sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Clássico dos anos 70 está de volta em LP

Cultuado até no exterior, ‘Maria Fumaça’, da Banda Black Rio, é relançado em seu formato original

Imagina o rei do soul norte-americano James Brown se jogando em uma roda de samba em Vaz Lobo, na Zona Norte carioca? É mais ou menos por aí o som da Banda Black Rio, que surgiu no subúrbio do Rio nos anos 70, época que a música negra tinha uma excelência muito grande. E o melhor exemplo dessa mistura única de jazz, funk e soul com ritmos brasileiros é seu célebre disco de estreia, o raro ‘Maria Fumaça’, de 1977, relançado agora em vinil de 180 gramas (com melhor qualidade de áudio) pela Polysom, gravadora de discos de vinil de Belford Roxo.

“Fomos tocar na Europa recentemente e lá eu vi vendendo um LP desses por 300 euros (cada bolacha nova da Polysom sai a R$ 79,90)”, espanta-se o tecladista William Magalhães, filho do fundador da banda, o saxofonista Oberdan Magalhães (a formação original se desfez quando Oberdan morreu, em 1984, em um acidente de carro). “É importante este LP estar novamente em voga, para conscientizar os brasileiros sobre a relevância desse nosso patrimônio cultural, que, infelizmente, é mais reconhecido no exterior”, lamenta ele.

Atualmente, é William quem toca a Black Rio e, à frente da nova formação fez muita gente chacoalhar com uma homenagem a James Brown no encerramento do festival Back2Black, no último dia 17. “Músicas do ‘Maria Fumaça’, como ‘Mr. Funky Samba’ e a própria faixa-título (que foi tema de abertura da novela ‘Locomotivas’, da Globo), a gente não pode deixar nunca de incluir no repertório”, ressalta o tecladista.

“A banda influenciou até grupos como o inglês Jamiroquai, que já declarou isso, e no hip hop quase todo mundo foi influenciado pela Black Rio”, derrete-se William, anunciando que vêm mais lançamentos por aí. “Fizemos um disco que saiu só la fora, o ‘Super Nova Samba Funk’, com Caetano Veloso, Gil, Seu Jorge e Elza Soares, que em 2014 finalmente vai ser lançado no Brasil”, comemora ele. LSM

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Você lembra, lembra?

É uma biografia autorizada, mas não é chapa branca. Quem garante é a jornalista Vanessa Oliveira, autora de ‘Tudo de Novo — Biografia Oficial do Roupa Nova’ (Editora Best Seller, 540 págs., R$ 50). “Eu falei para eles que iria escrever esse livro na raça, mesmo sem autorização. Até que, depois de seis meses insistindo com o empresário do grupo, eles finalmente me receberam e toparam participar”, conta Vanessa.

Na verdade, nem todos do sexteto viram com bons olhos o destemido projeto da autora. “Qualquer um ficaria grilado quando alguém que você não conhece diz querer  escrever sobre sua vida.  Nós mesmos já pensamos em escrever a nossa biografia, mas com essa vida tão enlouquecida de compromissos, isso se tornou impossível. Sentimos firmeza no trabalho da Vanessa e aceitamos dar depoimentos para o livro. Só o Serginho (Herval, baterista)  não curtiu”, ressalta Ricardo Feghali, tecladista do Roupa Nova. “Nós somos seis pessoas diferentes. Eu   gosto de estar perto da galera, sou o cara  que  bate papo, tira foto em todos os lugares, mas ele não gosta disso. O Serginho  prefere, e tem todo o direito a isso,  manter sua privacidade,  não gosta de ter  a vida   exposta, não gosta de estar em todos os lugares tirando fotos”.

Voto  vencido (“Na banda, salvo em  em situações como uma renovação de contrato, o que a maioria  decidir os outros têm que acatar”, explica Feghali), Serginho  não compareceu ao   lançamento de ‘Tudo de Novo’, este mês em uma livraria na Barra da Tijuca. “Não entendo, eles sempre foram muito certinhos. O único que teve problemas com bebida foi o (vocalista) Paulinho, e curiosamente, foi o primeiro a abrir as portas de sua casa para mim”, detalha Vanessa.

Esse lado ‘certinho’ do Roupa Nova, que isolou o grupo das manchetes sensacionalistas, teve um efeito colateral:  fez com eles colecionassem um punhado de críticas na imprensa — graças também a. Aliás, os embates deles com os jornalistas é histórico, e estão devidamente relatados na biografia. “Não usamos drogas, não somos pessoas enlouquecidas, daquelas que quebram tudo. Essas coisas que a imprensa acha que gera algum glamour  a gente definitivamente não tem”, define o tecladista. “Mas essa relação está mudando, já assumem que temos valor,  isso depois de 33 anos de carreira”.

Outras  tretas que rolaram durante a trajetória do grupo também estão lá, incluindo um mal estar até hoje não resolvido com Gal Costa — a cantora, inclusive, não deu entrevista para o livro. “A música ‘Chuva de Prata’  foi feita por Ed Wilson e Ronaldo Bastos para  entrar em um  disco do Roupa Nova. Quando o (produtor) Mariozinho Rocha ouviu,  falou era  a cara da Gal e que precisava dessa música para popularizar ela  no mercado. O Roupa Nova cedeu porque foi garantido  que ‘Chuva de Prata’ não seria música de trabalho, mas como o disco dela não estava vendendo,   tiveram que recorrer à música  e foi um sucesso”, explica a autora, e Feghali competa: “O Mariozinho também disse que sempre que alguém perguntasse, a Gal  diria que era uma música originalmente do Roupa Nova. Só que ela foi no  programa do Chacrinha e, mesmo quando ele a perguntou sobre a história da canção, ela sequer citou a gente. Nunca mais falamos disso, deixamos para trás”, lamenta ele.


A história da banda não acaba em ‘Tudo de Novo’. O Roupa Nova já tem  novos capítulos em  sua trajetória.  “No ano que vem vamos lançar um filme, vai se chamar ‘Todo Amor do Mundo’. Será  um documentário  contando nossa história  com diversas participações especiais”, antecipa Feghali.

O Roupa Nova acaba de liberar a caixa   ‘Roupa Nova Music’, com Roupa Nova — Nossa História’, com cinco DVDs e um EP trazendo seis músicas inéditas. Atenção: não confundir com a caixa de quatro CDs ‘Roupa Nova — Nossa História’, que a Sony, antiga gravadora deles antes de se tornarem independentes, lançou também este ano. “Isso foi o que chamo de vampirismo da gravadora. Sempre que a gente  vai  lançar alguma coisa, eles  lançam uma coisa parecida para competir e confundir as pessoas”, reclama Feghali, sobre este  lançamento  que, ao que parece, não seria autorizado pela banda. LSM

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Feira legal

Como Marcelo D2 se transformou de inimigo público no empresário bem sucedido, que abre lojas itinerantes e distribui produtos personalizados em quermesse montada nos shows de lançamento do novo CD

Quase nada pode parar Marcelo D2. Na entrada de um estúdio em Botafogo, um comboio 'bossanovístico' atravessa seu caminho e ali não tem jeito: ele para pelo menos uns dez minutinhos para celebrar afinidades com Marcos Valle, Carlos Lyra e Wanda Sá. João Donato saíra minutos antes, do ensaio para a gravação do DVD dela. "Pô, vocês têm que ir no meu show", convida Marcelo D2, que ensaiaria logo em seguida. "Estou lançando meu novo CD, 'Nada Pode Me Parar', e vou montar uma feira com rádio própria, tocando todas as pessoas que eu sampleei, entre elas você, Marcos Valle (o refrão 'É mentira...', na música 'Contexto' do grupo Planet Hemp, que D2 integrou, é chupado de 'Mentira', de Valle). E vai ter também a Barraca da Larica e brincadeiras como Acerte o Baseado Na Boca do D2", detalha, sem perceber uma cara de semiconstrangimento que toma Wanda Sá e Carlos Lyra.

Talvez mais acostumado com o entusiasmo legalizado de D2, Marcos Valle dá linha em um papo que termina com abraços calorosos dos quatro e o convite dela para que D2 também compareça ao show que fará com os amigos.

Já na mesa do boteco da esquina, entre um gole e outro de cerveja enquanto sua banda aperta as carrapetas dentro do estúdio para o ensaio começar, ele conta ainda que a tal Feira MD2 - Nada Pode Me Parar terá também  Playstations com jogos Fifa 14 (premiando com camisas e tênis) e Skate 3 (premiando com camisas e shapes Drop Dead), Print Gram (impressão de fotos diretamente do instagram para todos que postarem lá fotos do evento com a hashtag #nadapodemeparar) e as barracas Qualé A Música, Retrato Falado (que faz caricaturas do público em um cartaz 'Procura-se') e Acerte Os Felas (inspirado em uma música do disco novo, e premiando com latas de cerveja). Os brindes, que incluem ainda papéis para enrolar cigarros (a popular seda) e isqueiros, são todos personalizados com a marca MD2.

Afinal, como o ex-inimigo público número 1 (de quando foi preso com o Planet Hemp por cantar músicas que fazem apologia à maconha, em 1997) se transformou em um bem sucedido homem de negócios, sendo procurado para agregar valor a grandes marcas como Fifa e Nike.

"Quem me chamava de inimigo público eram delegados, juízes, políticos... agora é a vez deles irem para trás das grades", provoca, referindo-se às prisões do Mensalão. "Nasci em Madureira, fui criado no Andaraí, e vivi muitos anos na Lapa. Conheço tudo desses bairros e antes do sucesso eu fui camelô por muito tempo, cheguei a ter barraca no Catete, onde vendia muambas que trazia do Paraguai. Acho que sempre fui um bom vendedor. Vendi também em lojas de moveis no Catete, trabalhei no setor de guarda-chuvas da Mesbla (extinta loja de departamentos, muito popular nos anos 80) e em loja de roupas em Maringá, no Paraná. E recentemente abri duas 'pop-up stores' (uma espécie de loja itinerante) em São Paulo e Nova York, onde vendi produtos personalizados como roupas e acessórios, CDs, skates. É por isso que estou montando essa grande feira na nova turnê".

A inspiração para criar seus próprios produtos, recorda D2, veio do grupo norte-americano de hard rock Kiss. "Desde guri eu ficava fascinado com o fato de eles fazerem vários produtos com a marca da banda, desde bonequinhos até vibrador, que trazia na ponta a língua do Gene Simmons (o icônico baixista do Kiss, que se veste como o homem-morcego)", detalha, às gargalhadas. "Mas não vou chegar a esse ponto, pode ficar tranquilo", garante.

A despeito de todo o sucesso como empresário, Marcelo D2 não se considera um homem de negócios, e atesta que seu ramo é mesmo a música. "Eu acordo todo dia às três da tarde, não dá para ser executivo assim, né?", diverte-se.

NA ESTRADA
A turnê 'Nada Pode Me Parar' roda o Brasil até o fim do verão, quando parte para Paris e, de lá, para a Europa e Ásia, durante o verão do hemisfério norte, passando por 18 países.

"Eu fiz um clipe para cada uma das 15 músicas desse disco novo, mas até agora só mostrei três. Então, eu tenho ainda 12 clipes inéditos, que vou lançando durante a turnê. O próximo será da música 'Você Diz Que o Amor Não Dói', que gravei em uma favela de Angola, com rappers de lá, e vai sair já na semana que vem", antecipa D2.

MANTENDO O RESPEITO
Foi um baita transtorno a prisão com o Planet Hemp nos anos 90, mas hoje, olhando em retrospecto, Marcelo D2 orgulha-se de ter aberto portas para o diálogo na sociedade sobre a legalização da maconha: "As pessoas sempre quiseram associar a maconha ao marginal. Eu nunca roubei dinheiro de ninguém, nunca desviei verbas públicas. Acho que depois do Planet, as pessoas começaram a ver que o cara que fuma maconha também pode ser legal. Essa foi a aposta que eu fiz. E paguei o preço".

Perguntado se acredita que um dia ainda verá a maconha ser legalizada no Brasil, D2 hesita, pensa, balança a cabeça... e desconversa: "Para mim, já está legalizada há muito tempo!". LSM (foto: Fernando Souza)

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Os meninos do Il Volo discutem o tempo todo, mas se afinam no palco

Os jovens cantores do trio vocal italiano Il Volo vivem discutindo. Seja qual for o assunto, parece que coisa rara é concordarem. Para começar, Gianluca Ginoble (18 anos) torce pelo Roma, Ignazio Boschetto (19) pelo Juventus e Piero Barone (20), pelo Milan. As diferenças vão além dos campos de futebol e chegam até a música, e eles se atropelam um ao outro para defender seus pontos de vista. Quando o debate esquenta, deixam até o inglês e o espanhol de lado, idiomas que costumam recorrer muitas vezes para dar entrevistas internacionais, esquecem que estão diante de um repórter e terminam gritando entre si em italiano.

“Claro que é possível quebrar um copo emitindo uma nota bem aguda com a voz”, garante o tenor Boschetto, para logo ter que argumentar com Ginoble, que duvida dele.


Em sua estreia no Rio, esses jovenzinhos turrões levaram a sua ópera pop ao palco do Theatro Municipal do Rio, lançamento do novo CD e DVD ‘Más Que Amor’. Suas influências vêm da música clássica, tão rica em seu país e tudo a ver com o nobre palco carioca, mas a histeria das fãs que os acompanham seria mais apropriada para outro local, talvez uma Praça da Apoteose, visto que as meninas piram com seus rostinhos bonitos tal e qual com o Justin Bieber.

“Não somos boy band, não queremos ser comparados com o One Direction, como já aconteceu... não tem nada a ver”, decretam, finalmente concordando, quase em uníssono. “No nosso show, vão as adolescentes, mas também vão os avós delas, atraídos pelo aspecto erudito da nossa música. Fazemos um baita esforço para mostrar que música clássica não é só coisa de velho. Se uma melodia é boa, ela é boa para todas as idades”, completa Boschetto.

Eles não são comparados apenas às boy bands. Também os relacionam com os célebres Três Tenores: Plácido Domingo (com quem já gravaram), José Carreras e Luciano Pavarotti. Normal, embora no Il Volo sejam ‘dois tenores e um barítono’ — no caso, o Gianluca Ginoble.

MAIS BRIGAS
É a segunda vinda do trio ao Brasil. Em 2012, passaram apenas por São Paulo. Desta vez, incluíram no roteiro também Curitiba e Porto Alegre, além do Rio. “Queria uma semana livre para conhecer o Rio, mas não vai dar”, lamenta Ginoble. “Prometo, inclusive, que vamos gravar algo em português!”.

É um idioma que falta no currículo do trio. Os poliglotas incluem ainda alemão e francês na bagagem, sem falar nos já citados inglês e espanhol (‘Más Que Amor’, inclusive, é o primeiro álbum em espanhol deles) – e o italiano, claro. “Mas eu conheço música brasileira, adoro Tom Jobim, especialmente aquela que diz ‘só bailo samba’...”, entusiasma-se Ginoble, se arriscando a cantarolar a melodia de ‘Só Danço Samba’, de Tom e Vinicius de Moraes.

Piero Barone não deixa barato e enfileira os artistas brasucas que conhece: “Gilberto Gil, Renato Russo, me amarro!”, elogia... mas aí os três começam a discutir novamente, em frases em italiano que o repórter arrisca ter sido algo como “você nem sabe quem é Renato Russo, ta querendo impressionar...”. LSM