terça-feira, 26 de junho de 2012

Filhos da Legião

Impedido de viver o pai no filme ‘Somos Tão Jovens’, sobre o início da carreira de Renato Russo, João Pedro Bonfá se junta a Nicolau Villa-Lobos na banda Big Nice


Estava tudo certo: Nicolau Villa-Lobos e João Pedro Bonfá fariam no cinema os papéis de seus pais, guitarrista e baterista da Legião Urbana, respectivamente. Quis o destino que, às vésperas do início das filmagens de ‘Somos Tão Jovens’, longa que estreia em 11 de outubro e vai contar os primórdios da Legião e de outros grupos de Brasília, uma infecção no braço tirasse o filho de Marcelo Bonfá da empreitada.

“Faltava só uma semana para começar a rodar e eu tive que ser hospitalizado. Eu pedi, insisti muito com minha mãe, mas ela não deixou”, lamenta, resignado, João Pedro, 24 anos, filho também da atriz Isabela Garcia.

Sem maiores problemas. Em seu lugar entrou um amigo, Conrado Godoy, ex-integrante de sua banda, a Big Nice, que acaba de ganhar um reforço: ninguém menos que... o próprio Nicolau Villa-Lobos. Então, se não vai ser no cinema, a união dos filhos legionários poderá ser conferida nos palcos.

“Eu já gostava do grupo. Aí, eles foram gravar no estúdio do meu pai, que se amarrou, e até deu várias dicas de guitarra. Eu fiquei lá junto, tentando acrescentar também. E quando saiu um cara da banda, eles me chamaram”, comemora Nicolau Villa-Lobos.

O quinteto é formado ainda por João Pedro Roche (guitarra), Dudu Sattamini (baixo) e Donato D’Angelo (teclado), todos com idades entre 23 e 25 anos. O nome Big Nice surgiu por acaso. “Era um boteco que nem sei se ainda existe, em Copacabana. Nunca fomos lá, mas o nome era maneiro”, explica João Pedro Bonfá.

O repertório mistura músicas próprias, clássicos do rock e, claro, Legião Urbana. “Nosso som é pop, mas não o pop do Skank ou do Jota Quest, que são grupos que respeito, mas não é o que a gente faz!”, define Bonfá. “Nosso pop é o de grupos como o Queen. Da Legião, devemos tocar ‘Soldados’ e ‘Tempo Perdido’”.

GERAÇÃO COCA-COLA
Além do repertório e do talento dos músicos, a Big Nice promete chamar a atenção por ter em sua formação dois filhos de ídolos de uma geração. A Coca-Cola, no caso. “Eu levo isso de ser filho de um integrante da Legião Urbana numa boa”, conta o herdeiro de Dado Villa-Lobos. “Na faculdade, uns amigos mais velhos piram, e vivem falando que são fãs do meu pai”.

CAPITÃO NASCIMENTO
Não dava para encontrar os filhos dos integrantes da Legião Urbana e não perguntar sobre a polêmica participação de Wagner Moura no recente Tributo à Legião Urbana, da MTV. Na ocasião, o ator e dublê de cantor dividiu opiniões sobre sua performance no vocal.

“O legal foi justamente o fato de ele não ser um cantor profissional. Era um cara neutro, mas que se entregou ali no palco como poucos poderiam ter feito”, defende João Pedro Bonfá.

Nicolau Villa-Lobos faz coro. “Burro é o cara que achava que ele ia cantar que nem o Renato Russo, que é um dos melhores cantores que já apareceram. A entrega do Wagner Moura foi total”, avalia. “Um momento emocionante aconteceu outro dia, quando fui almoçar com meu pai e adivinha com quem eu dei de cara na casa dele? Com o Capitão Nascimento!”.

Emoção forte viveram os fãs, no tal tributo à Legião, quando os músicos improvisaram no final um sucesso que não estava ensaiado: ‘Faroeste Caboclo’. “Fui eu quem disse que eles tinham que tocar essa!”, revela Nicolau. “Vi uma galera cantando os nove minutos da canção, do lado de fora do teatro, e sugeri que seria demais se rolasse. Em seguida, eles estavam lá no camarim relembrando os acordes”. LSM (fotos Luciano Oliveira)


DENTRO DO SET DE 'SOMOS TÃO JOVENS' COM NICOLAU VILLA-LOBOS:
“Filmar o ‘Somos Tão Jovens’ foi incrível! Até porque estudo Cinema, na PUC. Foram dois meses em Brasília e um em Paulínia, onde revivemos cenas reais, que aconteceram de verdade, como, por exemplo, o clássico primeiro show do Aborto Elétrico, que foi a banda que deu origem à Legião Urbana, na lanchonete Food’s, em cima de um caminhão. Também rodamos uma cena que foi um show da Legião na casa da família Lemos, dos irmãos Flávio e Fê Lemos, que acabaram formando o Capital Inicial. Fomos à própria casa onde os pais deles ainda moram.

Tinha muita gente jovem reunida, e ficamos todos do elenco muito amigos. No final de cada dia de filmagens, a gente ia para o hotel e ficava tocando e cantando clássicos da Legião Urbana. Como todo mundo entrou em uma mesma sintonia, tiveram momentos surreais. Parecia que a gente estava de fato revivendo a história, não apenas como atores. Quando voltei para casa, contei tudo para meu pai, que também se emocionou. Antes de filmar, eu usei ele como laboratório.

A cena mais emocionante, na minha opinião, é quando tocamos ‘Ainda É Cedo’. Nesse momento, o Renato Russo, vivido pelo ator Thiago Mendonça, reencontra sua melhor amiga, para quem ele fez a composição.

Posso garantir que ‘Somos Tão Jovens’ vai ser um filme extremamente musical. Todos os atores são músicos de verdade. A gente tocou quase 20 canções, sem nenhum playback. O som que vai ser ouvido no cinema é o que rolou de verdade lá na hora. Quem cuidou disso foi o Carlos Trilha, que é um superprodutor musical, e que, como se não bastasse, tocou na Legião Urbana”, por Nicolau Villa-Lobos.

Elas são Gabrielas

Quando vieram a esse mundo, elas não atinavam nada sobre o porquê de terem sido batizadas com o mesmo nome da personagem do romance de Jorge Amado, ‘Gabriela, Cravo e Canela’. Meus camaradas, a Gabriela vivida por Sonia Braga na primeira adaptação do livro para a televisão, em 1975, inspirou um sem-número de mães e pais a escolherem este nome para suas filhas. Elas nasceram assim, cresceram assim, são mesmo assim e vão ser sempre assim: Gabriela.

No embalo do atual remake com Juliana Paes à frente, fomos atrás dessas Gabrielas que reúnem pelo menos três décadas de histórias divertidas sobre a origem de seus nomes. “Minha mãe queria um menino. Como não veio, então ela, que se identificou com a personagem da novela, quis uma filha forte, que não fosse submissa, que tivesse fibra e personalidade”, descreve a secretária Gabriela de Oliveira (foto com o livro). “Agora, com o sucesso do remake que está no ar, vão nascer várias Gabrielas de novo”, aposta.


Integrante do badalado bloco Mulheres de Chico, a cantora Gabriela Buarque (foto na árvore) conta que seu nome foi escolhido na mesma Ilhéus onde se passa a trama. “Minha mãe estava grávida quando foi com meu pai à cidade baiana. Eles até visitaram as locações onde foi filmada a novela. E eu tenho mesmo esse traço da Gabriela, de correr atrás do que acredito. Isso se reflete até no lance de querer viver de música, que banco na cara e na coragem”, compara.

A identificação com a personagem não é uma unanimidade. “Curto a espontaneidade e autenticidade, mas não gosto dessa coisa meio ingênua dela”, descarta a designer Gabriela Ferraz (foto com o CD). “Minha mãe conta que a novela fez muito sucesso, e como ela é negra e meu pai branco, acharam que sairia uma menina morena e que o nome combinaria”, explica.

Nem todas, claro, têm a obrigação de gostar do nome. “Minha mãe é fã do Jorge Amado, mas me batizou com Anna antes, para eu ter a opção de querer ser chamada assim, e não de Gabriela”, considera a jornalista Anna Gabriela Lopes (foto com a flor). “Mas adoro meu nome!”.

Além de serem xarás, elas dividem o fato de sempre escutar o onipresente refrão da canção-tema de Dorival Caymmi, eternizada na voz de Gal Costa. “Toda hora me cumprimentam com o ‘Gabrie-e-la’ sonoro da Gal”, diverte-se Anna Gabriela.  LSM (fotos Felipe O'Neill)