terça-feira, 30 de março de 2010

Diga-me com quem andas...

Para um punhado de pessoas, a TV Globo, por meio de seus telejornais revolucionários, programas e novelas, teria manipulado informações ao longo de sua história, gloriosa, como é chamado o Botafogo. Mas isso não deve ser verdade. Muito menos na odiosa época da ditadura, quando Armando Nogueira, que me perdõem os fãs a lembrança da relação, era o diretor de jornalismo da emissora. Porque, afinal, as pessoas sempre tiveram a oportunidade de desligar a televisão, mudar de canal, ou apenas filtrar a informação que lhes estava sendo oferecida. LSM

domingo, 28 de março de 2010

O nome por trás do hit 'Smooth', do Santana

Esta semana, aconteceu de, imprevisivelmente, dar de estar na mesa de um bar no Leblon com o Itaal Shur. Antes que façam a clássica pregunta, "Tal quem???", o cara é coautor de "Smooth", sucesso máximo do guitarrista Carlos Santana vencedor do Grammy, e também do rock "Até quando?", do Gabriel O Pensador. Foi daqueles momentos para guardar para a eternidade. O jovem compositor americano realizou uma apresentação no mesmo bairro este mês e por aqui prepara novo CD, repleto de músicos brasileiros.

Um dos grandes baratos da ocasião foi testemunhá-lo boquiaberto ao saber que Jorge Ben (até hoje não me acostumo a chamá-lo de Benjor) estaria ali ao lado, no evento de poesias onde bate ponto semanalmente.

"Tá brincando", surpreende-se Itaal em bom português. "O Jorge Ben??? Eu sou muito fã desse cara".

Além de derreter-se pelo suingado - tanto quanto o Santana - artista tupiniquim, o gringão revelou sua paixão pela vida natural que encontrou em alguns paraísos outrora selvagens do Rio.

"Se pudesse, viveria em um lugar como o Sana, pelado o dia inteiro para lá e para cá", dispara, sincero, longe de deixar escapar de leve certo equívoco dos estrangeiros, de que o Brasil ainda é mesmo uma grande selva. "Fui também a Visconde de Mauá, em uma pousada do meu amigo Paulo César Grande, e é deslumbrante".

Mas o cara é ultrassimpático, e um puta músico. Subi para casa, ele seguiu nos altos papos, com o cantor e compositor gaúcho Antonio Villeroy, o guitarrista Fernando Vidal e o multinstrumentista e arranjador Felipe Pinaud. Saí de alma lavada, daqueles milagres que só acontecem quando o destino opera com a imprevisibilidade que os fatalistas classificam como "o que tem que acontecer". LSM

quarta-feira, 24 de março de 2010

'Ouço de tudo, menos funk, axé e pagode'

Quem nunca ouviu algum entendido pseudo eclético em música disparar a frase, quando indagado sobre seu gosto: "Ouço de tudo, menos funk, axé e pagode". É batata, a máxima parece estar sempre pronta na ponta da língua para responder a pergunta. É verdade que, entre os gêneros citados, há muita coisa descartável, de qualidade duvidosa. Porém, quem disse que todo samba, rock, jazz ou blues são 100%? Assim como existem também funks, axés e pagodes relevantes. Por puro preconceito, muita gente não aceita o funk, mas se acaba no bate-estaca da música eletrônica; não engole o axé, mas ama a estética da Tropicália; ou descarta qualquer pagode, mas cai com tudo no samba. Mas só o de raíz, por favor. LSM

quarta-feira, 17 de março de 2010

LP x CD

A questão não passa pela qualidade e pureza do som. Nem pela praticidade das pequenas caixinhas de acrílico ou o saudoso impacto visual daquelas enormes capas, verdadeiras obras de arte. Olhando em retrospecto, a conclusão é que os grandes discos da história da música foram lançados em vinil. O saudoso LP. Não há grande álbum, como "Abbey Road" (Beatles), "Houses of the holy" (Led Zeppelin), "War" (U2) ou "Nevermind" (Nirvana), lançado originalmente apenas no formato CD. Com o advento das pequenas bolachinhas digitais, a produção de discos históricos cessou. Não venham dizer que Oasis fez alguma coisa digna dos álbuns citados, porque não fez, não. LSM

quinta-feira, 11 de março de 2010

Destruindo mitos: Os Mutantes

Para início de conversa, acredito ser Os Mutantes a única banda no mundo comparável aos Beatles. Ou, como disse certa vez o maestro Rogério Duprat, "em muitos momentos chegaram a superar os Beatles". Porém, como bem observou meu amigo e também jornalista Ricardo Schott, Os Mutantes não foi uma banda tão influente em termos de rock nacional como dizem por aí. As pessoas supervalorizam muito, mas, nos anos 80, ninguém escutava Mutantes. Talvez só o pessoal da Blitz, que era mais velho e tinha o ex-mutante Antonio Pedro no baixo. Os discos eram difíceis de serem encontrados, as rádios nao tocavam e a Rita Lee conseguiu ofuscar a banda com sua carreira solo.

Nos anos 90, começou uma onda de nego falar que era "influenciado por Mutantes" sem nunca ter de fato ouvido a banda. Falavam até que Raimundos tinha influência, mas eles só ouviram Mutantes pela primeira vez em uma entrevista para a revista Bizz.

O Novos Baianos, que nego não paga tanto pau, teve muito mais influência no rock nacional, até porque nunca tiveram muitas guinadas no som, duraram até quase os anos 80 e mesmo as carreiras solos dos músicos eram quase uma imitação da banda. Como se eles tivessem se separado, mas o som continuado. Não dá para imaginar Os Paralamas do Sucesso sem Novos Baianos.

"Eu ouvia Mutantes com 12 anos. Falava no colégio que era fã da banda e os professores achavam que eu era débil mental", lembra Schott, editor do site Laboratório Pop (www.laboratoriopop.com.br). "Quando citava Arnaldo Baptista, nego perguntava: 'aquele cara da música brega?', porque achavam que era Amado Batista".

No documentário "Loki", sobre o Arnaldo, o Rogério Duprat o aponta como inventor do rock nacional. Bom, o Cauby Peixoto é mais inventor do rock nacional que ele, porque gravou um dos primeiros rocks em português, "Rock and roll em Copacabana". Nos anos 50, Nora Ney gravou "Rock around the clock". Eles são mais pioneiros do rock que o Arnaldo.

Mesmo nos anos 60, Os Mutantes nao vendiam discos. O único álbum deles que vendeu foi o ultraprogressivo "Tudo foi feito pelo sol", lançado pela Som Livre, com propaganda na Globo. Dá para entender? LSM

Thanx to Ricardo Schott

terça-feira, 9 de março de 2010

Corinne Bailey Rae versão 2.0, turbinada

De vez em vez uma cantora - ou a tendência seguida por ela - dita um padrão e logo uma geração de semelhantes, eventualmente até com certa originalidade, começa a pipocar. Que nem aqui no Brasil o efeito Marisa Monte e Fernanda Abreu. Lá fora - de onde até hoje ainda surgem crias da 'geração Madonna' (vide as tantas Britney Spears) - ainda têm vez as Winehouses. Porém, se não se dissipar no oceano de cantoras com "pegada" semelhante, os holofotes vão revelar uma artista mais interessante até que badaladas como Joss Stone. Corinne Bailey Rae chega mais soul, funk (o americano, não o carioca), blues e um bocado 'o mais puro rock and roll rollingstoneano' em 'The sea', quatro anos depois de emplacar, ainda que discretamente aqui no Brasil, a pop corretinha 'Put your records on'.

Maturidade? Corinne chega aos 30 anos, mas a morte prematura do marido - o saxofonista Jason Rae - pode ser o determinante. Pilotando voz, guitarra e composições, a inglesa soma à base das 11 faixas do novo lançamento, segundo da carreira, pouco mais que bateria (mixada na cara, com o bumbo acima dos outros instrumentos) e baixo, além de um discreto hammond aqui e ali. O quase minimalismo instrumental, no entanto, não a limita para tirar um belo punhado de cartas da manga.

Redundante, a esta altura do texto, repetir que Corinne Bailey Rae cresceu artisticamente, mas vale imprimir que o que era meio 'música de mulherzinha', apesar de legal e desde antes ter um pé no blues e no rock, agora pisa firme com os dois pés nestes gêneros. Entre o primeiro e o segundo álbum, como que anunciando a guitarrada que viria, ela até Led Zeppelin cantou. Bom... o Babado Novo também gravou Led Zeppelin, mas, seguindo a boa tradição roqueira dos ingleses, sempre craques em reciclar o melhor da música americana, as pauleiras e baladas (sim, há umas três delas no disco) de 'The sea' o torna um belo lançamento.

Os que curtiram suas canções docinhas e de bem com a vida, entre o soft rock e o soul, não estranhem a comparação com Amy. 'Rehab' não tinha muito a ver com Corinne, mas a moça já dista daquela imagem inicial. No visual também. A voz continua a mesma, mas os cabelos... assim como o som, estão mais black power. LSM

* Crítica publicada originalmente no site Laboratório Pop (www.laboratoriopop.com.br/criticas)

segunda-feira, 1 de março de 2010

Águas de março

Segunda-feira bem chuvosa este primeiro de março. São as águas de março, fechando o verão, e não haveria, portanto, dia mais oportuno para uma história que contaram há tempos.

Um músico que por anos acompanhou Tom Jobim, entre outras estrelas da nossa música, foi quem revelara. Pois o maestro, já mais para os últimos dias de vida, em um papo entre homens, sobre mulheres e sexo em geral, disparou esta:

"Meu amigo, vou lhe dizer: é pau... foi pedra... agora é o fim do caminho!", e caiu na gargalhada.

Lendário ou verídico, fato é que dá para imaginar o Tom, mesmo doentinho, sem perder o peculiar humor sacana. LSM