sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Som na rua

Já faz um tempo, músicos, produtores e o próprio público vêm reclamando que o circuito de espaços para shows no Rio está diminuindo em ritmo acelerado. “Percebemos que estávamos tocando cada vez menos aqui. E sempre nos mesmos lugares, para as mesmas pessoas e ganhando pouco”, desabafa Bernar Gomma, guitarrista do grupo Beach Combers, um dos muitos que, na intenção de sanar tal problema, está partindo para as praças e calçadas da cidade. “Quando nos apresentamos na rua, conseguimos alcançar um público novo, com a vantagem de não depender de ninguém, só de nós mesmos. Chegamos no local definido, montamos o som e atacamos, simples assim”.

Beach Combers na Cinelândia 

Com as caixas dos instrumentos na frente aberta a contribuições dos passantes, nomes como Astro Venga, Tree e Dominga Petrona, além do Beach Combers, podem surgir a qualquer momento em locais como Aterro do Flamengo, Praça São Salvador, Praça General Osório, Posto 9 (da Praia de Ipanema), Praça Saens Peña, Cinelândia, Largo do Machado, Praça 15, Parque dos Patins, Rua do Lavradio, Largo da Carioca e até em cima da Pedra do Arpoador.

Astro Venga, no Largo da Carioca

“Para a alimentação dos amplificadores, usamos uma bateria comum de automóvel ligada a um inversor. Não divulgamos as apresentações de rua com antecedência pois tudo pode acontecer antes de chegarmos ao local e definitivamente montarmos o equipamento”, explica Mindu, baixista do Tree.

Por “tudo pode acontecer”, entenda-se uma chuva inesperada ou sofrerem algum tipo de repreensão (leia mais no texto ao lado). Mais que o dinheiro (“Tem dias em que se tira uma quantia razoável e outros em que só se ganha para pagar o transporte”, contabiliza Mindu), são as histórias divertidas que fazem valer a aventura. “Um cara chegou no meio do show pedindo para usar o microfone e chamar o filho dele, que havia se perdido. Como nosso som é só instrumental, não temos microfone, então encaminhamos o rapaz até a Secretaria de Postura. No final, o cara voltou e me abraçou, dizendo que iria nos dar mil reais, e fez”, comemora Guzz The Fuzz, baixista do Beach Combers.

Um dos primeiros grupos a se aventurar pelas ruas cariocas, o Dominga Petrona já fazia tais apresentações em Buenos Aires, na Argentina, onde a banda foi formada. E desde lá reúne casos pitorescos registrados nessas intervenções urbanas.

“A gente tocou perto de um escritório que pertencia ao Ministério da Cidade. Era meio-dia e, após a primeira canção, um senhor muito bem vestido e muito educado nos pediu para parar, porque estava atrapalhando uma reunião. Respondemos: ‘Por favor, deixe a reunião para outro dia e venha ouvir a banda’. O senhor entrou no prédio e, depois da segunda música, voltou, perguntando quantos discos a gente tinha para vender. Ele comprou 30 discos, mas perguntou: ‘Agora vocês param de tocar?’ Paramos, afinal, nunca mais vai acontecer de tocar só duas músicas e vender 30 discos!”, diverte-se o baixista Cristian Kiffer.

Dominga Petrona

No Posto 9, dois meninos de 10 anos emocionam tanto a plateia quanto os próprios músicos do Tree, quando se apresentam por lá.

“Eles sempre vêm tocar bateria nos intervalos do show e chamam a atenção de quem circula pelo local. É muito gratificante para nós, sobretudo porque um deles tem origem humilde e testemunhamos ali uma oportunidade de despertar um novo talento nessa criança”, comove-se Mindu.

Tree, no Posto 9

Na Praça São Salvador, os ambulantes fizeram uma vaquinha para presentear o Beach Combers. “E disseram pra voltarmos lá toda semana!”, festeja Bernar. “Volta e meia recebemos também bilhetes com diversos elogios e até com propostas indiscretas”, revela.

Secretaria de Ordem Pública diz que houve erro de agente 
De acordo com a lei municipal número 5.429, que dispõe sobre a apresentação de artistas de rua nos logradouros públicos do município do Rio de Janeiro, são permitidas as manifestações culturais de artistas em espaços públicos abertos, mas é preciso respeitar requisitos tais como volume, horários e não atrapalhar a circulação de pedestres.

No entanto, nas últimas semanas, Dominga Petrona e Tree reclamaram de repressão do poder público durante suas apresentações, no Largo do Machado e em Botafogo. Procurada pelo DIA , a Secretaria Municipal de Ordem Pública (SEOP) respondeu, através de sua assessoria de imprensa, que “houve um erro dos agentes, que já foram advertidos. Os artistas podem mostrar sua arte e até comercializar seus CDs, DVDs ou livros, a única coisa vedada a eles é cobrar ingresso”. LSM

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

‘Beijo gay na TV aberta já devia ter acontecido há muito tempo’

Vencedora do almejado prêmio Emmy — o chamado ‘Oscar da televisão’ — por sua carismática Dona Picucha do especial de fim de ano da Globo ‘Doce de Mãe’, que virou série exibida toda quinta-feira na emissora, Fernanda Montenegro fala aqui sobre a personagem e a premiação, além de passear por assuntos tão diversos quanto beijo gay, ‘Big Brother’, Copa do Mundo e a saudade do eterno parceiro, o ator e diretor Fernando Torres.

Agora é Emmy para lá, Emmy para cá... só se fala do Emmy, né? Parece até que seu sobrenome virou Fernanda ‘Emmy’ Montenegro... 
É, a vida é assim: perde-se um prêmio, mas aí depois ganha-se outro.

Você chegou a declarar, com a humildade que lhe é característica, que ganhar um Emmy ‘não muda nada’... é assim mesmo? 
Olha, claro que receber um prêmio dessa importância é algo a ser considerado por mim, sim. Entre todos os troféus que já ganhei, este é um dos mais importantes. Dá mais vontade de viver e, na medida do possível, alivia a vida, que ainda está boa.

Quando você diz “que ainda está boa”, soa algo pessimista... afinal, não podemos imaginar que a vida seja boa até o fim? 
Ah, claro. Eu realmente espero que a alquimia da vida me dê esta chance, de sentir que está bom para sempre!

O que tem da Fernanda Montenegro na personagem Picucha, essa senhorinha prafrentex? 
Se eu sou prafrentex ou ‘pratrazex’, quem convive comigo é melhor do que eu para avaliar... Mas, falando sério, acho que, de alguma maneira, sempre tem algo meu nas personagens que faço.

Para gravar ‘Doce de Mãe’, você tem ido diariamente ao Projac, em Jacarepaguá... É difícil essa rotina, de sair de Ipanema, com o trânsito que está na cidade atualmente? 
Só mesmo quem frequenta o Projac sabe o que significa esse deslocamento diário. E eu começo a gravar às 11h da manhã e só saio às 21h30 da noite, exausta.

Quando falamos em trânsito ruim, logo vem à mente o bordão ‘imagina na Copa?’ Você pretende ir a algum jogo? Já comprou seu ingresso? 
Não mesmo! Pretendo é viajar, porque as gravações acabam em março!

Notei que você, apesar de viúva, ainda usa aliança... 
Ah, mas essa aliança aqui é da personagem, a Picucha. Aprendi com a experiência que não adianta ficar usando joia quando você está atuando muito, porque tem que ficar tirando toda hora. Mas, ‘à paisana’, eu ainda uso aliança, sim, mas é só quando vou a algum evento fora do trabalho, o que é raro.

Você, que foi muito amada e amou muito, sente falta de um parceiro? 
Não, porque tenho meu parceiro ainda comigo, e vou ter para sempre. Construímos uma vida, em 60 anos juntos. Ele existe para mim em todos os momentos.

Já foi ventilada a informação de que você viverá uma homossexual na terceira idade, formando um par com a Nathalia Timberg... 
É, recebi o convite do (autor) Gilberto Braga para esse papel, mas nem tenho muito a acrescentar por enquanto, porque seria ainda para o ano que vem...

Mas qual é a sua opinião sobre o beijo gay na TV aberta? 
Nunca entendi essa demora. Já devia ter acontecido há muito tempo. No teatro, se beija muito na boca, mesmo pessoas do mesmo sexo. É um ato carinhoso, assim como poderia ser na testa ou na bochecha.

‘Doce de Mãe’ vai ao ar toda quinta-feira, depois do ‘Big Brother Brasil’... Você acompanha o reality? É uma daquelas pessoas curiosas em ‘dar uma espiadinha’? 
Olha, eu chego em casa tão cansada que nem tenho tempo... Não estou fugindo da resposta, não, é que depois de tomar banho e comer alguma coisa, o pouco tempo que me resta eu preciso assistir às notícias, ou, para relaxar, a alguma entrevista do Jô Soares ou da Marília Gabriela.

Você que já fez de tudo um pouco na TV, se fosse convidada a participar de algum tipo de reality show, toparia? 
Acredito que nunca passaria na cabeça de alguém me fazer tal convite! LSM (Foto Maíra Coelho)