quinta-feira, 26 de agosto de 2010

O novo Clube da Esquina

Filho de Beto Guedes e sobrinho de Lô Borges promovem encontros musicais inspirados em seus pais e uma nova geração de artistas mineiros se joga na canção

A poucos metros daquela lendária esquina do clube idealizado por Milton Nascimento, no encontro das ruas Paraisópolis com Divinópolis, do boêmio bairro Santa Tereza, em Belo Horizonte, uma nova geração de artistas realiza encontros musicais como os que geraram o mítico Clube da Esquina, no início dos anos 70. Capitaneados por Gabriel Guedes e Rodrigo Borges, filho de Beto e sobrinho de Lô, e baseados no recém-aberto bar Godofredo, de Gabriel, eles fazem história, fomentando uma nova cena musical mineira.

“Minas não tem mar, mas tem muito bar! Daqui já despontam nomes como Marina Machado, Aline Calixto, Thiago Delegado, Juliana Perdigão, Érika Machado e Tutuca Tiso (sobrinho de Wagner Tiso)”, enumera Gabriel, 32 anos, que lança seu segundo CD em novembro. “Na inauguração do Godofredo, tocaram meu pai, Lô Borges, Flávio Venturini, Marcio Borges, Ronaldo Bastos, Murilo Antunes, Tavinho Moura, o Clube da Esquina quase todo, foi histórico”.

Perto dali, o Marilton’s Bar, do pai de Rodrigo Borges, também catapulta novos talentos. “Diziam que Santa Tereza era a Liverpool brasileira. Isso está sendo resgatado, com bares que viraram ponto de encontro”, relata Rodrigo, 36, que dá à luz seu primeiro CD mês que vem.

(Rodrigo Borges e Gabriel Guedes / Fotos: Cirstiano Quintino)

Repleto de instrumentos, o Godofredo — homenagem de Gabriel ao avô, um notório compositor de choros — é um convite à música. Outro ‘sócio’ do Clube da Esquina, o guitarrista Toninho Horta toca lá todo mês e Lô Borges aparece sempre e não sai do piano.

Vocalista do grupo mineiro Jota Quest, Rogério Flausino está plugado nessa nova turma. “É uma molecada que sabe beber na fonte certa”, atesta. Outra cria de Minas, Fernanda Takai, do Pato Fu, também celebra a volta de Santa Tereza ao foco cultural: “O bairro foi reurbanizado, plantaram árvores, isso inspira”. Skank e Sepultura também surgiram por ali. “É uma área que respira cultura”, vibra Henrique Portugal, tecladista do Skank.

Beto Guedes e Lô Borges veem com bons olhos a empreitada dos herdeiros. “É uma maravilha a história querendo se repetir no mesmo quarteirão onde a gente tocava, cheio de pessoas talentosas, dedicadas à arte e com o mesmo DNA, colocando músicas na roda e vislumbrando uma carreira”, festeja Lô. Beto, inicialmente, se preocupou com o empreendimento do filho, mas depois ficou boquiaberto: “O Gabriel conseguiu mesmo juntar uma nova galera, muito bacana”.

Prova de que sonhos não envelhecem, essa nova geração já está aí. Fique ligado. LSM

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Só faltou o Cazuza no estúdio

Baterista Guto Goffi reúne a formação original do Barão Vermelho para compor e gravar uma música depois de 20 anos

Quando Rodrigo Santos lançou seu mais recente disco solo e juntou os integrantes do Barão Vermelho em uma faixa, a volta do grupo — em férias por tempo indeterminado desde 2007 — começou a ser cogitada. Mais burburinho que a reunião promovida pelo atual baixista da banda, porém, promete causar o primeiro CD do baterista e cofundador do Barão, Guto Goffi, que convocou a formação original (sem o Cazuza, claro) para compor e gravar uma música, ‘Olho no olho’. Frejat, Dé Palmeira, Maurício Barros e Guto Goffi não entravam em estúdio juntos há mais de 20 anos.

“Gravei 22 músicas, deve virar um disco duplo. Tem outras surpresas além desse resgate do Barão original, como algumas parcerias inéditas com o Rodrigo Netto (ex-guitarrista do Detonautas, que morreu tragicamente em 2006 após ser vítima de assalto no Rio). Não tenho a ilusão de que esse disco vá ser um sucesso, mas depois desses anos todos na estrada, eu precisava mostrar como é a minha concepção de música pop”, antecipa Goffi, que fez até aulas de canto para registrar ele mesmo os vocais.

Provando que a química entre os quatro músicos continua funcionando bem, ‘Olho no olho’ foi feita na hora, durante uma tarde no estúdio de Frejat, na Lagoa, a partir de uma letra de Guto Goffi. “Temos um entrosamento natural e a gravação fluiu superbem, dois ou três takes bastaram”, relata o baixista Dé Palmeira. “Contribuiu o fato de que dessa vez não estávamos na posição de artistas trabalhando sobre pressão de gravadora, rádio ou outro tipo de compromisso que não fosse a simples vontade de tocar juntos”.

Frejat também adorou a iniciativa do baterista de convidar os amigos de longa data para tocar, dar risadas e fazer o que mais gostam. “Uma coisa bonita na história do Barão é que todos que entraram e saíram continuam amigos”, conta o guitarrista.

A volta do grupo aos palcos, no entanto, ainda não tem previsão de acontecer. “O Barão Vermelho é um vulcão que vai entrar em erupção, mas é um vulcão grande, demora um pouquinho para acontecer”, filosofa Guto Goffi. “Em 2012, devemos comemorar os 30 anos do nosso primeiro LP com uma turnê”, anuncia. LSM

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O último CD do último romântico

Lulu Santos está lançando seu volume dois do ‘Acústico MTV’. O popstar, porém, se diz desencantado com os discos, ao mesmo tempo que vibra cada vez mais com as apresentações ao vivo. Esse novo CD pode ser o último de sua carreira.

“Fiz todos os álbuns que poderia ter feito. Essa peça anual obrigatória me parece desnecessária. Estou cada vez menos entusiasmado. Já o show nunca vai perder o valor, porque não se ‘downloadeia’ a presença do artista. Isso é algo que tende a ficar cada dia mais valorizado”, decreta o cantor, compositor e guitarrista. “O que está fora de moda é a ideia do suporte, seja vinil, CD ou arquivo digital. Para mim, a revolução no consumo de conteúdo é a TV digital, onde se pode até pausar transmissões ao vivo. E mais: ali se arrecada direitos autorais e disso não abro mão”.

No som, a modernização do hiperconectado Lulu Santos agora vai ao encontro das raízes. “Quero andar em direção ao jongo da África, é a minha tentativa de reinvenção, através de uma volta às origens”, anuncia o ‘rei do pop nacional’. O rótulo majestoso, aliás, Lulu faz questão de descartar. “Nunca fui o vendedor de disco popular, que a todo lançamento se espera que faça aquele número absurdo”, define.

No embalo das recém-anunciadas datas para a realização da próxima edição do Rock In Rio, em setembro de 2011, Lulu Santos faz uma reavaliação de seus shows na primeira edição do festival, em 1985. “Não fui bem naquele ano. Gostaria de tocar no evento de novo, para acabar com essa sensação ruim que ficou. Na ocasião, eu não tirei o que podia tirar de uma apresentação”, assume. LSM

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Arlindo Cruz ensina Frejat a tocar banjo e tira onda na guitarra

Era para definir o repertório do primeiro encontro no palco do roqueiro com o sambista, para um show na Fundição Progresso, mas Frejat e Arlindo Cruz só queriam falar de seus instrumentos musicais. “Vou comprar uma guitarra dessas e pegar umas aulas contigo”, diz Arlindo, no estúdio de Frejat, empunhando um modelo Telecaster da coleção particular do anfitrião ao mesmo tempo que ensina uns acordes em seu banjo ao amigo. “São basicamente as mesmas cordas de baixo da guitarra”.

(Foto: João Laet)

Frejat, enquanto entusiasticamente tenta tirar um som do instrumento do parceiro, enumera seus ídolos do samba. “Sempre gostei de ouvir samba, Paulinho da Viola, Cartola, Nelson Cavaquinho. Este, por sinal, era um cara completamente rock ‘n’ roll”, define, contrariando a declaração que lhe foi atribuída no filme ‘Cazuza’, no qual briga com o vocalista e decreta que “o Barão Vermelho não pode tocar samba”. “Colocaram isso na minha boca, justo eu que sempre dividi o gosto pelo samba com o Cazuza. É a única coisa que me incomoda no filme”, desabafa.

Arlindo Cruz, dedilhando escalas de blues e impressionando na destreza com a guitarra, enfileira seus roqueiros preferidos. Assim como Frejat em relação ao samba, seu gosto também passa pelos veteranos. “Não sou um ‘guitar hero’, sou um ‘guitarrero’. Gosto de Rita Lee, Renato Russo, Lulu Santos e, claro, Frejat e Cazuza”.

Na Fundição, Arlindo Cruz conta que vai focar sua parte da noite em seu ‘MTV Ao Vivo’, enquanto Frejat anuncia algumas surpresas, como um pout-pourri de clássicos da música soul brasileira, incluindo Tim Maia e coisas do gênero que o Roberto Carlos gravou.

Finalmente, a dupla define os números que vão dividir no inédito encontro. “Lembro que você gravou o ‘Malandragem Dá Um Tempo’, do Bezerra da Silva”, sugere Arlindo. “Ótimo, mas queria tocar alguma coisa de sua autoria também”, devolve Frejat. Arlindo, então, mostra ‘Dor de Amor’, imediatamente aprovada pelo guitarrista. “A gente se conhece desde o camarim do Chacrinha, mas nunca aconteceu de tocar juntos”, lembra Frejat.

Direção musical
O tempo não para e a reunião tem que terminar, porque os músicos Dadi (Novos Baianos, A Cor do Som) e Otávio Rocha (Blues Etílicos) chegam para ensaiar o show que Frejat vai dirigir no evento ‘Back2Black’, que celebra a cultura africana, na Estação Leopoldina. “Me senti desafiado com a missão de coordenar uma banda para acompanhar vários artistas, como Mart’nália, Elza Soares e os internacionais Vieux Farka Touré e Taj Mahal”, define. LSM

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

'Sertanejo universitário é uma coisa banal', avalia Almir Sater

Devagar e sem nenhuma pressa, como diz a letra de ‘Tocando em Frente’, sua música mais famosa. Assim é o violeiro, e ator nas horas vagas, Almir Sater. “Não tenho pressa de mais nada na vida. Eu vivo disso aí, de tocar pelo Brasil, além de ser um médio proprietário de uma fazenda de gado de corte, no interior do Mato Grosso do Sul”, conta o protagonista da novela ‘A História de Ana Raio e Zé Trovão’. “Sou músico, o negócio de ator foi só um bico”, define.

Na trama exibida em 1991 e reprisada desde junho com sucesso pelo SBT, Sater vive um mulherengo peão de boiadeiro. “O Jaime (Monjardim, diretor) estava encantado comigo e foi muito corajoso por colocar na linha de frente um violeiro recém-estreado na TV”, avalia o cantor, que tinha acabado de fazer ‘Pantanal’. “Só estou conseguindo assistir à novela agora, porque na época a gente ficava sem tempo e tinha um olhar muito crítico”.

O olhar crítico de Almir Sater ainda está lá, só que agora voltado para a música, sob seu inseparável chapéu. “Esse negócio de sertanejo ginasial, ou universitário, nem sei bem, vejo como uma coisa banal. Para me emocionar, tem que ter um pouco de arte. Sem arte, as coisas vão rapidamente se esfarinhar no ar”, prevê o músico.

O que não se esfarinhou no ar, definitivamente, é o badalado verso ‘Ando devagar porque já tive pressa’, um dos campeões de citação em frases de perfil no mundo virtual, do Orkut ao MSN. “Essa música faz parte da vida de muita gente. A letra do Renato Teixeira veio toda pronta, como se ele estivesse psicografando. Eu estava só tocando meu violão, ele recebeu essa mensagem e em dois minutos fizemos música e letra”, relata Sater, que no momento grava um disco com o parceiro dos velhos tempos. LSM

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Elza Soares faz a ponte entre o Rio e Nova Orleans

Nem parecia que Cruzeiro e Atlético jogavam quando Elza Soares entrou no palco para estrear seu novo show, ‘My Soul Is Black’, em Belo Horizonte, encerrando o festival ‘I Love Jazz’. Alheias ao clássico mineiro, seis mil pessoas lotaram a Praça do Papa para conferir sua voz de trovão enfileirar clássicos do jazz, como ‘What a Wonderful World’, ‘Summertime’ e ‘Cry Me a River’. Com direção musical do guitarrista Victor Biglione, o show revela o rascunho do que será o próximo CD da cantora, primeiro mergulho exclusivo no ritmo norte-americano.

“Desde que comecei a cantar samba, eu improvisava como uma jazzista e nem sabia. A lata d’água na cabeça tem muito a ver com o jazz”, decreta Elza. “Estou em uma fase de imersão total no gênero, que ouço 24 horas por dia. Meu marido já está chamando o Chet Baker de Chato Baker”, diverte-se, referindo-se a Bruno Lucide, de 27 anos, empresário da cantora e 46 anos mais novo.

Com o supergrupo que a acompanha na empreitada — além de Biglione, conta com o soprista Nivaldo Ornelas, o baixista Sérgio Barrozo e o baterista Victor Bertrami —, Elza fez três ensaios na Casa Rosa, em Laranjeiras. “Quero mostrar meu ecletismo. Com essa voz que Deus me deu, dá para passear por diversos estilos”, descreve a cantora.

Enquanto Elza soltava a voz na capital mineira, a diretora Elizabete Martins colhia mais material para o filme que desde 2008 está preparando sobre a artista. “Ela é uma personagem riquíssima, que tem relação com o futebol, com o Carnaval e, agora, com o jazz”, define a cineasta.

Com o nome provisório de ‘A Voz do Brasil’, o longa deve ser lançado em novembro de 2011. Elza, porém, ainda não aprovou o título. “Tem muita voz nesse Brasil”, descarta. LSM