quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Os dez anos sem Cássia Eller são lembrados em CDs e documentário sobre sua vida



 Mudaram as estações e nada mudou: dez anos depois, a lacuna deixada por Cássia Eller na música brasileira ainda não foi preenchida. Novas cantoras surgem aos montes no cenário, porém, desde sua precoce morte, vítima de infarto aos 39 anos, em 29 de dezembro de 2001, no auge da carreira, não apareceu nenhuma com voz tão marcante e poderosa, tamanho carisma, presença de palco e interpretações tão singulares. A década de saudade desta artista única já está sendo lembrada em diversos lançamentos, de CDs e DVDs a um documentário para o cinema.
 
Dirigido por Paulo Henrique Fontenelle e programado para o primeiro semestre de 2012, o filme, inicialmente batizado apenas de ‘Cássia’, já está sendo rodado. Esta semana, de Maceió, onde registrou a primeira vez que a banda da cantora voltou a se reunir depois de dez anos, ele contou, por telefone, que o longa vai revelar como era a cantora em sua intimidade, uma pessoa bem diferente da que ficou conhecida nos palcos.

 
“Estou entrevistando não só os amigos famosos, como Nando Reis, mas, principalmente, a equipe que trabalhava com ela nos bastidores. Me contaram que ela era supergenerosa, e tratava todo mundo como uma família. Os ‘roadies’ moravam na casa da Cássia, e ela repartia o cachê, todo mundo ganhava a mesma coisa”, descreve Fontenelle.

O diretor teve o aval de Maria Eugênia, companheira de Cássia, depois que o filho da cantora, Chicão, se declarou fã de seu primeiro filme, ‘Loki’, sobre Arnaldo Baptista. “Já estamos reunindo imagens fantásticas, caseiras, como o nascimento do Chicão e todo o crescimento dele, além de várias entrevistas que nunca foram ao ar”, adianta.
Fontenelle conta ainda que não planejava fazer outro documentário musical. “Queria fazer um filme policial, mas não dá para recusar quando se tem Cássia Eller como tema, não é?”, avalia.


PARA CURTIR CÁSSIA ELLER
No embalo dos dez anos sem Cássia, acaba de ser lançada a ‘Caixa Eller’ (R$ 150), com seus oito CDs de carreira e o DVD ‘Violões’, uma reunião de programas na TV Cultura entre 1990 e 1999. Também já está nas lojas o CD ‘As Canções Que o Nando Fez Pra Cássia Cantar’, que traz registros inéditos, como ‘Baby Love’, canção cortada do disco ‘Com Você... Meu Mundo Ficaria Completo’ (1999).

 
Além disso, deve vir por aí o DVD do projeto ‘A Luz do Solo’, registro de um show intimista no Rio, em 2001. 

 
Existe ainda um CD inédito, com o guitarrista Victor Biglione, gravado há 20 anos, no qual ela canta clássicos do rock. LSM

 
‘DEU UM FLASHBACK DE ELIS’  - POR ROBERTO DE CARVALHO *
“Estava em Nova York, andando na rua, era uma tarde de muito sol e alegria, quando um dos meus filhos ligou e me contou da morte da Cássia. Foi um tremendo choque. Ela estava no auge, em um momento espetacular. Deu um tremendo flashback de Elis. Nos conhecemos no ensaio do ‘Acústico’ da Rita Lee. Ela era timidíssima! Um passarinho com voz de supersônico.

 
A música que mais me marcou de seu repertório foi ‘O Segundo Sol’, e o momento mais marcante foi o show dela no Rock In Rio, quando mostrou os peitos, que foi uma coisa de uma força simbólica inacreditável, um glimpse de Macunaíma na era do maracatu atômico. Cássia Eller era uma menina de ouro num país de cantoras predominantemente caretas, que em geral seguem um modelo dondoca dos anos 70. A Cássia era um alento, uma coisa rock ’n’ roll, a única que poderia de alguma maneira ter dado sequência a uma tradição da qual a Rita é a sacerdotisa máxima, da artista mulher que vai do rock em direção ao pop, passando pela MPB, soando autêntica em qualquer uma dessas praias”.

* Roberto de Carvalho é guitarrista e compositor


Colaborou Guilherme Scarpa 

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Depois de CD com Paulo Ricardo, Toquinho grava com Ivete Sangalo e Zeca Pagodinho

Aos 65 anos, Toquinho está cada vez mais surpreendente. Não exatamente por novas belas melodias, harmonias e canções ou pelo talento ao violão. Conhecido, principalmente, pela brilhante parceria com o poeta Vinicius de Moraes, o cantor, compositor e instrumentista vem ‘causando’ pela aproximação com artistas, em princípio, bem distantes de seus conhecidos caminhos musicais.

Ainda este ano, Toquinho lançou um CD em homenagem a Vinicius. Até aí, tudo bem, não estivesse o tributo repleto de arranjos eletrônicos e com vocais de... Paulo Ricardo, do RPM. Agora, depois de oito anos sem lançar material inédito, ele volta ao ofício com ‘Quem Viver, Verá’, e chama a atenção por impensáveis duetos com Ivete Sangalo e Zeca Pagodinho.

“Gosto de diferentes estilos, sempre ouvi de tudo, do balanço do Jorge Ben, com quem compus meu primeiro sucesso (‘Que Maravilha’, de 1968), ao rock do Elvis Presley”, defende-se Toquinho.

Com Ivete, ele se entregou ao frevo em ‘Quero Você’. Zeca, por sua vez, nem quis saber da nova safra de canções, preferindo passear por território conhecido. “Ivete ficou muito entusiasmada quando falei que fiz uma música que achava a cara dela. Para o Zeca, ofereci outra inédita, ‘Meu Canto’, que também achei muito parecida com o estilo dele. Liguei, convidando, só que ele, bem do seu jeito, disse que queria porque queria cantar ‘Regra Três’. Eu até insisti, mas ele não quis saber de música nova”, relata, às gargalhadas.

A paixão pelos clássicos de sua parceria com Vinicius de Moraes, registre-se, não é exclusividade de Zeca Pagodinho. “É verdade, ninguém se cansa de ouvir, essas canções foram muito marcantes”, assume Toquinho. “Quando Vinicius morreu, em 1980, o primeiro telefonema que recebi foi da minha mãe, perguntando: ‘Meu filho, o que vai ser de você agora?’. Mas considero que consegui fugir um pouco desta sombra. O meu maior sucesso, por exemplo, é ‘Aquarela’, lançada em 1983”, avalia. LSM