quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Heróis da guitarra se reúnem

O Brasil, dizem, é o país do futebol, mas também é o país da música, tamanha a quantidade de talentos por aqui. E não é exagero atestar que o Brasil é um país de guitarristas. Neste sábado, dez dos principais nomes nacionais do instrumento vão se reunir na Praça Duque de Caxias, em Belo Horizonte (MG), para a primeira edição do evento gratuito ‘Tributo Ao Brasil Guitarras’, braço do tradicional ‘Jazz Festival Brasil’ da capital mineira e que se estenderá, em 2014, às cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Salvador.

Andreas Kisser, Armandinho Macedo, Lanny Gordin, Edgard Scandurra, Frank Solari, Toninho Horta, Kiko Loureiro, Luiz Carlini, Marcelo Barbosa e Pepeu Gomes (foto) formam o time dos sonhos que vão se apresentar por lá, das 17h às 22h. “No final, os dez vão subir juntos no palco para tocar o Hino Nacional e ‘Aquarela do Brasil’. A ideia é transformar o evento em uma turnê”, detalha Leo Soltz, produtor do ‘Tributo Ao Brasil Guitarras’. “É difícil definir quais os nossos dez maiores do instrumento, mas acho que esses nomes são bem representativos”. LSM

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Eu vi rock no Rock In Rio

Rock in Rio sim, outro também, a grita dos descontentes começa tão logo se anuncia a realização da próxima edição: “Como pode um evento que se chama rock não ter rock na programação?”. Eu fui. E vi muito rock por lá, acredite. Vi guitarras em brasa nos shows de Vintage Trouble, Living Colour, Autoramas + BNegão (este, uma porrada sonora), Marky Ramone, Detonautas tocando Raul Seixas, Offspring, dos portugueses Aurea + Black Mamba (uma blueseira danada), isso no Palco Sunset, onde passaram ainda Nando Reis e Samuel Rosa. Sim, o que eles tocam é rock. Há quem diminua, classificando de ‘pop’, mas ‘pop’ é só uma redução de ‘popular’, não um gênero musical. Por isso, Capital Inicial e Jota Quest (sim, o Jota Quest) também representaram o rock no festival (verdade que este ano não fizeram algo que se possa dizer “uau, que show incrível!”).

Bruce Springsteen

Mais tímido, o rock pulsou também no Palco Mundo: no tributo a Cazuza, no 30 Seconds To Mars, na Florence And The Machine e no Muse. Também teve guitarradas na Rock Street. Ah, sim, teve Beyoncé, Ivete e Timberlake, mas é bom que seus fãs tenham a chance de conhecer os roqueiros que por lá tocaram. Quem sabe não mudam de tribo? Há outros festivais monotemáticos ao rock, mas o Rock in Rio sofre por ter declamado o nome do rock em vão. Fosse Music in Rio, algo assim, quem sabe os roqueiros estariam comemorando a vinda de Rob Zombie, Ben Harper, Donavon Frankenreiter, Alice In Chains, Matchbox Twenty, Nickelback, Metallica, Bruce Springsteen e Iron Maiden. Sem falar em Frejat e Bon Jovi, que, vá lá, são ‘pop’, mas no fim das contas são personagens do universo do rock brasileiro e mundial.

Iron Maiden

Ah, mas esses artistas não estão entre os seus preferidos? Faltam medalhões? Cadê o AC/DC? Meu lamento é mais pela falta não dos dinossauros, mas de novos nomes fortes. As bandas que vêm surgindo não têm a potência das antecessoras e, com o trono vago, outro rei inicia seu reinado. Como oportunamente questionou um amigo, o produtor fera Paulo Lopez, qual banda de rock (nova) é uma unanimidade (como foram Stones e Nirvana) e faz a cabeça dos jovens? Qual estrela do rock é a sensação nacional? Qual é o grupo mais famoso do mundo? Que conjunto nacional ou internacional representa essa geração? O rock precisa de uma grande banda, ou uma geração delas, que ultrapasse as barreiras das rádios, chegue à população e não se restrinja ao circuito elitizado ou do underground. O rock precisa de juventude, o rock sempre foi jovem, mesmo feito por velhos. LSM

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Volta por cima

O mundo do samba está em festa, afinal, Beth Carvalho está de volta aos palcos. Foram quase dois anos com longos períodos internada por conta de um sério problema na coluna: uma fissura no sacro. Amanhã, no Vivo Rio (mesmo palco onde fizera o último show, em maio de 2012), ela vai cantar sentada (“Um monte de gente faz show sentado, o Caetano, o Ivan Lins, o João Gilberto, qual o problema?”, questiona ela). Tudo bem, Beth! O que importa é que a voz está 100%. Em sua casa, a sambista, que se movimenta com a ajuda de um andador, conta que já pode fazer quase tudo. Até beber uma cervejinha?

“Já falaram que me viram muitas vezes bêbada na Lapa. Mas como, se eu não bebo? É que acham que cerveja e samba estão sempre juntos, mas eu tomo no máximo champanhe, sou fina”, diverte-se ela.


Sorrisão no rosto, nem parece que a barra pesou nesses tempos em cima de uma cama, em casa e no hospital Pró-Cardíaco, em Botafogo.

“Recuperação de coluna é lenta mesmo, são meses de antibiótico na veia. Até parafuso eu coloquei, tenho falado que virei mulher biônica”, brinca, sempre com um baita bom humor. “Ninguém imaginaria que seria tão longo, a medicina é mesmo uma ciência inexata”.

Registre-se que a estada no hospital teve seus momentos de festa, conforme ela mesma descreve: “As visitas eram diárias, tinha até que fazer escala! Aquele hospital nunca mais será o mesmo. Eu fiz de um tudo lá: roda de samba, feijoada, festa de Natal, debate político, gravação e até o Grammy Latino me entregaram lá”, relata, orgulhosa da estatueta por ‘Nosso Samba Tá Na Rua’, seu disco mais recente.

O programa de televisão ‘Esquenta’ também não será o mesmo. A participação de Beth na atração comandada por Regina Casé na Globo (que vai ao ar dia 22) causou.

“Levei duas enfermeiras lindíssimas do Pró-Cardíaco para sambar lá. Arlindo Cruz e Mumuzinho ficaram babando e foi um tal de todo mundo querer ficar doente”, conta ela, que ainda tem que passar por duas sessões semanais de fisioterapia, às terças e quintas. “Tenho que me forçar a fazer mais vezes”, admite.

SAMBA NA RUA 
A apresentação de amanhã, dia 7 de setembro, Independência do Brasil (“Será comemorada a minha independência também!”, sentencia ela), vai focar no CD ‘Nosso Samba Tá Na Rua’, mas, claro, também vai passear pelos sucessos da carreira. “Vamos fazer aquele Carnaval no final”, promete.

Apenas uma música inédita estará no roteiro: “Se chama ‘Parada Errada’, é do Serginho Meriti. Fala de uma mãe que tem um filho viciado em crack. É um samba triste”, classifica. “Acho importante falar disso, visto que o samba sempre teve também esse viés político. Essa geração que está aí deveria ser a geração dos Cieps, mas é a geração do crack”, ressalta ela, lembrando os Brizolões, projeto educacional idealizado pelo antropólogo Darcy Ribeiro.

Ah! A apresentação também terá uma participação especial. A cantora Lu Carvalho, sobrinha de Beth, vai apresentar ‘Devotos do Samba’ e ‘Alma Boêmia’, músicas de seu recente CD, ‘O Samba Que Eu Sei’.

SAMBISTA GUERRILHEIRA
Beth Carvalho decreta: “O samba é revolucionário, contestador e democrático”.

Ela declara que acredita no socialismo e, na entrada de seu apartamento, logo se vê um enorme quadro do argentino-cubano Che Guevara. Não dá para não perguntar a ela como bateu a polêmica decisão do governo federal de importar milhares de médicos cubanos para o Brasil.

“Cuba sempre fez esse tipo de trabalho, inclusive nos Estados Unidos, onde eles vão lá ajudar os americanos pobres. Sabe quem está no Haiti agora? Os médicos cubanos. Quando tivemos a primeira ameaça de dengue hemorrágica aqui, eles também vieram. O programa Médico de Família foi implantado em Niterói com médicos cubanos”, observa ela. “O que acontece é que a direita aqui está enlouquecida, ainda não se conforma com a Dilma estar na presidência.”

Por conta do nome do CD, ‘Nosso Samba Tá Na Rua’, e da capa, que traz uma foto que inicialmente foi pensada para sugerir uma passeata, ela brinca e dispara que foi pioneira dos movimentos nas ruas que tomam o país desde junho — o disco saiu em 2011, registre-se.

“Eu sou da geração da passeata, sempre fui. Fico feliz que os jovens estão voltando a se interessar por política. Houve uma lavagem cerebral muito grande na juventude durante anos”, denuncia. “O plebiscito pela Reforma Política sugerido pela Dilma é, no meu ver, a grande saída para essa história. O Congresso não quer transparência, mas eu ainda tenho esperança de que o plebiscito vá acontecer.” LSM (fotos João Laet)

domingo, 1 de setembro de 2013

Quando a MPB marcou um X

Caixa com discos oitentistas de Xuxa escondem músicas de Frejat, Marcos Valle, Rita Lee e outros


Xuxa conquistou (muito) dinheiro, amigos, amores, negócios, uma beleza física que resiste ao tempo e vários discos de ouro. Só não conseguiu reconhecimento da crítica como cantora. O curioso é que, nos créditos dos sete álbuns que lançou entre 1986 e 1992 — reunidos agora no box ‘Coleção Xou da Xuxa’ — é possível achar vários nomes que ajudaram a fazer alguns dos mais preciosos clássicos da MPB ou do pop nacional.

“Sempre procurei me cercar dos melhores profissionais, mas normalmente os fãs não costumam ler os créditos de quem compõe as músicas”, admite Xuxa.

Ela gravou músicas de Roberto Frejat, Marcos Valle, Rita Lee & Roberto de Carvalho, Ronaldo Monteiro de Souza (parceiro de Ivan Lins em músicas como ‘Madalena’, eternizada por Elis Regina). “Não sei quem escolhia o repertório. Lembro que chegavam muitas músicas para eu colocar voz. As que combinavam mais comigo entravam”, lembra a Rainha dos Baixinhos.

Frejat emplacou ‘Garoto Problema’, parceria com um colega de Barão Vermelho, o baterista Guto Goffi, logo no primeiro ‘Xou da Xuxa’, em 1986. “Inclusive agradeço à Xuxa por ter gravado essa música, que foi encomenda do Guto Graça Mello (produtor)”, ressalta Frejat. “O Barão estava em baixa, com um disco cheio de problemas de prensagem (‘Declare Guerra’, de 1986). Essa música ajudou a gente e a Xuxa acabou tendo um papel importante na sobrevivência da banda”. No mesmo disco, Rita Lee e Roberto de Carvalho traziam o rock ‘Peter Pan’.

Responsável por ‘Vila Sésamo’, uma das trilhas sonoras infantis mais populares dos anos 70, Marcos Valle encerrou o ‘Xou da Xuxa 7’, de 1992, com ‘América Geral’, parceria com Max Pierre e Claudio Rabello pregando a união das Américas. “O tema foi ideia do Max, porque a Xuxa estava conquistando uma audiência de crianças fora do Brasil”, pontua Marcos Valle.

O campeão de hits na voz da cantora é Ronaldo Monteiro de Souza — coautor de músicas como ‘O Circo’, ‘Cobra, Chapéu e Palito’ e o sucesso ‘O Abecedário da Xuxa’ com amigos como Prêntice e Cesar Costa Filho. “Eu estava sem compor com o Ivan há décadas e tinha me desiludido com um projeto. Liguei para o Prêntice e propus mandarmos uma música para a Xuxa. Decidimos arriscar, pior do que estava não poderia ficar”, diverte-se o letrista, que ainda emplaca músicas em trilhas de novelas.

Deu liga a ponto da própria Xuxa, ele conta, ligar para pedir músicas à dupla: “Ela queria canções didáticas, aí mandamos ‘Abecedário’ e ‘Conte Comigo’, sobre aritmética”. Em 1990, veio ‘Boto Rosa’, que acabou até na voz de Milton Nascimento (o cantor participou de um especial dela). “Essa, pensei: ‘Ou a Xuxa se apaixona ou chuta longe’. Não era para a voz dela”.

Todas essas músicas estão no boxe, que destaca ainda um CD-bônus, ‘Seleção Fãs’, com curiosidades como sua gravação de ‘Garota de Ipanema’, de Tom Jobim. O disco deixou alguns fãs chateados pelo baixo número de faixas raras. “Não dá para agradar a todos. Mas o gosto, a vontade deles, está ali”, crê a apresentadora. Para a capa, Xuxa meteu-se no mesmo figurino e repetiu a pose do primeiro disco: “A foto foi tirada nos Estados Unidos quando eu era modelo. O disco foi feito em uma semana e a capa já deveria estar pronta. Só reparei que era um ‘x’ depois”. LSM e Ricardo Schott