terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Clube da Esquina carioca

Na verdade, não é em uma esquina, mas bem no meio de um quarteirão na rua Martins Ferreira, em Botafogo, mais especificamente no número 48. Porém, é ali que reside, desde quinta-feira, um pedacinho do famoso Clube da Esquina de Milton Nascimento. Filho de Beto Guedes, um dos pioneiros do tal “clube” mineiro, Gabriel, 35 anos, abriu, no endereço onde funcionou por anos o Espaço Cultural Maurice Valansi, uma filial do bar Godofredo (homenagem ao avô, um notório compositor de choros), sucesso há quatro anos no boêmio bairro Santa Tereza, em Belo Horizonte.

“Vai uma pinguinha aí?”, convida o anfitrião, esbanjando mineirice, assim que chega nossa equipe (ainda eram 11h da manhã, registre-se). “Entre outras marcas, tem aqui uma cachaça especial do norte de Minas, Viriatinha, que é pau a pau com as melhores”, destaca.

Além das opções etílicas e gastronômicas que remetem a Minas Gerais, é claro que o prato principal do Godofredo é a música. Com instalações temáticas do Clube da Esquina e repleto de instrumentos pendurados pelas paredes, assim como sua matriz em Belo Horizonte, o espaço é um convite à canção.

“Vai ser exatamente como é lá!”, garante Gabriel, que, no meio da noite, costuma surpreender os clientes ao tocar clássicos de seu pai no piano em uma canja não-programada. “A ideia é, quem quiser, pegar um violão, um sax, um trompete, um baixo ou sentar ao piano (tem um de cauda bem no meio do bar!) e fazer um som. O Milton Nascimento é meu padrinho, e ele sempre disse que o lance legal do Clube era a amizade. E eu mesmo já estou fazendo uma rede de amigos músicos no Rio”.

Entre esses novos chapas, está Daniel Jobim, neto do Tom, atração de sexta-feira no Godofredo. “Estou em um ‘ping-pong’ danado entre Belo Horizonte e o Rio. Aluguei um apartamento no Humaitá, mas ainda conheço pouco a cidade. Ao menos, já aprendi onde é o Túnel Rebouças e como chega na casa do Daniel, em Ipanema”, diverte-se Gabriel Guedes.

Aos sábados, o bar convida músicos da nova geração e, aos domingos, o palco está aberto. Entre os nomes já programados estão Toninho Horta, Milton Nascimento, Yuri Popoff, Hamilton de Holanda e Beto Guedes. O pai de Gabriel, inclusive, é o principal responsável por despertar a paixão do filho pelo Rio. “Eu amo essa cidade! Desde criança, quando meu pai vinha tocar aqui. Lembro de ficar deslumbrado olhando as praias na Zona Sul e aqueles gramadões no Aterro do Flamengo”, recorda. “E aqui onde abrimos o bar, de lambuja, ainda tem a vista do Cristo ali do lado”, comemora.


E, atestando a emblemática frase da música ‘Clube da Esquina 2’, que diz que “sonhos não envelhecem”, Gabriel antecipa, entusiasmado, seus próximos projetos: “Depois de estabelecer o Godofredo no Rio, quero montar um em São Paulo. É importante manter vivas as músicas do Clube da Esquina”, decreta.

GOSTINHO DE MINAS
Para a empreitada no Rio, Gabriel Guedes está com mais três sócios: os também mineiros Pablo Curty e Ramon Curty, e o chef Renato Costa, único carioca da equipe. É ele quem assina o cardápio com influências da cozinha mineira, apresentando pratos que mesclam o tradicionalismo dos ingredientes das fazendas com a cozinha contemporânea.


“Acho que o carro-chefe do Godofredo vai ser o pastelzinho de angu, que é uma coisa que não se vê muito aqui no Rio”, elege Renato (serão seis unidades, nos sabores couve com torresmo e bacon; palmito com tomate seco e cheddar; e frango caipira com requeijão, por R$ 15,90). O chef foi professor de gastronomia em Sidney, na Austrália, e serviu até a estrela do cinema Nicole Kidman.

“Outros destaques, acredito que serão a carne de panela na cerveja preta (R$ 31,90) e a panceta de porco (R$ 32,90), que em Minas é chamada torresmão de barriga. É a tradicional panceta assada, mas com molho de tamarindo”, descreve. LSM (fotos Felipe O'Neill) 

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Secos, molhados e brigados

Parece que um gato preto cruzou o caminho do grupo Secos & Molhados, um dos mais importantes e populares da história da música brasileira. Logo após o imenso sucesso, no início dos anos 70, o trio formado por Ney Matogrosso, João Ricardo e Gerson Conrad se desfez tão rápido quanto despontou ao estrelato. E, desde então, disparam cobras e lagartos uns contra os outros, João de um lado, Ney e Gerson do outro. Este último acaba de lançar sua versão da história da banda no livro ‘Meteórico Fenômeno — Memórias de um ex-Secos & Molhados’ (editora Anadarco, 135 págs., R$ 56).

“O João Ricardo é patético: já declarou tantos absurdos contra mim e contra o Ney que achei por bem escrever uma visão tranquila e amadurecida do que vivi. Durante os anos, muita coisa foi deturpada por essas declarações do João Ricardo. É um desrespeito ao público que tanto nos cultua até hoje”, desabafa Gerson Conrad.

O livro traz ainda um CD, com duas músicas recentemente gravadas pelo autor: a clássica ‘Rosa de Hiroshima’, que ele fez para a poesia de Vinicius de Moraes, mas nunca havia cantado, e ‘Direto Recado’, uma mensagem ao seu desafeto em forma de canção (“Em boca fechada não entra mosquito e também não gera conflito”, “Talvez fosse melhor deixar que vivesse o mito” e “Já não temos mais que ser nem secos, nem molhados” são alguns trechos da letra).

Apesar de fartamente ilustrada, a publicação não traz João nas fotos históricas. “Ele negou o uso de imagens, mas, se você entrar no site do Secos & Molhados que ele fez, eu posso aparecer nas fotos ao lado dele. É uma pobreza de espírito total”, decreta Conrad.

João Ricardo afirmou que o ex-colega “valorizou muito sua participação no grupo, coitado. Nunca tocou bem”. “Mais uma vez, ele foi desrespeitoso comigo”, lamenta Conrad. “Ele só não percebe que a formação mágica e reconhecida é a que eu participei. Das outras, ninguém sequer se lembra. Foi um encontro mágico. O Secos é comigo e com o Ney!”.

Gerson Conrad e Ney Matogrosso, no lançamento do livro

Apesar de os três artistas estarem aí vivos e saudáveis, parece que ainda é muito difícil que o trio volte a se reunir, mesmo que em uma ocasião especial apenas. “Já me ofereceram R$ 5 milhões para isso! Mas o João quer ser sozinho o pai da história”, descarta.

E a tal questão, tratada inclusive no livro, sobre o grupo norte-americano de rock Kiss ter imitado as maquiagens do Secos? “Até hoje, ninguém tem a resposta da verdade. Quem me dera toda polêmica fosse leve como essa!”, diverte-se Conrad. LSM