sexta-feira, 30 de maio de 2014

Com vocês, ‘Tássia Eller’

“Não, o Toni Platão não tentou fazer o teste para o papel principal”, diverte-se Vinícius Arneiro, diretor de ‘Cássia Eller — O Musical’, brincando com a semelhança do cantor, que é chamado carinhosamente de “O Cássia Eller”.

Mais de mil candidatos do Brasil inteiro tentaram a vaga de protagonista da montagem, mas quem vai viver a polêmica cantora é a curitibana de 24 anos Tacy de Campos. “Meus amigos me sacaneiam, me chamando de Tássia Eller”, conta a líder do grupo Os Marginais, que agita há um tempo a noite de Curitiba com repertório repleto de canções eternizadas por Cássia Eller. “Também sou compositora, e sonho um dia tocar minhas músicas com uma banda. Não pretendo virar atriz, mas acho que a exposição na peça vai ajudar futuramente a consolidar minha carreira de cantora”.

Tacy chega para a entrevista bem à vontade. Pés saltando para fora do chinelo, shorts, camisa larga e amarrotada, cabelos desgrenhados e devorando uma coxinha de galinha: à paisana, Tacy parece até um garotinho. Na peça, com figurino e soltando a voz, chega a impressionar tamanha a semelhança com Cássia. “Quando me caracterizaram pela primeira vez para a peça, estranhei demais. Não parecia eu. É estranho. Está sendo difícil pra c... virar outra pessoa”.

Tão desbocada quanto tímida, Tacy tem mais em comum com a homenageada que apenas uma semelhança física. “Não era um pré-requisito nos testes ser parecida com a Cássia , mas tinha que cantar parecido com ela. A Lan Lan (a percussionista e amiga de Cássia Eller assina a direção musical da peça) pirou com a Tacy, disse que ela é igualzinha. Ela também é homossexual assumida e, no palco, se transforma e até coloca o peitinho pra fora”, descreve Vinícius Arneiro, citando a cena inicial do musical, que remete ao antológico show de Cássia Eller no Rock in Rio em 2001, quando levantou a blusa no meio da apresentação. “Todo o lado de sexo e drogas da Cássia estão no roteiro, não tentamos moralizar a artista e não houve nenhum pudor em expor esse seu lado libertário”.

Com planos de engrenar sua própria carreira de cantora após o musical, Tacy só teme ficar estigmatizada pela personagem que vai encarnar. “Espero sinceramente que isso não aconteça, mas eu sei bem quem eu sou”, afirma.

Idealizador do musical, Gustavo Nunes ressalta que Cássia Eller deixou uma lacuna na música brasileira ainda não preenchida. “Temos muitas excelentes cantoras, mas nenhuma com a qualidade do timbre de voz e a atitude dela. Maria Gadú não chega nem perto! Cássia Eller está fazendo falta!”, decreta. LSM (Foto: Marcos Hermes)

terça-feira, 20 de maio de 2014

‘Ainda canto as músicas nos mesmos tons’

Tetê Espíndola ganhou popularidade pela sua voz agudíssima e pelo sucesso ‘Escrito Nas Estrelas’, canção vencedora do ‘Festival dos Festivais’, uma espécie de ‘Superstar’ que a Globo promoveu em 1985. A obra da cantora mato-grossense, no entanto, é bem mais abrangente, como pode ser testemunhado em seu novo lançamento: um CD duplo que reúne ‘Pássaros Na Garganta’, clássico de sua discografia lançado em 1982, e o inédito ‘Asas do Etéreo’ (Selo Sesc), com participações de Egberto Gismonti, Hermeto Pascoal e Arrigo Barnabé.

Há quem ressalte que ‘Escrito Nas Estrelas’ prejudicou a trajetória artística de Tetê, tirando a atenção de seu trabalho de vanguarda e a transformando em um ícone brega. Mas a cantora discorda, e não descarta de seu repertório a emblemática canção até hoje.


“Essa música só me ajudou, me deu um nome nacional, foi uma dádiva na minha vida. Ganhei um festival com ela, não foi um sucesso que uma gravadora bancou para tocar no rádio. Aonde vou, até no exterior, nunca posso deixar de tocá-la. E faço questão. Muita gente vai aos meus shows por causa dela, e aí acaba conhecendo meu repertório”, destaca Tetê Espíndola. “Fico chocada quando falam que eu não fiz mais nenhum sucesso. As pessoas ficam presas nessas coisas, o que é uma bobagem.”

‘Asas do Etéreo’ é o primeiro álbum de inéditas da artista desde ‘E Va Por Ar’, de 2007. “Muita gente me perguntava: ‘Puxa, já tem sete anos sem lançar disco?’. Mas minha vida é assim, não tenho compromisso de ficar lançando disco todo ano porque não tenho uma multinacional me bancando. As coisas vão por garra e vontade. E eu também produzi muitas coisas nesse meio tempo, eu não paro nem um minuto!”, conta.

Com o relançamento de ‘Pássaros Na Garganta’, Tetê vem fazendo shows exclusivamente com o repertório do disco, considerado seu lançamento mais importante. “E ainda canto as músicas todas nos mesmos tons originais!”, orgulha-se. “A voz muda com a idade. Já se vão 33 anos desde que gravei esse disco, e é claro que aquela coisa linda do agudo de quando se é jovem tem uma energia única, por isso me deu muito trabalho retomar esse repertório. Tive que recuperar aquela mesma energia aos 60 anos.” LSM