terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Na intimidade da música brasileira

São 30 anos de atividade e uma simpatia que conquista os artistas revelados em seus cliques, agora reunidos no livro ‘Um Olhar Na Música Popular Brasileira’ (Ed. Aeroplano, R$ 85), que a fotógrafa Cristina Granato acaba de lançar. “Já estou sendo cobrada por amigas, como Regina Duarte, Ana Botafogo e Claudia Jimenez, para lançar livros com outras temáticas, porque eu não estive presente apenas na música”, conta Cristina, destacando que já registrou de tudo um pouco nessas três décadas, fornecendo imagens para sites, jornais e revistas. “Sou a maior vagabunda, dou para todo mundo”, brinca.

Da música, Cristina só lamenta não ter tido a oportunidade de registrar dois ídolos: Elis Regina e Raul Seixas. Dos outros tantos que fotografou, não entraram no livro o sumido Belchior — por não conseguir contato para autorização de imagem — e uma foto do Jamelão. “A família não deixou, porque ele aparece dando uma banana para mim. Acharam que seria falta de respeito. Uma pena”, resigna-se. “A graça é mostrar os artistas nessas situações inusitadas”.

Com isto em mente, Cristina Granato contabiliza, entre mais de um milhão de fotos, diversas feitas em banheiros, incluindo masculinos. “Abordo de um jeito que não é invasivo. Tom (Jobim), Chico (Buarque), Erasmo (Carlos), são caras muito especiais. Quem dá trabalho é a rapaziada nova, que cria um monte de restrições. Parece que o sucesso sobe à cabeça rápido demais”, conclui, com propriedade. LSM (Foto de Cristina Granato por Felipe O'Neill)

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Um jovem senhor de 69 anos

Mesmo beirando os 70 anos (faz aniversário dia 1º de agosto), 37 deles dedicados a uma carreira sempre produtiva e relevante, Ney Matogrosso parece cada vez mais jovem. É com energia e entusiasmo típicos de um garotão que o intérprete lança um novo CD e DVD, ‘Beijo Bandido’, registro da apresentação no Theatro Municipal do Rio em agosto do ano passado.

“Não pretendo parar tão cedo. Vou continuar lançando discos, com capas atraentes e bonitas, como gosto de fazer. Esse é o meu prazer”, decreta Ney. “Hoje, depois desse longo tempo de vida e de carreira, não me vejo como exemplo para ninguém, para nenhum artista que esteja começando, nada disso. Apenas segui o meu caminho, tentando constantemente oferecer trabalhos interessantes. Fico surpreso que, em um país de mentalidade tão descartável, eu ainda esteja aí há tantos anos”, analisa.

Se depender de disposição para produzir, Ney Matogrosso ainda vai mostrar seu trabalho por muito tempo. Nem a crise da indústria fonográfica intimida sua fome de microfone. “Vejo essas mudanças, mas ainda não vi saída. Só quando ficar claro que lançar discos não é mais o caminho é que vou começar a pensar na vida”, pondera o cantor.

Tomara que Ney não pendure as cordas vocais tão cedo. Dono de inconfundível timbre de tenor, ele mesmo assume que o Brasil está carente de grandes vozes masculinas, daquelas definidas como belas do ponto de vista acadêmico.

“Historicamente, já fomos muito fortes, mas bons cantores hoje são coisa rara. Já mulheres, tem muitas. É interessante observar que de 10 em 10 anos aparece uma leva de cantoras, mas de homens é mais raro, não tem esses picos”, observa.

Se por um lado os cantores estão escassos, compositores interessantes não faltam, garante Ney Matogrosso. Frequentemente abordado Brasil afora por candidatos a desfrutar do privilégio de ter uma música registrada na sua interpretação, ele conta que busca muita matéria-prima nessas ocasiões. “Gosto de descobrir e gravar músicas de pessoas desconhecidas, que me despertam a atenção com trabalhos interessantes. Acabei de ouvir o disco de um novo grupo, Tono (banda do Bem Gil, filho de Gilberto Gil) e até incluí neste novo show uma música deles, chamada ‘Não Consigo’, que adorei”, destaca.

Mal deu à luz o novo CD e DVD, Ney já anuncia que prepara um próximo. “Vou reunir músicas de Jards Macalé, Itamar Assumpção e Luiz Capucho, artistas injustamente rotulados como malditos, misturando com Tono e um rapaz de Maceió muito interessante, Vitor Pirralho. Vai ser curioso juntar esses veteranos com gente bem mais novinha para ver o que dá”, antecipa. LSM (foto Fernando Souza)

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Uma puta dupla

Novo CD de Odair José traz parceria com Zeca Baleiro em faixa para a ex-garota de programa Bruna Surfistinha

Em 1972, Odair José cantava a paixão por uma garota de programa nos versos “Eu vou tirar você desse lugar/Eu vou levar você pra ficar comigo/E não interessa/O que os outros vão pensar”. Em 2011, o cantor e compositor volta à temática na qual transita com desenvoltura. Mas, aos 62 anos, ele já não quer tirar ninguém de lugar algum. Pelo contrário: no refrão da nova música, ‘E Depois Volte Pra Mim’ (parceria com Zeca Baleiro), ele diz que sua atual ‘musa de vida fácil’, a ex-garota de programa Bruna Surfistinha, “não precisa mais mentir/Quero você mesmo assim/Vá fazer o seu programa/E depois volte pra mim”.

“Eu e o Zeca Baleiro conhecemos a Bruna quando participamos do programa ‘Altas Horas’. Era o lançamento de um CD em minha homenagem, no qual ele participou”, lembra Odair José.

O encontro inspirou Zeca: “Fiz a letra e o Odair fez a melodia. Imaginei uma história de amor entre os dois, e vou dividir o vocal nesta música com ele no disco”, conta Baleiro.

O disco a que ele se refere é ‘Praça Tiradentes’, novíssimo de Odair José, que está sendo registrado no estúdio de Zeca Baleiro, no bairro Alto de Pinheiros, em São Paulo.

“O Odair não queria gravar. Imaginei que seria do cacete ele tocando com a minha banda, daí fui colocando minhocas na cabeça dele e acabei produzindo o disco”, relata Baleiro, que também compôs novas músicas para o amigo e ainda pediu a Arnaldo Antunes uma canção — que enviou, orgulhoso, uma parceria inédita com Carlinhos Brown.

“Dentro do que eu posso fazer, as pessoas vão gostar e muito desse disco. O pessoal de hoje busca, busca, e acaba indo nas coisas boas do passado. Não é todo dia que se encontra um Paul McCartney e um Odair José”, exagera Odair, que nos anos 70 fez a música “Eu Queria Ser John Lennon”.

NO CINEMA
Além do novo álbum, Odair José será visto este ano também no cinema. O documentário ‘Vou Tirar Você Deste Lugar’, baseado no livro ‘Eu Não Sou Cachorro, Não’, de Paulo César de Araújo (mesmo autor da polêmica biografia de Roberto Carlos), vai mapear na tela os artistas da chamada ‘música brega’. “Pretendo colocar esses artistas no patamar da altura do talento deles”, decreta a diretora, Helena Tassara. LSM

OS DESTAQUES DO CD ‘PRAÇA TIRADENTES’:
'E DEPOIS VOLTE PRA MIM', lembra as baladas de Bob Dylan. “Ele tem algo de Dylan, mas do submundo brasileiro”, classifica o coautor Zeca.

'SOB CONTROLE', só de Odair, tem influência de Paul McCartney: “Ele é um exemplo pra mim, aos 68 anos, cheio de gás”.

'VIDA QUE NÃO PARA', de Odair José e seu filho, Odair Jr., uma mistura de Erasmo Carlos e Dire Straits.

'ACONTECEU', “É uma música para quem é adúltero”, conta Odair.

'COMO UM FILME', só de Zeca Baleiro: “Bem no universo do Odair, é sobre o brasileiro que fica bebendo pinga nas esquinas”.

'VOU SAIR DO INTERIOR', um country de Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown. “O Arnaldo ficou emocionado por ser gravado pelo Odair”, conta Baleiro.

'TANTO QUERER', com bateria e guitarra à la The Police.

------

'E DEPOIS VOLTE PRA MIM' (Zeca Baleiro e Odair José)
Quando a conheci em um programa de TV
Ela se aproximou e falou muito prazer
Seu riso de menina, me apaixonei no ato

Fiquei todo sem razão, me encantei com seu teatro
Pra todo mundo ela diz que é modelo e atriz
Mas hoje eu sei na verdade o que ela faz
Quando me telefona pra dizer que não vem mais

(refrão): Não precisa mais mentir
Quero você mesmo assim
Vá fazer o seu programa
E depois volte pra mim