quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A dona do Rock In Rio

Empresária e aprendiz de baterista, Roberta Medina fala da experiência de tocar o festival criado por seu pai

Ela não é uma típica roqueira, mas até que fala do assunto com certa propriedade. “Toquei piano na infância e, mais recentemente, aprendi a tocar bateria. É muito difícil coordenar pés e mãos, mas comprei uma da marca Pearl e até que me saí bem! Sempre que tem solo de bateria nos shows, eu babo”, conta Roberta Medina, 33 anos e fã do Metallica. “Mas prefiro as baladas deles!”, ressalta, sobre o grupo de metal pesado que toca domingo no Rock In Rio.

(foto: Felipe O'Neill)

Hoje, na véspera de mais uma edição do festival, parece que tudo está como uma doce sinfonia. “As coisas estão acontecendo melhor do que esperava”, avalia Roberta. Mas a aprendiz de baterista teve mesmo que mostrar desenvoltura desde que o pai, o empresário e criador do festival, Roberto Medina, resolveu passar à herdeira o posto de ‘dono do Rock In Rio’. “Foi na edição de 2001, ele enlouqueceu: me colocou como coordenadora de produção sem eu saber nada do assunto. Foram nove meses sem vida social, só lendo contratos e acertando pagamentos”, descreve.

Até aquele ano, o evento para ela não era mais que um enorme parque de diversões. “Eu tinha 6 anos na primeira edição, em 1985. Lembro que me perdi no meio das obras, e gostava de brincar com aqueles óculos escrito ‘rock’ e de passar gel no cabelo. Já no segundo Rock In Rio, em 1991, o que eu queria mesmo era conhecer o New Kids On The Block”, recorda.

De lá para cá, Roberta Medina aprendeu muito mais que batucar em sua Pearl novinha. “Naquela época, os contratos traziam cláusulas inacreditáveis, como a que proibia o Ozzy Osbourne de comer morcego no palco. O Prince pediu 500 toalhas, que acabaram lá em casa, ficamos anos usando. O caso mais curioso que passei foi quando o Paul McCartney pediu para não venderem carne no festival, em Lisboa, o que acabei conseguindo contornar”, conta.

De tocar bateria a desenrolar com o ex-beatle, nada é impossível para a ‘dona do Rock in Rio’? “Ainda não consegui trazer o Robbie Williams para o festival. Foi o melhor show que já assisti!”, elogia.

Ah, Roberta, isso deve ser mais fácil que manejar baquetas e tambores: o cantor inglês suspendeu a volta com seu antigo grupo Take That e planeja uma nova turnê mundial. Dá para tentar escalar o moço para a próxima edição do Rock in Rio, em 2013. Que tal? LSM

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Sem medo do rock n’ roll

Atrações do axé e do samba não temem agressões dos fãs do som pesado no Rock In Rio

Em toda edição do Rock In Rio no Brasil, um artista sai do palco enxotado por roqueiros xiitas. O caso mais fresco em nossa memória aconteceu em 2001, quando Carlinhos Brown levou uma chuva de garrafas d'água. Em 1991, Lobão, apesar de um astro do rock, namorava com a bateria da Mangueira e foi metralhado por objetos voadores. A primeira edição do evento, em 1985, vitimou, veja só, o pioneiro do gênero Erasmo Carlos, que andava meio longe das guitarras. E nesta edição, que começa dia 23, quem será o alvo predileto dos metaleiros?

Fui atrás de atrações não roqueiras agendadas no festival para sondar o medo de um possível duelo com esse grupo de fãs radicais. A turma do axé e do samba jura que a ira dos roqueiros é coisa do passado. “Há tantas coisas que merecem de fato nossa reivindicação, como corrupção, impunidade, violência, preconceito... o jovem de hoje, com acesso à tantas informações, provavelmente não se permitiria vaiar o que faz bem ao outro, ainda que não lhe caia bem. No nosso Carnaval, por exemplo, a diversidade impera. São artistas do rock e do pop tomando conta dos trios e dos camarotes, então, por que não o contrário?”, questiona Claudia Leitte. Eu acho que há uma linha tênue entre não curtir a mistura de gêneros musicais e ser preconceituoso. Preconceito é algo tão medíocre... e cafona... Seja como for, há pessoas que se identificam e se juntam por causa disso. O Rock in Rio é o maior festival de música do mundo, e é nosso, brasileiro, não dá para perder tempo com miudezas”, decreta.

Ivete Sangalo concorda: “Acho que hoje o público brasileiro não só entende que o evento não é exclusivamente de rock, como agradece o fato de nosso País ser muito diverso musicalmente, opina VevetaEu tinha paixão pelo AC/DC e adoro bandas ainda mais pesadas, como Green Day e Foo Fighters, enumera a baiana, que vai cantar antes de Lenny Kravitz.

No mesmo dia, Martinho da Vila vai chegar devagar, devagarinho com seu samba, mas também garante não temer cantar no Rock In Rio. O panorama mudou. Hoje, o entrosamento entre um cara do rock com um cara do rap ou do samba é uma coisa normal. Eu, por exemplo, vou dividir um número com o rapper Emicida, conta.

Outro sambista, Diogo Nogueira faz coro: “Acredito que nessa edição os artistas serão muito bem recebidos. Na verdade, os caras mais cri-cri são minoria, e vão reclamar de qualquer jeito, independentemente da programação, classifica.

Sandra de Sá, que saracoteou muito com Cazuza, um roqueiro que abraçou o samba em sua música, resume a questão: “Rock é a catarse que acontece da comunhão com o público. Sendo assim, tudo é rock!, define.

ÁGUA MINERAL
Em 2001, Carlinhos Brown enfrentou o público impaciente que o recebeu com uma chuva de garrafas. Cantou a melodia do Hino Nacional, desafiando a preferência gringa da maioria da gurizada lá presente, e mandou o recado: “Pode jogar o que quiser que nada me atinge. Sou da paz! (...) Quem gosta de rock tem muito que aprender. (...) Agora, o dedinho pode enfiar no traseiro.

Hoje, o baiano se diverte ao relembrar o fato. Agradeço àqueles meninos, porque passei a ser mais conhecido depois deles. Eu não estava no lugar errado e nem na hora errada: fui parar em todos os jornais. Foi o melhor direito autoral do Rock In Rio!, recorda Brown. LSM

domingo, 11 de setembro de 2011

Tempero verde e amarelo no som dos pimentas vermelhas

Integrado ao Red Hot Chili Peppers, o percussionista catarinense Mauro Refosco conta que eles curtem Tim Maia e a música brasileira

Os milhares de fãs que lotaram salas de cinema por todo o Brasil — e ao redor do mundo — no último dia 30 para conferir o show de lançamento do novo CD do Red Hot Chili Peppers notaram um tempero brazuca na mistura de rap e rock dos caras. Na apresentação, transmitida via-satélite direto da Alemanha, o quarteto norte-americano aparece escudado por um percussionista, o catarinense Mauro Refosco, que vem colocando tintas verde e amarela no som dos pimentas vermelhas.

“Ainda não troquei muitas figurinhas musicais com eles, porque está uma correria danada com o lançamento do disco. Agora estamos no meio da turnê na Europa. Mas eles conhecem a nossa música. Outro dia, fui na casa do (baixista) Flea e ele estava escutando um CD do Tim Maia, e falou que também conhece Jorge Ben e Gilberto Gil”, conta Refosco.

Radicado em Nova York desde 1992, ele já colocou seus tambores a serviço de estrelas como Thom Yorke (Radiohead) e David Byrne (Talking Heads), além de ter gravado em ‘I’m With You’, novo álbum do Chili Peppers.

“Eles estão abertos para colocar um pouco mais de ritmo, com a percussão, porque pulsante o som deles já é. Acho que que me convidaram por isso. Quando Flea perguntou se eu queria gravar com eles, eu refleti... por meio segundo! E disse sim”, recorda.

Mauro Refosco vem batucar por aqui com seus novos amigos gringos no dia 21, em São Paulo, e no Rock in Rio, no dia 24. “A banda está supercontente de voltar ao Brasil, e eu vou ter amigos e família na plateia, além de tocar para uma plateia de brasileiros, o que, com certeza, vai ser muito emocionante”, vibra o nosso percussionista.

Hoje, Refosco está integradão ao dia a dia do Red Hot Chili Peppers. Mas, acreditem, o moço pouco sabia da carreira deles. “Só conhecia de escutar no rádio ou ver vídeos na TV, mas não tinha me aprofundado até ser chamado. Consegui a discografia e entendi porque a banda é tão respeitada. Acabei virando fã”, derrete-se.


(Refosco, entre Anthony Kiedis, Flea e Chad Smith. Foto: ClaraBalzary)

Por falar em fã, como é o assédio no camarim? A mulherada fica doida por vocês? “Rola um esquema de segurança forte. Tem uma área reservada aos convidados da banda e da equipe, que geralmente fazem uma social depois dos shows. Mas o assédio fora sempre rola, normal. Quando o Chad (Smith, baterista) chega a um hotel ou a um lugar que tem muita gente esperando pelo grupo, ele grita: ‘Olha o Flea ali gente!’. Daí todo mundo vai em cima do Flea, e ele sai de fininho”, revela Refosco.

CONEXÃO ÁFRICA-BRASIL
Os integrantes do Red Hot Chili Peppers se derretem pelo talento do músico brasileiro. Pelo Twitter, Flea disparou: “the great brazilian percussionist @mrefosco rocks like mad all over the new red hot chili peppers record ‘I’m with you’. Yeeeeeah mauro” (“o grande percussionista brasileiro ‘roqueia’ como um maluco em todo o novo disco do Red Hot Chili Peppers, ‘I’m With You’. Yeeeeeah mauro”). O vocalista Anthony Kiedis também é só elogios: “Nesse CD, ele é o quinto integrante da banda”. E o novo guitarrista Josh Klinghoffer atesta: “A batida dele é incrível”.

Refosco devolve: “Eles são muito relax e engraçados mesmo, como dá para imaginar. Hoje, com exceção do Josh, são todos pais de família, e em alguns shows rola de os filhos aparecem, então fica um astral bem família”, descreve.

Desde o convite para gravar e tocar com o grupo, é com o baixista que o brasileiro mais se aproximou. “O convite surgiu a partir do Flea porque a gente tocou junto no Atoms For Peace, uma banda que o Thom Yorke, do Radiohead, formou para tocar as musicas do disco solo dele, chamado ‘The Eraser’. A partir daí, tivemos uma empatia musical e pessoal muito grande, e nós fazemos aniversário no mesmo dia (16 de outubro)”, conta.

Tudo bem, os quatro chili peppers são superantenados e já conheciam a música brasileira bem antes de Mauro Refosco integrar o conjunto. Porém, é inegável que faixas do novo disco, como ‘Dance, Dance, Dance’ e ‘Did I Let You Know’, têm elementos de ritmos tipicamente nacionais, do forró à guitarrada (gênero musical paraense).

“É verdade, tem uma onda meio guitarrada mesmo. Mas essa influência, acho que vem da música africana. O Josh e o Flea estiveram na África no ano passado. E o Brasil é um pais superafricano. Então, está tudo no mesmo caldeirão”, define. LSM