quarta-feira, 30 de junho de 2010

Parceria pra comer alguém

Fora do Casseta, Mu Chebabi lança CD e compõe com Helio de la Peña

Helio de La Peña leva um susto quando falta luz no meio do show de seu conjunto vocal Coro de Pica, formado por amigos da faculdade que anos depois criariam o Casseta & Planeta. Com o jogo de cintura característico do grupo de humor, chamam um amigo da plateia para tocar um violãozinho no palco com eles e salvar a noite.

“Isso foi em 1982. Lembro que desde essa época a gente já não comia ninguém! Foi assim que conhecemos o Mu Chebabi”, recorda Helio de La Peña, às gargalhadas. No encontro em sua casa, no Leblon, a dupla recorda histórias divertidíssimas e celebra a parceria musical, que segue firme no CD ‘Uma Coisa é Uma Coisa, Outra Coisa é Outra Coisa’, que Chebabi acaba de lançar.

A dupla, no entanto, continua sem comer ninguém. Na música ‘O Gringo’, parceria de Chebabi com Delapa (como ele chama Helio), quem se dá bem mesmo é o personagem principal. “É a história de um invejoso que fica irado com um gringo que come todas as brasileiras”, descreve o cantor e compositor. Apesar dessa canção reviver os melhores momentos do Casseta & Planeta, Chebabi ressalta que sua carreira solo, como o título do disco sugere, não passa necessariamente pelas piadas. “Tem humor, mas não é só isso”, define.

Por 20 anos, ele foi o ‘Musicator Tabajara Cassetoso’ (como ele mesmo classifica seu cargo de diretor musical) e cometeu com o grupo de humoristas ‘clássicos’ como ‘Mãe é Mãe’ e ‘Tô Tristão’. Em 2008, porém, a trupe resolveu mudar sua equipe de apoio. “No Casseta, as letras eram feitas por todos do grupo. Agora é que a gente virou parceiro mesmo”, decreta Helio de La Peña. LSM (foto: Luiz Lima)

domingo, 27 de junho de 2010

Os superpoderes do AC/DC

O AC/DC é uma banda de tantos clássicos eternizados na história e tantas outras músicas sensacionais realizadas que reunir apenas 15 em uma coletânea é tarefa ingrata. A trilha de ‘Homem de Ferro 2’, lançada em parceria com a Marvel Studios e a Columbia Records, ousa tal empreitada. E o resultado, que na verdade correria poucos riscos de fracassar tal a qualidade do legado do grupo, surpreende. Ausências serão sentidas, claro, por qualquer um que conheça de cabo a rabo a discografia da banda australiana de 1976 a 2008 – período coberto pelo lançamento. Estão lá óbvias e indispensáveis como ‘Back in black’, ‘Highway to hell’ ou ‘Thunderstruck’, e outras capazes de surpreender até mesmo um fã mais exigente, caso de ‘Rock n’ roll damnation’ e ‘Shoot to thrill’.

O rock básico, sem afetações, do AC/DC embala, portanto, o novo filme sobre o herói de ferro, dirigido por Jon Fraveau. Porém, superpoderes mesmo quem demonstra possuir são os veteranos capitaneados por Angus Young. Já são cerca de 35 anos de (bons) serviços prestados ao rock and roll, sempre de forma relevante, e até hoje estão entre as bandas que mais merecidamente faturam com seus shows e discos.

Como acertadamente classifica o texto do encarte da luxuosa edição do CD – um libreto repleto de fotos da banda e umas poucas do filme -, “essas 15 músicas foram criadas e executadas pelos reais homens de ferro (...) com infinita atitude rock and roll”. O lançamento é indispensável para os não iniciados na discografia do grupo, que depois das primeiras audições devem juntar suas economias e adquirir os álbuns originais, na íntegra, porque trata-se de uma obra não possível de resumo em apenas 15 músicas. LSM

* Crítica originalmente publicada no site Laboratório Pop: (http://www.laboratoriopop.com.br/criticas/cd/iron-man-2-trilha-sonora/266)

terça-feira, 15 de junho de 2010

Um programa carioca com o punk Richie Ramone

Em uma tarde de sol na Urca, ex-baterista do Ramones descobre o clássico biscoito Globo

Aos pés do Pão de Açúcar, Richie Ramone, ex-baterista da banda punk Ramones, desvia por um segundo sua atenção da bela atriz e cantora Mayana Moura (a Melina, de ‘Passione’) - com quem mais tarde dividiria o palco no show que veio fazer no Rio, em um pub de Copacabana - para mirar um ambulante carregando um saco repleto dos tradicionais biscoitos Globo, que experimentou e gostou.

“Faz três por R$ 5?”, barganha Richie, sacando um chumaço de notas de R$ 50 do bolso. O vendedor, sem entender direito o idioma gringo, aceita a proposta.

(fotos: Eduardo Naddar)

O DIA acompanhou Richie, Mickey Leigh (irmão do sócio fundador do Ramones, Joey Ramone) e Mayana desfrutando um lindo sábado de sol. Descolado, o baterista - que também veio à cidade para a inauguração da loja temática de roupas e acessórios Joey Ramone Place, no Arpoador - jura, mesmo com poucas horas para curtir o Rio, que já entrou no espírito carioca. Ou quase.

“Um punk nunca ri”, decreta o nova-iorquino, cara de poucos amigos, apesar de se revelar um punk extremamente doce, como o sabor do biscoito que comprou. “Aqui, os fãs sabem as letras do Ramones melhor do que a própria banda”, elogia o músico, de 52 anos.

Antes do passeio, Richie já havia almoçado fartamente no badalado restaurante Zozô, ao lado de Mickey. A refeição culminou com uma típica iguaria brasileira, a queijadinha, que o baterista nunca havia provado, mas também devorou com satisfação. Da Urca, a turma partiu para a Praia do Arpoador, doida para ver o pôr do sol do point carioca.

Rock em Copa
No Brasil, Ramones é como uma religião. Fanáticos pela banda encheram a Joey Ramone Place, onde houve farta distribuição de autógrafos de Richie e Mickey Leight.

“O Brasil é o país no mundo com mais fãs do Ramones, por isso decidi montar a loja aqui”, conta Mickey, sócio no negócio.

À noite, no show que lotou o Rock n’ Drinks, em Copacabana, quase todos trajavam camisetas pretas do Ramones. Richie entrou no palco fumando e ouviu reclamação: “É proibido fumar em ambientes fechados!”, gritaram. Mayana também não foi poupada: “Prefiro como filha da Fernandona”, disparou um punk, sobre seu parentesco com Fernanda Montenegro em ‘Passione’.

Outro ex-integrante do grupo, o baixista C.J. Ramone, toca na mesma boate ainda este ano. LSM

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Gil segue andando com fé na boa música

Só um compositor magistral para fazer um disco de forró em pleno entrar do período junino não despertar o cético sentimento de oportunismo e, pelo contrário, soar tão autêntico e natural como se fosse um disco de carreira como outro qualquer, sem um fio condutor.

Gilberto Gil continua um artista interessante neste ‘Fé na festa’. A expectativa por desvendar que inspiradas melodias vai trazer desta vez é no fundo o que desperta mais interesse por esse cara. Registre-se também, sempre, a incrível performance de mestres de seus instrumentos, como são os fiéis escudeiros Sergio Chiavazzoli (guitarra), Arthur Maia (baixo), Toninho Ferragutti (acodeão), Nikolas Krassic (violino) ou Jorginho Gomes (percussão), afiadíssimos. Os diálogos e duelos que a sanfona promove, ora com o violino, ora com a guitarra, respondem pelos mais altos momentos do disco.

Há, para um mais crítico, porém, aquela sonoridade ‘padrãozona’, tudo perfeito até demais, que sente-se falta de um quê orgânico, sujo mesmo, com a ‘marca da caveira’ de outrora, quando fazia canções ainda mais inspiradas, de quando tivera suas melhores ideias musicais, aquelas que o imprimiu na história. Mas tal observação seria muito particular e nem de longe ofuscam as boas novas 13 canções. São sete só de Gil, três parcerias, uma de Luiz Gonzaga, uma de João Silva e uma de Targino Gondim, do hit ‘Esperando na janela’. E da mesma forma desta, foi com ritmos nordestinos que Gil escolheu adornar esta nova safra. Baiões, xotes e xaxados comem solto, mas sobressai por cima o talento do autor.

A opção monotemática pelo sabor nordestino pode cansar a audição, principalmente pelo abusado uso dos coros femininos com os quais pretende-se incrementar os refrães, mas independentemente de qualquer moldura que escolhesse, as músicas seriam igualmente interessantes, com a personalidade de um compositor magistral. LSM

* Crítica originalmente publicada no site Laboratório Pop: http://www.laboratoriopop.com.br/criticas/cd/fe-na-festa/260