ti-ti-ti’). “Uau, isso é muito bom! Essas três, definitivamente, estarão no repertório do show”, promete.

Corinne está lançando o CD ‘The Sea’. O título, ‘O Mar’ — algo curtido muito mais no Brasil que na Inglaterra — explica-se em sua paixão pelas praias. “Quero muito conhecer as praias do Rio. Tem um contraste com o mar da Inglaterra, onde não mergulho, mas ando pela orla e me inspiro para compor. É uma relação diferente com o mar, algo até espiritual”, filosofa.

Em momento superinspirado, a cantora jura que não vai mais sair de cena (ela demorou quatro anos para lançar o novo álbum, por conta da morte do marido): “Estou escrevendo como nunca, e cheia de músicas novas”. LSM

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Vou ter que comprar aquele toca-discos Vestax

Com o anúncio do relançamento, em vinil, da coleção da Legião Urbana, repleta de novidades, textos da minha amiga Christina Fuscaldo, vou ter mesmo que comprar aquele toca-discos Vestax. É uma vitrolinha de piquenique turbinada, tem até espaço pra fone.

Ouvi até que já tem uma fábrica Vestax no Brasil, mas ela não comercializa isso, não trabalha com aparatos de DJ. Foda é que acho que o site amazon.com não manda isso pro Brasil, não exporta eletro-eletrônico. Se enviar, é na base do "Ô TIÃO, JOGA ESSE PACOTE AÍ!"... Você confia?

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Edgard Scandurra, o mestre-cuca do rock

O que vem à cabeça quando se fala em Edgard Scandurra? Se você pensou ‘rock’ e ‘Ira!’ (o saudoso grupo no qual escreveu boa parte de suas canções), não está 100% por dentro das atividades deste que é um dos heróis da guitarra brasileira. O músico acaba de estrear solo em DVD, gravado ao vivo em São Paulo, e anda às voltas com sua mais recente empreitada, o Le Petit Trou (O Buraquinho, em francês), restaurante que abriu na capital paulistana.

“Só cabem 36 pessoas, é um buraquinho mesmo”, explica, às gargalhadas. “Começou como uma coisa amadora, daí fui me envolvendo cada vez mais com a gastronomia. Ver pessoas felizes comendo é parecido com o prazer de ouvir música”.

De seu cardápio, Scandurra destaca a coxa de frango caipira ao molho de sidra (confira a receita abaixo). “É uma coisa de louco! Leva ameixa, bacon e a sidra. Meu restaurante é o único que vende sidra em São Paulo”, orgulha-se o mais roqueiro dos mestres-cucas.

A cozinha tem sido um ambiente cada vez mais comum ao guitarrista. No DVD, ele fez questão de colocar o avental e, nos extras, falar dessa nova paixão. No palco, Scandurra revisita seu elogiado disco solo ‘Amigos Invisíveis’, de 1989, além de algo do Ira! e um emocionado dueto com Guilherme Arantes, em ‘Meu Mundo E Nada Mais’.

Sobre uma possível volta do grupo que o projetou — e que terminou depois de brigas com o vocalista Nasi —, Scandurra não rejeita a ideia, mas acha difícil: “Não falo com ele desde que a banda acabou, em 2007. Só se ele me der dúzias de desculpas sinceras e mudar seu comportamento”. LSM

RECEITA DO FRANGO CAIPIRA AO MOLHO DE SIDRA
Ingredientes:
4 coxas com a sobrecoxa de frango caipira
100g de cebola picada50 g de estragão fresco
100g de bacon cortado em cubos pequenos
50g de ameixa preta sem caroço
3 folhas de louro
500ml de sidra
100g de cogumelos paris refogado
Sal e pimenta a gosto

Modo de preparo:
Separar a coxa da sobrecoxa e selar com pouco óleo. Retirá-las e na mesma panela fritar o bacon. Eliminar a metade da gordura e adicionar a cebola, cogumelos, estragão, a sidra, o louro. Adicionar o frango e as ameixas. Salgar a gosto e deixar cozinhar.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Manual das marchinhas

Uma das formas mais divertidas de se curtir o Carnaval é ao som das marchinhas. A música de andamento acelerado, melodia simples, repleta de picardia nas letras e que é a cara do espírito carioca pode fazer a alegria na folia ser ainda maior. O Concurso Nacional de Marchinhas entrou na avenida: está com inscrições abertas e quem levar a nota máxima fatura R$ 10 mil, além de ter a sua obra gravada em um CD.

As inscrições podem ser feitas na Fundição Progresso (Rua dos Arcos, 24, Lapa) — onde acontece a grande final, no dia 20 de fevereiro — ou pelo site http://www.concursodemarchinhas.com.br/, até o dia 29 deste mês. Os dez finalistas serão revelados em 23 de novembro.

Cair no gosto popular é privilégio de raros. Para rascunhar um ‘Manual das marchinhas’, com um punhado de dicas sobre como se fazer uma boa música, promovemos um encontro com quem entende do riscado: João Roberto Kelly, Homero Ferreira e João Cavalcanti, além de Eduardo Dussek — que não estava no Rio mas meteu o apito no debate por telefone —, mostram que não é preciso ser músico para colocar o bloco na rua e criar a sua marchinha. Basta ter uma ideia boa e original.

“Não existe fórmula de criação artística, mas podemos ajudar pela experiência de outros Carnavais”, abre alas João Roberto Kelly, autor de ‘Cabeleira do Zezé’ e ‘Bota a Camisinha’. “Para começar, a marchinha deve falar de algo fresco, um assunto de momento”.

Homero Ferreira, que fez a clássica ‘Me Dá Um Dinheiro Aí’ e ‘Milagre do Viagra’ — esta, vencedora do primeiro concurso, em 2006 —, acrescenta uma alegoria no enredo: “Ter humor, usando o duplo sentido, funciona bem”, ensina. Kelly devolve: “Tem que ter comunicação. Falar de tema acessível e até infantil. É importante a capacidade de síntese”, decreta.

Músico do grupo Casuarina, João Cavalcanti é um dos cinco jurados do torneio. “Já julgamos marchinhas boas, mas que tinham três estrofes. Não dá, é muito longa, o povo não decora”, avalia. “E não pode cair na armadilha de copiar uma melodia conhecida. Citações são bem-vindas, mas com critério”, alerta.

Intérprete e autor de marchinhas, Eduardo Dussek lembra que “a letra tem que ser um chiclete e grudar de primeira”: “E deve servir para paquerar. Ou então para zoar com a cara de alguém ou do sistema”, enumera.

Os quatro também sugerem que jovens compositores busquem novos caminhos para a marchinha. “Não é fácil, eu acertei muito, mas também errei bastante”, assume João Roberto Kelly. Dussek completa: “Quanto mais simples, mais difícil de fazer. Pensam que é só laiá-lá-lá... é muito mais que isso!”, conclui. LSM

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Um clássico do 'hit'

Entrevistei, por e-mail, o Zezé di Camargo. Saca essa resposta, sobre a dupla que faz com o irmão Luciano ter regravado 'Do Seu Lado', do roqueiro Nando Reis:

ZC - "A aproximação com o rock é normal. No início da careira, gravamos 'Menina Veneno', que é um clássico do hit"

Acho que ele quis dizer RITCHIE, né? Fato é que o próprio Ritchie diz que, nos anos 80, recebia cartas endereçadas a HITLER, RITZ e até RIM TIM TIM...

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Fogo e paixão

Idolatrados por um público quase 100% masculino, Rush volta ao Brasil esperando reunir mais mulheres na plateia, como o cantor Wando

Eles são feios e não estão na moda. Quem se assume assim é Geddy Lee, cofundador do virtuoso trio canadense Rush, que domingo pousa pela segunda vez no Rio, na Praça da Apoteose. O grupo formado também pel
o guitarrista Alex Lifeson e pelo baterista Neil Peart é cultuado por uma fiel legião de fãs, daqueles que ficam fascinados nos shows e nunca vão embora antes do último acorde.
Tais seguidores do rock repleto de arranjos complicados, registre-se, são quase em sua totalidade homens. Lee se mostra ainda mais entusiasmado para voltar ao Brasil ao ser informado que um artista local é tão feio quanto ele, mas tem um público 100% feminino e ainda recebe calcinhas das fãs no palco.

“Opa! Gostaríamos também de ter muitas calcinhas jogadas no palco”, se assanha o músico, que no grupo detona no baixo, canta e ainda toca teclado com os pés e mãos. “Não fazia a mínima ideia de como somos amados no Brasil
antes da primeira vez que estivemos aí. Ficamos muito surpresos, foi além do que esperávamos”, avalia o show no Maracanã em 23 de novembro de 2002, que virou o CD e DVD ‘Rush In Rio’.

Curiosamente, eles tocam no Rio desta vez justamente diante do enorme monumento em forma de ‘M’ que o arquiteto Oscar Niemeyer criou ins
pirado nas bundas das mulatas. Mais apropriado, impossível.
CHORA CORAÇÃO
Apesar de ter em seu repertório títulos como ‘Closer To The Heart’ (‘Perto do Coração’), o romantismo definitivamente não faz parte dos herméticos assuntos tratados nas letras do Rush, que namoram até com a ficção científica. Geddy Lee credita o baixo quorum feminino em suas plateias ainda ao som cerebral que produzem. A vontade de cantar para mais mulheres, no entanto, é revelada por ele também no documentário ‘Rush: Além do Palco Iluminado’, lançado m DVD e em cartaz no Festival do Rio. O baixista afirma que “a motivação para o grupo ainda estar na estrada há mais de 40 anos são as garotas”. “Esse filme não é para mim. Eu falo muito ali”, desconversa. “Mas fico feliz que tantos fãs tenham gostado do resultado”.

Na tela, os músicos do Rush são celebrados como “altos sacerdotes do rock conceitual” por integrantes do Metallica, Kiss, Smashing Pumpkins, Rage Against The Machine e White Stripes, entre diversos outros respeitados roqueiros que não medem palavras ao se derreterem pelos ídolos. Tal reverência é graças a álbuns considerados clássicos, como ‘Fly By Night’, ‘Hemispheres’ e ‘Moving Pictures’ — este, lançado em 1981, será executado na íntegra nesta nova turnê, ‘Time Machine’.

“Esse disco foi um enorme salto na nossa carreira, apesar de considerar que foi no ‘2112’ (de 1976) a primeira vez que chegamos com um som que ninguém havia feito”, destaca Lee, prometendo para 2011 o 20º álbum de estúdio, ‘Clockwork Angels’ — duas novas já serão tocadas no Rio, ‘Caravan’ e ‘BU2B’.

A ‘marca’ do Rush, como o baixista define em ‘Além do palco...’, é “sempre querer ir mais além”. Depois de décadas em ação, independentemente do sexo predominante na plateia, o grupo passou no único teste verdadeiro: o teste do tempo.

PAIXÃO BRASILEIRA
Quase oito anos de espera desde a primeira passagem do Rush pelo Brasil, na época com a turnê ‘Vapor Trails’, os fãs já se preparam para mais uma noite de muitas emoções. Mal podem esperar pelo momento de cutucar o amigo para, cúmplices, concordarem que eles tocam perfeitamente.

“Este vai ser o quinto show deles que vou assistir”, festeja o guitarrista Alex Martinho, que além do primeiro show no Rio conferiu os canadenses três vezes nos Estados Unidos e ainda atua na banda cover 2112, dedicada, claro, ao repertório dos ídolos. “A única coisa ruim é que, quando os originais vêm, ninguém quer ver shows de releituras”. diverte-se.

Baterista da banda Fly By Night, que também só toca Rush, André ‘Geleia’ se prepara para o que classifica como “o momento mais emocionante da vida”. “Um dos caras da produção é tio da mãe do meu filho e, sabendo do meu fanatismo, prometeu que vai me colocar no backstage. Não estou nem acreditando, acho que a ficha ainda nem caiu, mas estou animadasso”, suspira.

Idolatrados no mundo inteiro, os integrantes do Rush revelam que também têm seus ídolos, pelos quais se rasgam em elogios. “Cresci ouvindo artistas como Led Zeppelin, The Who, Cream, Yes e Jeff Beck. Esses foram os grandes que me influenciaram”, enumera Geddy Lee. LSM

domingo, 3 de outubro de 2010

Lapa calling

Foto do músico Igor Kappler por Luiz Lima, simulando a capa do 'London Calling', da banda The Clash.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Samuel Rosa: 'O rock já foi mais consistente'

Às vezes não é preciso a mordomia de encontrar os mineiros do Skank pessoalmente em Belo Horizonte. Um papo sincero e inspirado por telefone com Samuel Rosa pode ser mais revelador que o monotemático assunto ‘lançamento do DVD ao vivo no Mineirão’. A bordo de mais um projeto revisionista, o vocalista de cabelo à laBeatles atesta que sua onda continua sendo a retrô, das guitarras que usa à visão sobre o rumo do rock brasileiro, e dispara ainda contra o que considera mau uso de novas tecnologias.

“Isso de ficarem rifando a intimidade no Twitter, publicando coisas como ‘agora vou fazer cocô’, dando uma intimidade que não interessa a ninguém, para mim isso é doença”, classifica Samuel Rosa, que não tem perfil pessoal no microblog.

O cantor e compositor mostra munição também ao comparar os novos tempos com o passado. “O Brasil inteiro cantava Cazuza, ou Raimundos anos depois, do flanelinha ao profissional liberal. Não vejo esse rock colorido ocupar o mesmo segmento dos Titãs, nos anos 80, ou do Jota Quest nos 90, por exemplo", analisa, referindo-se a grupos como Restart. "O público deles, se chega aos 17 anos, já está velho. O momento atual não é favorável para o rock. A produção de música jovem já foi mais consistente e teve mais espaço”, avalia Samuel Rosa, com a propriedade de quem acumula sucessos suficientes para fazer uns três shows diferentes, sem repetir música.

Enfático em suas impressões, o cantor ainda se diverte — mas quase desconversa — ao explicar o nome do grupo, homônimo da poderosa maconha produzida em laboratório, mais apropriado ao flerte com a música jamaicana do início da carreira: “Skank é um ritmo. Não passou pela nossa cabeça essa ligação, vinha da levada do reggae”, garante. Ah, tá.

Falcão foi barrado no Mineirão
O DVD ‘Multishow ao Vivo — Skank no Mineirão’ teve um desfalque. Falcão, do grupo O Rappa, não foi gentilmente cedido por sua gravadora, a Warner, e não entrou em campo com o Skank, da Sony. “Ficaram bolados porque participei do DVD do Ultramen sem avisar”, lamentou Falcão, que cantaria ‘Jack Tequila’ e ‘Baixada News’.

“Pensei ainda em ‘Garota Nacional’, que ele toca com sua outra banda, Loucomotivos. A galera ia pirar”, conta Rosa.

Depois de destacar Minas Gerais nos DVDs em Ouro Preto (2001) e neste no Mineirão, que próxima paisagem vai emoldurar os acordes do Skank? “Minas tem muito para ser visto. Imagino algo nas montanhas, com cachoeiras, ou um show off-road”, vislumbra o cantor. LSM

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O criador do hino do Rock In Rio

Quem canta a plenos pulmões o entusiástico refrão “Que a vida começasse agora...” desde seu lançamento, no Rock in Rio de 1985, até hoje — embalado pela nova versão com diversos artistas — pode até imaginar que se trata de uma canção de domínio público, tanto que melodia e letra estão impressas em nosso inconsciente. O mesmo vale para o tema que imortalizou as vitórias de Ayrton Senna na Fórmula 1. Mas as duas músicas emblemáticas têm dono, sim. É um cara meio misterioso e que prefere evitar os holofotes.

“Os artistas gostam de se apresentar em público, já eu morro de vergonha. Me sinto mais à vontade em estúdio”, revela o maestro, arranjador e instrumentista Eduardo Souto Neto, autor de ‘Rock In Rio’ (com letra de Nelson Wellington) e ‘Tema da Vitória’.

Relaxado no estúdio onde trabalha compondo jingles, em uma cobertura em Copacabana, Souto Neto avalia a nova gravação, que anuncia a próxima edição do festival no Rio, daqui a exatamente um ano. Sob sua direção musical, Evandro Mesquita, Frejat, Sandra de Sá, Ivete Sangalo, Toni Garrido, Ed Motta e Pitty, entre diversos outros, soltaram a voz para cantar “ô ô ô ô, Rock In Rio”.

“Me emocionou e surpreendeu. Pena que, por problemas de agenda, não deu para o Samuel Rosa e a Maria Gadú participarem. O (Rogério) Flausino, do Jota Quest, falou que esperou 25 anos para gravar essa música”, recorda.

Todos os envolvidos na releitura demonstram tal reverência. “Canto isso desde moleque. Se não soubesse cantar essa, não saberia mais nenhuma”, brinca Marcelo D2. Dinho Ouro-Preto, do Capital Inicial, faz coro: “A música é trilha de muitas aventuras, de casais que se conheceram, que terminaram. As pessoas lembram onde estavam quando a escutaram pela primeira vez”.

O professor de idiomas Nelson Wellington garante que vislumbrou algo grandioso logo que recebeu a missão de traduzir a ideia do festival em letra. “Na hora senti uma vibração especial. Nesta nova versão, reunindo várias gerações, ficou tipo ‘We Are The World’, do Michael Jackson”, exagera.

Na versão original, o crédito do intérprete é de Eduardo Souto Neto, mas a canção foi gravada também por integrantes do Roupa Nova. “E quem cantou foi um cara de quem nunca mais ouvi falar, que se intitulava Verme”, entrega.

Filho e neto de músicos, o maestro gosta de dizer que nasceu embaixo do piano. Seguro ao escolher seus bemóis e sustenidos, ele só balança na hora de apontar qual é a mais marcante entre suas duas maiores criações: “São músicas que não perderam a validade”. LSM

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O herdeiro

Filho de Cássia Eller, Chicão se joga na música como percussionista do grupo Zarapatéu

(Fotos: Alessandro Costa)

Chegou a hora de aprender com o “pequeno grande coração” de Chicão, do jeito que sua mãe vislumbrou na música ‘1º de Julho’. Desde que Maria Eugênia, companheira de Cássia Eller, ganhou sua guarda, após a morte da cantora, em 2001, pouco se ouviu falar da trajetória do garoto. Aos 16 anos, Francisco Ribeiro Eller descobre o mundo junto de um punhado de amigos-músicos e investe na mesma profissão da mãe e do pai (o baixista Tavinho Fialho, que morreu em acidente de carro pouco antes de o filho nascer).

Fomos encontrar Chicão munido de pandeiro, triângulo, alfaia e microfone. Ele responde pela percussão e vocal no grupo Zarapatéu, que se apresentou no último fim de semana na Lona Cultural Herbert Vianna, no complexo de favelas da Maré. No camarim, pouco antes de entrar no palco, ele deu a primeira entrevista da sua vida e contou que a opção pela carreira musical seria feita mesmo se a mãe não fosse Cássia Eller. “Acho que é algo que vem no sangue, mas meu interesse aconteceu mais pelo acesso à música que ela me proporcionou, através da grande coleção de CDs e vinis que eu herdei, do que pelo fato de ela ser cantora”, define.

Em início de carreira, os integrantes do Zarapatéu só querem é tocar e não estão nem aí se, em princípio, ganharem involuntariamente a alcunha de ‘a banda do filho da Cássia Eller’. “Não queremos ser celebridades, queremos que o foco seja a música”, decreta o supertímido Chicão, usando sempre o plural para falar sobre o grupo e não ser o alvo das atenções.

Alunos no colégio Centro Educacional Anísio Teixeira (Ceat), em Santa Teresa, onde também estudam música, os colegas estão sempre juntos. Gostam de escutar Chico Buarque, Jorge Ben Jor e Luiz Melodia e sair pela cidade. “A gente vai à Lapa, curtimos ver shows no Circo Voador e nosso bar preferido é o Simplesmente, em Santa Teresa”, revela Chicão, que mora no Cosme Velho.

Desfilando sua vasta cabeleira à la ‘black power’ e perambulando pelo palco todo o tempo descalço e sem camisa, o jovem percussionista mostra que tem estilo. Sua primeira professora de canto, Isadora Medella, do grupo As Chicas, atesta que ele traz no DNA o talento da mãe. “Ele ainda nem sabe, mas é um músico superafinado e tem um ouvido maravilhoso”, avalia.

A mistura sonora do Zarapatéu
Além de Chicão, o Zarapatéu é formado por Artur Sinapse (bateria), Bernardo de Carvalho (clarinete), Bruna Araújo (voz), Daniel Batalha (guitarra), Lucas Videla (percussão e vocal), Marina Chuva (percussão e vocal) e Pedro Moragas (baixo). O nome é uma corruptela do prato sarapatel, típico da culinária de Pernambuco e do Ceará, feito com tripas e outras vísceras de porco. “Nosso som é isso mesmo, uma mistura de tudo o que a gente gosta”, explica Sinapse.

No repertório, tocam ‘Mas Que Nada’ (Jorge Ben Jor) e ‘Roda Viva’ (Chico Buarque). Entraram em estúdio recentemente para gravar duas músicas, que podem ser conferidas em www.myspace.com/zarapateu. “A gente é muito ligado em sons regionais”, conta Marina. Os ensaios são todo fim de semana, na casa de Moragas, em Laranjeiras, sob protestos da vizinha idosa, Dona Madalena. “Todos os shows são dedicados a ela”, diverte-se o baixista.

Bruna não compareceu à Maré. A mãe, a cantora Emanuelle Araújo, do grupo Moinho, ficou com medo da filha se apresentar na ‘Faixa de Gaza’. O show teve um aspecto especial para Chicão. “Essa barreira tem que acabar. Um bando de caras da Zona Sul estar aqui hoje é irado. Se eu não for músico, quero fazer Ciências Sociais e ser antropólogo”, diz. LSM

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

O novo Clube da Esquina

Filho de Beto Guedes e sobrinho de Lô Borges promovem encontros musicais inspirados em seus pais e uma nova geração de artistas mineiros se joga na canção

A poucos metros daquela lendária esquina do clube idealizado por Milton Nascimento, no encontro das ruas Paraisópolis com Divinópolis, do boêmio bairro Santa Tereza, em Belo Horizonte, uma nova geração de artistas realiza encontros musicais como os que geraram o mítico Clube da Esquina, no início dos anos 70. Capitaneados por Gabriel Guedes e Rodrigo Borges, filho de Beto e sobrinho de Lô, e baseados no recém-aberto bar Godofredo, de Gabriel, eles fazem história, fomentando uma nova cena musical mineira.

“Minas não tem mar, mas tem muito bar! Daqui já despontam nomes como Marina Machado, Aline Calixto, Thiago Delegado, Juliana Perdigão, Érika Machado e Tutuca Tiso (sobrinho de Wagner Tiso)”, enumera Gabriel, 32 anos, que lança seu segundo CD em novembro. “Na inauguração do Godofredo, tocaram meu pai, Lô Borges, Flávio Venturini, Marcio Borges, Ronaldo Bastos, Murilo Antunes, Tavinho Moura, o Clube da Esquina quase todo, foi histórico”.

Perto dali, o Marilton’s Bar, do pai de Rodrigo Borges, também catapulta novos talentos. “Diziam que Santa Tereza era a Liverpool brasileira. Isso está sendo resgatado, com bares que viraram ponto de encontro”, relata Rodrigo, 36, que dá à luz seu primeiro CD mês que vem.

(Rodrigo Borges e Gabriel Guedes / Fotos: Cirstiano Quintino)

Repleto de instrumentos, o Godofredo — homenagem de Gabriel ao avô, um notório compositor de choros — é um convite à música. Outro ‘sócio’ do Clube da Esquina, o guitarrista Toninho Horta toca lá todo mês e Lô Borges aparece sempre e não sai do piano.

Vocalista do grupo mineiro Jota Quest, Rogério Flausino está plugado nessa nova turma. “É uma molecada que sabe beber na fonte certa”, atesta. Outra cria de Minas, Fernanda Takai, do Pato Fu, também celebra a volta de Santa Tereza ao foco cultural: “O bairro foi reurbanizado, plantaram árvores, isso inspira”. Skank e Sepultura também surgiram por ali. “É uma área que respira cultura”, vibra Henrique Portugal, tecladista do Skank.

Beto Guedes e Lô Borges veem com bons olhos a empreitada dos herdeiros. “É uma maravilha a história querendo se repetir no mesmo quarteirão onde a gente tocava, cheio de pessoas talentosas, dedicadas à arte e com o mesmo DNA, colocando músicas na roda e vislumbrando uma carreira”, festeja Lô. Beto, inicialmente, se preocupou com o empreendimento do filho, mas depois ficou boquiaberto: “O Gabriel conseguiu mesmo juntar uma nova galera, muito bacana”.

Prova de que sonhos não envelhecem, essa nova geração já está aí. Fique ligado. LSM

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Só faltou o Cazuza no estúdio

Baterista Guto Goffi reúne a formação original do Barão Vermelho para compor e gravar uma música depois de 20 anos

Quando Rodrigo Santos lançou seu mais recente disco solo e juntou os integrantes do Barão Vermelho em uma faixa, a volta do grupo — em férias por tempo indeterminado desde 2007 — começou a ser cogitada. Mais burburinho que a reunião promovida pelo atual baixista da banda, porém, promete causar o primeiro CD do baterista e cofundador do Barão, Guto Goffi, que convocou a formação original (sem o Cazuza, claro) para compor e gravar uma música, ‘Olho no olho’. Frejat, Dé Palmeira, Maurício Barros e Guto Goffi não entravam em estúdio juntos há mais de 20 anos.

“Gravei 22 músicas, deve virar um disco duplo. Tem outras surpresas além desse resgate do Barão original, como algumas parcerias inéditas com o Rodrigo Netto (ex-guitarrista do Detonautas, que morreu tragicamente em 2006 após ser vítima de assalto no Rio). Não tenho a ilusão de que esse disco vá ser um sucesso, mas depois desses anos todos na estrada, eu precisava mostrar como é a minha concepção de música pop”, antecipa Goffi, que fez até aulas de canto para registrar ele mesmo os vocais.

Provando que a química entre os quatro músicos continua funcionando bem, ‘Olho no olho’ foi feita na hora, durante uma tarde no estúdio de Frejat, na Lagoa, a partir de uma letra de Guto Goffi. “Temos um entrosamento natural e a gravação fluiu superbem, dois ou três takes bastaram”, relata o baixista Dé Palmeira. “Contribuiu o fato de que dessa vez não estávamos na posição de artistas trabalhando sobre pressão de gravadora, rádio ou outro tipo de compromisso que não fosse a simples vontade de tocar juntos”.

Frejat também adorou a iniciativa do baterista de convidar os amigos de longa data para tocar, dar risadas e fazer o que mais gostam. “Uma coisa bonita na história do Barão é que todos que entraram e saíram continuam amigos”, conta o guitarrista.

A volta do grupo aos palcos, no entanto, ainda não tem previsão de acontecer. “O Barão Vermelho é um vulcão que vai entrar em erupção, mas é um vulcão grande, demora um pouquinho para acontecer”, filosofa Guto Goffi. “Em 2012, devemos comemorar os 30 anos do nosso primeiro LP com uma turnê”, anuncia. LSM

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O último CD do último romântico

Lulu Santos está lançando seu volume dois do ‘Acústico MTV’. O popstar, porém, se diz desencantado com os discos, ao mesmo tempo que vibra cada vez mais com as apresentações ao vivo. Esse novo CD pode ser o último de sua carreira.

“Fiz todos os álbuns que poderia ter feito. Essa peça anual obrigatória me parece desnecessária. Estou cada vez menos entusiasmado. Já o show nunca vai perder o valor, porque não se ‘downloadeia’ a presença do artista. Isso é algo que tende a ficar cada dia mais valorizado”, decreta o cantor, compositor e guitarrista. “O que está fora de moda é a ideia do suporte, seja vinil, CD ou arquivo digital. Para mim, a revolução no consumo de conteúdo é a TV digital, onde se pode até pausar transmissões ao vivo. E mais: ali se arrecada direitos autorais e disso não abro mão”.

No som, a modernização do hiperconectado Lulu Santos agora vai ao encontro das raízes. “Quero andar em direção ao jongo da África, é a minha tentativa de reinvenção, através de uma volta às origens”, anuncia o ‘rei do pop nacional’. O rótulo majestoso, aliás, Lulu faz questão de descartar. “Nunca fui o vendedor de disco popular, que a todo lançamento se espera que faça aquele número absurdo”, define.

No embalo das recém-anunciadas datas para a realização da próxima edição do Rock In Rio, em setembro de 2011, Lulu Santos faz uma reavaliação de seus shows na primeira edição do festival, em 1985. “Não fui bem naquele ano. Gostaria de tocar no evento de novo, para acabar com essa sensação ruim que ficou. Na ocasião, eu não tirei o que podia tirar de uma apresentação”, assume. LSM

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Arlindo Cruz ensina Frejat a tocar banjo e tira onda na guitarra

Era para definir o repertório do primeiro encontro no palco do roqueiro com o sambista, para um show na Fundição Progresso, mas Frejat e Arlindo Cruz só queriam falar de seus instrumentos musicais. “Vou comprar uma guitarra dessas e pegar umas aulas contigo”, diz Arlindo, no estúdio de Frejat, empunhando um modelo Telecaster da coleção particular do anfitrião ao mesmo tempo que ensina uns acordes em seu banjo ao amigo. “São basicamente as mesmas cordas de baixo da guitarra”.

(Foto: João Laet)

Frejat, enquanto entusiasticamente tenta tirar um som do instrumento do parceiro, enumera seus ídolos do samba. “Sempre gostei de ouvir samba, Paulinho da Viola, Cartola, Nelson Cavaquinho. Este, por sinal, era um cara completamente rock ‘n’ roll”, define, contrariando a declaração que lhe foi atribuída no filme ‘Cazuza’, no qual briga com o vocalista e decreta que “o Barão Vermelho não pode tocar samba”. “Colocaram isso na minha boca, justo eu que sempre dividi o gosto pelo samba com o Cazuza. É a única coisa que me incomoda no filme”, desabafa.

Arlindo Cruz, dedilhando escalas de blues e impressionando na destreza com a guitarra, enfileira seus roqueiros preferidos. Assim como Frejat em relação ao samba, seu gosto também passa pelos veteranos. “Não sou um ‘guitar hero’, sou um ‘guitarrero’. Gosto de Rita Lee, Renato Russo, Lulu Santos e, claro, Frejat e Cazuza”.

Na Fundição, Arlindo Cruz conta que vai focar sua parte da noite em seu ‘MTV Ao Vivo’, enquanto Frejat anuncia algumas surpresas, como um pout-pourri de clássicos da música soul brasileira, incluindo Tim Maia e coisas do gênero que o Roberto Carlos gravou.

Finalmente, a dupla define os números que vão dividir no inédito encontro. “Lembro que você gravou o ‘Malandragem Dá Um Tempo’, do Bezerra da Silva”, sugere Arlindo. “Ótimo, mas queria tocar alguma coisa de sua autoria também”, devolve Frejat. Arlindo, então, mostra ‘Dor de Amor’, imediatamente aprovada pelo guitarrista. “A gente se conhece desde o camarim do Chacrinha, mas nunca aconteceu de tocar juntos”, lembra Frejat.

Direção musical
O tempo não para e a reunião tem que terminar, porque os músicos Dadi (Novos Baianos, A Cor do Som) e Otávio Rocha (Blues Etílicos) chegam para ensaiar o show que Frejat vai dirigir no evento ‘Back2Black’, que celebra a cultura africana, na Estação Leopoldina. “Me senti desafiado com a missão de coordenar uma banda para acompanhar vários artistas, como Mart’nália, Elza Soares e os internacionais Vieux Farka Touré e Taj Mahal”, define. LSM

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

'Sertanejo universitário é uma coisa banal', avalia Almir Sater

Devagar e sem nenhuma pressa, como diz a letra de ‘Tocando em Frente’, sua música mais famosa. Assim é o violeiro, e ator nas horas vagas, Almir Sater. “Não tenho pressa de mais nada na vida. Eu vivo disso aí, de tocar pelo Brasil, além de ser um médio proprietário de uma fazenda de gado de corte, no interior do Mato Grosso do Sul”, conta o protagonista da novela ‘A História de Ana Raio e Zé Trovão’. “Sou músico, o negócio de ator foi só um bico”, define.

Na trama exibida em 1991 e reprisada desde junho com sucesso pelo SBT, Sater vive um mulherengo peão de boiadeiro. “O Jaime (Monjardim, diretor) estava encantado comigo e foi muito corajoso por colocar na linha de frente um violeiro recém-estreado na TV”, avalia o cantor, que tinha acabado de fazer ‘Pantanal’. “Só estou conseguindo assistir à novela agora, porque na época a gente ficava sem tempo e tinha um olhar muito crítico”.

O olhar crítico de Almir Sater ainda está lá, só que agora voltado para a música, sob seu inseparável chapéu. “Esse negócio de sertanejo ginasial, ou universitário, nem sei bem, vejo como uma coisa banal. Para me emocionar, tem que ter um pouco de arte. Sem arte, as coisas vão rapidamente se esfarinhar no ar”, prevê o músico.

O que não se esfarinhou no ar, definitivamente, é o badalado verso ‘Ando devagar porque já tive pressa’, um dos campeões de citação em frases de perfil no mundo virtual, do Orkut ao MSN. “Essa música faz parte da vida de muita gente. A letra do Renato Teixeira veio toda pronta, como se ele estivesse psicografando. Eu estava só tocando meu violão, ele recebeu essa mensagem e em dois minutos fizemos música e letra”, relata Sater, que no momento grava um disco com o parceiro dos velhos tempos. LSM

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Elza Soares faz a ponte entre o Rio e Nova Orleans

Nem parecia que Cruzeiro e Atlético jogavam quando Elza Soares entrou no palco para estrear seu novo show, ‘My Soul Is Black’, em Belo Horizonte, encerrando o festival ‘I Love Jazz’. Alheias ao clássico mineiro, seis mil pessoas lotaram a Praça do Papa para conferir sua voz de trovão enfileirar clássicos do jazz, como ‘What a Wonderful World’, ‘Summertime’ e ‘Cry Me a River’. Com direção musical do guitarrista Victor Biglione, o show revela o rascunho do que será o próximo CD da cantora, primeiro mergulho exclusivo no ritmo norte-americano.

“Desde que comecei a cantar samba, eu improvisava como uma jazzista e nem sabia. A lata d’água na cabeça tem muito a ver com o jazz”, decreta Elza. “Estou em uma fase de imersão total no gênero, que ouço 24 horas por dia. Meu marido já está chamando o Chet Baker de Chato Baker”, diverte-se, referindo-se a Bruno Lucide, de 27 anos, empresário da cantora e 46 anos mais novo.

Com o supergrupo que a acompanha na empreitada — além de Biglione, conta com o soprista Nivaldo Ornelas, o baixista Sérgio Barrozo e o baterista Victor Bertrami —, Elza fez três ensaios na Casa Rosa, em Laranjeiras. “Quero mostrar meu ecletismo. Com essa voz que Deus me deu, dá para passear por diversos estilos”, descreve a cantora.

Enquanto Elza soltava a voz na capital mineira, a diretora Elizabete Martins colhia mais material para o filme que desde 2008 está preparando sobre a artista. “Ela é uma personagem riquíssima, que tem relação com o futebol, com o Carnaval e, agora, com o jazz”, define a cineasta.

Com o nome provisório de ‘A Voz do Brasil’, o longa deve ser lançado em novembro de 2011. Elza, porém, ainda não aprovou o título. “Tem muita voz nesse Brasil”, descarta. LSM

quinta-feira, 29 de julho de 2010

'Chico Buarque canta mal': heresia

Quem nunca ouviu blasfemarem a heresia que Chico Buarque canta mal? Definitivamente, tal afirmação trata-se de uma ignorância e não procede. Esclarecendo, o Chico, na verdade, tem uma voz estranha e um jeito de cantar que parece ruim, mas não é ruim, não. Ele é afinado e divide muito bem as palavras. Existem, claro, outros artistas incríveis que realmente não precisavam cantar. Carlinhos Brown, por exemplo. É um gênio, mas... não precisa cantar. Grava disco com Sérgio Mendes, com Tribalistas, registra até uma ou outra música cantando, mas não dá pra lançar um disco inteiro assim. Da mesma forma o grande Egberto Gismonti, que particularmente adoro, mas... não precisa cantar. O Herbert Vianna é outro que também canta mal, mas deu uma puta sorte de ter encontrado dois musicos muito fodas, o João Barone e o Bi Ribeiro. A voz dele só funciona na banda. Em carreira solo, lançou três discos solo e nunca vingou. LSM

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Samba esporte fino

Ela é branca, nasceu em Natal, mas tem cara de moradora da Zona Sul do Rio. Isso tinha tudo para não dar samba. Mas deu. Roberta Sá, que sempre flertou com o gênero como uma sambista moderninha que mistura toques de hip hop (por causa dos scratches em algumas músicas) e tropicalismo, se entrega como nunca ao estilo em ‘Quando o Canto é Reza’ (Universal/MP,B), CD que coassina com os chorões do Trio Madeira Brasil.

“Não me considero uma sambista, mas é o mais perto que cheguei do gênero”, classifica a cantora, sobre o disco que reúne exclusivamente composições do badalado baiano Roque Ferreira em intrincados arranjos das cordas do trio de violões e bandolim.

(foto: Luiz Lima)

Fruto de um trabalho de pesquisa musical, é provavelmente o mais hermético lançamento de Roberta Sá. “O Pedro (Luís, seu marido e produtor do CD) perturbou para a gente colocar coisas mais conhecidas no repertório”, conta ela, revelando desapego em relação a soar pop neste trabalho.

O resultado final ficou fino, daqueles mais indicados para serem ouvidos em teatros que em bares com música ao vivo, disputando decibéis com garçons, cochichos e entra e sai na plateia. “As pessoas perderam o hábito de assistir a shows sentadas”, lamenta Roberta. “Hoje, o público está mais para o ‘kit noite completo’: você sai, toma uma cerveja, ouve uma música e dá umas piscadelas”, enumera, para emendar rapidamente: “Bom, quanto às piscadelas, eu não faço mais isso, não”, conclui, às gargalhadas. LSM

quarta-feira, 21 de julho de 2010

'Eu gosto é de mulher', garante Luan Santana

Um boato vem ganhando tanta força quanto o crescimento da fama do jovem cantor sertanejo Luan Santana: o de que ele é gay. A onda tomou vulto quando a imagem de um suposto bate-papo entre a estrela da mais nova categoria do estilo — o sertanejo universitário — e um fã identificado como Cião vazou na Internet.

No diálogo, Luan declara que seu interlocutor “é muito bonito” e que o “coração vai na boca”. No camarim de uma arena de rodeios na pequena e pacata cidade de Sertãozinho, no interior de São Paulo, prestes a entrar no palco para mais um show diante de milhares de pessoas, Luan Santana faz questão de desmentir os rumores amplificados no mundo virtual: “Não sou gay e gosto é de mulher! Aquilo é uma montagem que alguém fez com uma foto que eu tirei com a câmera do meu laptop e coloquei no meu site”, garante o fenômeno popular.

Luan Santana credita a história sobre o suposto homossexualismo ao ciúme alheio, que pode ter origem nos namorados das fãs que perdem a linha em seus shows. “A maldade está em qualquer lugar. É sinal de que estou incomodando”, avalia o ídolo das adolescentes.

O sucesso de Luan não perturba apenas os namorados raivosos. O resistente público carioca demorou a liberar suas praias para o jovem cantor — que já arrastava multidões Brasil afora — fincar sua bandeira. “Eu não entrava no Rio, acho que pela raiz no samba. A galera curte também o funk da favela, mas a música sertaneja mudou os arranjos e, com uma levada mais pop, estou conseguindo crescer cada vez mais”, comemora.

Há também quem torça o nariz para a onda do sertanejo universitário, dizendo que é uma mistura barata de axé, forró e rock. “Essas pessoas que criticam falam sem pensar. Quem curte sertanejo tem que gostar de ele estar sendo renovado”, decreta Luan. LSM

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Wilson das Neves é outro nível

Até a Teresa Cristina, a Roberta Sá, o Diogo Nogueira, o Pedro Miranda, o Marcos Sacramento, o Moyseis Marques, o Casuarina, hão de concordar que o samba do 'professor' Wilson das Neves é outro nível. A nova geração do gênero no Rio, apontada principalmente como cria recente da Lapa, tem lá sucessos particulares em seus CDs. Mas, na hora de segurar seus shows, o que se vê muito comumente nos set lists - no boêmio bairro carioca ou além - é a busca ao repertório de canções já alçadas ao status de clássicas. É difícil, de uns tempos para cá, um nome do samba cometer um disco bom, interessante e relevante do início ao fim. Há tempos não era lançado um desses, mas Wilson das Neves fez, em 'Pra Gente Fazer Mais Um Samba'.

Do público jovem atraído pelo samba, tanto lapeiro quanto da Zona Sul, principalmente, Das Neves vinha se aproximando através da Orquestra Imperial, da qual é integrante. No show da moçada capitaneada por Kassin e Berna Ceppas, o veterano promove alguns dos momentos altos com seu repertório. Pegada que mantém neste novo lançamento solo, atemporal, para apreciadores de todas as idades, da abertura com a música homônima à faixa 13, 'Velha Guarda do Império'.

O mestre, carteirinha 001 da banda de Chico Buarque (que costuma dizer que não é Wilson quem toca para ele - ele, Chico, é quem canta para o baterista), um dos grandes nomes da bateria no Brasil, se dá ao luxo de passar as baquetas para outro fera, André Tandeta. Tira onda de cantor e compositor. João Carlos Rebouças (piano), Vitor Santos (trombone), Don Chacal (percussão), Zé carlos "Bigorna" (saxofone), Zé Luiz Maia (baixo), Jorge Helder (violão) e Claudio Jorge (violão) completam o time de feras que gravaram no disco. E nas palavras musicadas e cantadas por Wilson das Neves não tem blá-blá-blá. Dez coassinadas com Paulo César Pinheiro e, como se não bastasse, outras parcerias com ninguém menos que Arlindo Cruz e Nei Lopes. Luxo. “Ô sorte!’. É outro nível. LSM

* Crítica originalmente publicada no site Laboratório Pop: http://www.laboratoriopop.com.br/criticas/cd//310