quarta-feira, 12 de março de 2014

Um papo praieiro com Jack Johnson

Música é a praia do cantor e compositor norte-americano Jack Johnson. Criado no Havaí, ele também surfa e leva a vida assim, tocando e surfando mundo afora. Quinta-feira, ele volta ao Rio e se apresenta na HSBC Arena, na Barra da Tijuca. Com um disco novo na bagagem, o ‘From Here To Now To You’, Johnson não vê a hora de reencontrar o público... e as praias brasileiras, claro.


“Tudo bem?”, começa ele o papo, assim mesmo, arranhando um português. “Nunca fui ao Brasil a lazer, sempre tinha shows agendados, mas sempre consigo um bom tempo livre para me divertir, escapar do hotel e surfar”, completa, já em seu idioma.

Este quase menino do Rio já mostra know-how até para elencar o melhor point para o surfe por aqui. “Florianópolis!”, entusiasma-se. “O Rio também é muito bom, tem muitas possibilidades diferentes de ondas. Vou sempre procurando por lugares para surfar, mas em Florianópolis foi onde encontrei as melhores.”

Nesta vinda ao Brasil, não por acaso sua turnê passa ainda por Florianópolis, no sábado. Mas também vai a São Paulo, um dia antes. Lá, registre-se, não tem praia. Sem problemas para Jack Johnson: “Quando vou a São Paulo, dirijo até a costa, tenho amigos que me levam, como o Mario Caldato (o produtor brasileiro que trabalhou em alguns discos de Johnson).”

O músico-surfista assume que tenta ajustar datas e locais de suas turnês de acordo com os melhores points para o surfe. “É verdade, sempre olho o calendário para ver isso, mas às vezes é difícil conciliar”, resigna-se.

Fã de um papo praieiro, Jack Johnson dá corda ao assunto lembrando perrengues que já passou no mar. “Na verdade, só encarei ondas difíceis no Havaí. Fora de lá, o que me preocupou nunca foram as ondas, mas locais onde há tubarões”, relata.

Mas, afinal, Jack Johnson, o que te dá mais onda, cantar ou surfar? “É difícil escolher. Surfar é algo que se pode fazer também sozinho. Quando vou tocar, preciso de outras pessoas para fazer música, e da energia do público. São coisas diferentes”, compara, e aproveita para fazer o tradicional chamego no público brasileiro. “Realmente os shows no Brasil são diferentes, porque o que sinto no palco é que não há separação entre mim e o público. São sempre os melhores shows! Cantar com o acompanhamento da plateia aplaudindo no ritmo é como uma grande festa”, descreve.

Ele passou por nossas praias pela primeira vez logo quando despontou ao estrelato, em 2006, com show na Praça da Apoteose. A última vez em que esteve no Brasil foi em 2011 e, de lá para cá, parece que deu uns tapas no português. “Sempre que acordo, a primeira coisa que falo para minha mulher é: ‘Oi, linda!’”, conta, caprichando no idioma. Antes de desligar o telefone, no fim da entrevista, ainda arrisca uma última palavrinha em português: “Obrigado!” LSM

segunda-feira, 10 de março de 2014

Livro promove viagem aos tempos da beatlemania

Um novo olhar sobre a beatlemania. É o que pretende o escritor e músico inglês Terry Burrows, autor de ‘The Beatles — História, Discografia, Fotos e Documentos’ (ed. Publifolha, 132 págs., R$ 129,90). A publicação é um livrão de capa dura com a história do grupo e encartado com dezenas de reproduções fiéis de cartazes, ingressos, anúncios publicitários e repertórios anotados à mão pelos próprios músicos, entre outros itens para deixar qualquer colecionador louco.

“O ‘Daily Mail’, um dos maiores jornais da Inglaterra, o classificou como o melhor livro ilustrado do ano. Claro que os suvenires adicionaram um charme extra à história que eu conto. Acredito que, por ser músico profissional e compositor há 20 anos, trouxe uma perspectiva diferente à música dos Beatles”, ressalta Burrows.

Ele passa a limpo os fatos marcantes da trajetória do Quarteto de Liverpool e também faz uma análise pessoal sobre como suas canções mudaram o comportamento da sociedade e a indústria do pop mundial. “Não classificaria o Paul McCartney o beatle mais talentoso, mas certamente ele foi o mais entusiasmado, então acho que, mesmo se os Beatles nunca tivessem existido como grupo, ele ainda assim seria muito bem-sucedido na música. John Lennon, por outro lado, suspeito que ficaria cansado de esperar o sucesso e teria seguido outra vertente artística. Quem sabe?”, arrisca o autor.

O lançamento chega ao Brasil com dois anos de atraso. O título original em inglês é ‘It Was 50 Years Ago Today’ (‘Foi Há 50 Anos’), se referindo às cinco décadas do lançamento da estreia em disco dos Beatles, com o compacto ‘Love Me Do’, em 1962. Nada que diminua o interesse dos beatlemaníacos daqui. Além do texto e das reproduções (como um panfleto de show no lendário Cavern Club de Liverpool ou uma entrada para a estreia do filme ‘Help!’ no cinema, tesouros que já seriam suficientes para fazer fãs se descabelarem da mesma forma que as mocinhas da foto abaixo), o livro reúne centenas de fotos da banda.


“É incrível que, ainda hoje, até os mais especializados nos Beatles continuem a se surpreender com fotos inéditas deles. Nos anos 60, todo jornal tinha sua equipe de fotógrafos, que tiraram fotos de praticamente tudo que os Beatles faziam. Por isso que ainda existe muito material enterrado nos arquivos dos jornais ao redor do mundo”, explica. “Eu sugeri os itens de colecionador para acompanhar o livro que melhor traduziriam o texto em passagens específicas da vida deles. Como eu mesmo sou um tremendo fã, já tinha certeza de que seria muito excitante para os leitores ter contato com todo esse material histórico.”


Terry Burrows classifica seu lançamento como o “mais luxuoso material impresso já feito sobre os Beatles”, mas também elege os seus livros prediletos no assunto. “Ainda acho que ‘Shout! The Beatles in Their Generation’, de Philip Norman, é o melhor (a publicação é considerada, de maneira quase unânime, como a ‘definitiva’ biografia deles). E o ‘Anthology’, escrito pelos próprios Beatles, que traz perspectivas interessantes, se você ignorar os interesses pessoais que havia ali como pano de fundo”, ressalta. LSM

terça-feira, 4 de março de 2014

Ícone dos anos 60, Donovan acompanha David Lynch quase despercebido

Esta matéria foi publicada originalmente no Jornal do Brasil em 10/08/2008. 

"Eu, particularmente, acho Donovan muito mais interessante que David Lynch", diz um fã do músico escocês, carregando um saco com discos de vinil e outras relíquias para tentar um autógrafo.

A primeira apresentação de Donovan no Rio, em sua primeira vez no Brasil, foi um pocket-show no final da palestra que o cineasta David Lynch deu no auditório da Universidade Estácio de Sá, na Barra da Tijuca.

"Será um show bem pequeno, mas sobre uma grande coisa: a meditação", declara o cantor e compositor, antes de presentear o público com algumas pérolas de seu repertório, como 'Catch The Wind', 'Hurdy Gurdy Man' e 'Mellow Yellow'. "Já havia pensado em vir ao Brasil diversas vezes, mas nunca as circunstâncias ajudaram. Agora finalmente tudo deu certo".

Donovan Leitch é um artista único, ícone do movimento hippie da década de 60, amigo dos Beatles, apontado como a resposta britânica a Bob Dylan devido a seu estilo folk e por também se apresentar apenas com seu violão e gaita, autor de cativantes e memoráveis canções e um dos artistas que mais teve revivals na carreira. Ele está acompanhando David Lynch na turnê de lançamento do livro que o diretor escreveu sobre meditação transcendental, a técnica mental para combater o stress fundada pelo guru Maharish Mahesh Yogi e da qual ambos os artistas são adeptos. O evento na universidade reúne muitas pessoas interessadas de fato no desenvolvimento do repouso espiritual, outras querendo desvendar algo mais sobre quem matou Laura Palmer, e ainda uma parcela considerável de fãs do músico. A curiosa presença do recluso artista dos anos 60 despertou a atenção de antenados, como a cantora Mariana Aydar, o músico e produtor Kassin e o DJ Maurício Valadares.

Donovan anuncia o lançamento do DVD duplo 'Sunshine Superman The Journey Of Donovan'. "Será um documentário de três horas sobre minha vida e música, com mais duas horas de bônus, com muito material raro e depoimentos e lembranças de amigos, como George Harrison, Bob Dylan, Joan Baez, Jimmy Page, e o próprio David Lynch, além de incluir também seis novas músicas".

Fiel aos valores de paz e amor, ele vê na internet uma nova e eficaz forma de transmitir a mensagem da meditação em busca de um mundo melhor. "Vejo hoje os comerciais na televisão como as novas rádios. Tem seis músicas minhas em trilhas de propagandas. Aí a pessoa ouve todo dia o refrão de 'Mellow Yellow', vai lá no Google e digita essas duas palavrinhas do título e encontra os meus 27 álbuns. Aí vai lá e tem contato com minhas músicas, que falam sobre paz, ecologia, espiritualidade e meditação. Então a internet é o sonho dos anos 60 realizado, de transmisão instantânea da mensagem da paz", celebra. "É um ciclo que começa com o comercial na TV e chega na meditação. Hoje é assim: você tem uma ideia, e a ideia chega para todas as pessoas no mundo na mesma hora".

Na turnê mundial - inclusive nesta passagem pelo Brasil -, David Lynch e Donovan têm se encontrado com políticos para sugerir a implementação da meditação transcendental nas escolas. "As pessoas falam que isso é um sonho, mas é realidade. Vejo um futuro em que todos vão meditar. Não é religião, é só uma técnica para reduzir o stress na sua vida. Quando não há stress, não há guerra", explica.

O envolvimento de Donovan com a meditação transcendental aconteceu em fevereiro de 1968, quando ele, mais os quatro Beatles, além do também músico Mike Love (Beach Boys), da atriz Mia Farrow, e mais um grupo de cerca de 50 pessoas foram à Índia com o Maharish. Os cabeludos de Liverpool voltaram depois de cerca de dois meses. Ringo Starr não se adaptou à alimentação e Paul McCartney não se interessou o suficiente. John Lennon e George Harrison ficaram um pouco mais, mas voltaram depois de suspeitas sobre o envolvimento íntimo do guru com uma das alunas do curso. Donovan, pelo visto, desde então não se desligou mais dos ensinamentos do Maharish.


"Será realizado um show em Toronto celebrando os 40 anos dessa ida à Índia, que foi um marco para a popularização da mensagem da meditação transcendental para o ocidente. Vou tocar, além de minhas canções, outras que ajudei os Beatles a fazer, como 'Dear Prudence' e 'Mother Nature's Son', que ensinei os dedilhados a John e Paul, respectivamente", conta.

Ele ainda dá dicas do que de mais interessante tem escutado ultimamente: "Dois grupos: Future Sound Of London, muitas vezes chamado apenas de F.S.O.L., que faz um som eletrônico dançante e muito psicodélico. Outro grupo que gosto e escuto muito é o Starsailor. É só procurar lá no YouTube e ouvir", sugere, e pede para deixar o endereço de seu site (www.donovan.ie), para as pessoas visitarem e conhecerem mais sobre sua música, e também sobre meditação transcendental, é claro.LSM (Fotos Donovan, por Ana Paula Amorim)

segunda-feira, 3 de março de 2014

Sassaricando na Saara

É no popular mercado carioca que a cantora e estrela de musicais Beatriz Rabello, filha de Paulinho da Viola, se prepara para desfilar na Portela e anuncia seu primeiro CD

Semana sim, outra também, Paulinho da Viola liga para a filha Bia, para juntos irem bater perna na Saara (a Sociedade de Amigos das Adjacências da Rua da Alfândega, no Centro). “Ele me ensinou a gostar daqui, esses passeios são uma coisa muito nossa”, conta Beatriz Rabello, enquanto fuxica umas saias supercoloridas em uma lojinha no grande centro comercial a céu aberto. “Meu pai vem atrás de parafusos, coisas de marcenaria em geral, bateria de relógio... Ele coleciona um monte de coisas, adora isso. Eu gosto de fazer as bijuterias que uso, então aqui tem muita opção. Além de roupas para palco e, claro, coisas para fantasias de Carnaval.”


Na madrugada de amanhã, Bia entra na Marquês de Sapucaí com a Portela, escola do coração também de Paulinho. Mas a cabeça não sai de ‘Samba, Amor e Carnaval’, o primeiro CD que ela, que é cantora e integra a banda do pai, finaliza em estúdio para lançar este ano. Conforme o próprio título sugere, todos os sambas que Beatriz Rabello escolheu falam de amor e Carnaval.

Paulinho dá força, inclusive gravou no disco a música ‘Só o Tempo’, de sua autoria, em dueto com a filha. Mas também está preocupado, e dá puxão de orelha: “Você está trabalhando muito! Faz teatro, faz não sei quantos bailes de Carnaval, pula Carnaval na rua e ainda vai desfilar na Portela! Claro que ia acabar caindo de cama!”, adverte o paizão, sobre o febrão de 39 graus que ela teve nos últimos dias.

Bia é mesmo espoleta pura. Formada em Jornalismo, enquanto não estreia em disco, pode ser vista nos palcos no badalado musical ‘Sassaricando’, em cartaz no Theatro Net Rio, em Copacabana. Entre uma sessão e outra, encontra João Callado, produtor de seu disco. Um cara que, atesta Beatriz, dá corda para suas estripulias: “Entre inéditas e regravações, escolhi interpretar ‘Enredo do Meu Samba’, de Dona Ivone Lara e Jorge Aragão, que um produtor mais purista, daqueles defensores do samba de raiz, poderia torcer o nariz por ser mais do universo do pagode. Eu não tô nem aí... aliás, detesto esse termo ‘samba de raiz’!”, decreta.

Determinada, além dos palcos, a intrépida Bia quer bater um bolão (com o perdão do trocadilho) também nos campos. Vascaína que nem o pai (“Lá em casa, torcer pela Portela e pelo Vasco não é opção”, diverte-se ela), matriculou-se em aulas de futebol. “Me machuquei no primeiro dia!”, resigna-se, aos risos. “Mas depois do Carnaval volto a praticar! Nem sou entendida em futebol, mas sou doida para jogar. Acho que é algum trauma de infância, porque tive asma e sempre era dispensada das aulas de Educação Física.”

Aos interessados, a bela está solteira, e dá a dica: também adora dançar forró na Feira de São Cristóvão e curtir uma roda de samba no Beco do Rato ou no Trapiche Gamboa. “E amo as feijoadas na Portela!”, completa. “Nossa escola está com um samba lindo, estamos chegando para ganhar!”, promete, já com o coração apressado para entrar na Avenida. LSM (foto: Maíra Coelho)