terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Irmãos do rock

Em emocionante e histórico encontro, Dinho Ouro Preto e Dado Villa-Lobos detalham a verdade sobre a filiação que os une e anunciam um CD juntos

Dado Villa-Lobos está atrasado. Seu produtor avisa que ele já está chegando, de moto. “De moto?”, surpreende-se Dinho Ouro Preto. “Não sabia dessa novidade, vou dedar para a mãe dele!”, ameaça.

O vocalista do Capital Inicial conhece bem a mãe de seu melhor amigo: ela é mulher de seu pai desde que ele e o guitarrista da Legião Urbana ainda eram crianças. Detalhe: o romance começou em segredo, visto que eles eram casados, e foi um escândalo quando revelado, abalando a estrutura das famílias de diplomatas Villa-Lobos e Ouro Preto. Por conta disso, Dado e Dinho foram criados e cresceram juntos, como irmãos.

Em um emocionante encontro na casa de shows Miranda, na Lagoa, onde Dinho faria um show no dia seguinte, eles resgatam memórias das brincadeiras da infância e adolescência, e dos tempos de sexo, drogas e rock ‘n’ roll da juventude.

Coincidentemente, os dois estão lançando discos solo: Dinho dá um tempo do Capital Inicial e apresenta ‘Black Heart’, repleto de regravações de músicas de seus ídolos, como The Cure, Joy Division e The Smiths, enquanto Dado reúne novas composições em ‘O Passo do Colapso’, que terá show de lançamento no dia 8 de abril, no Theatro Net Rio, em Copacabana.

Além das recordações do passado, eles apontam para uma parceria futura. “Um disco meu com o Dado ainda virá. A gente quer fazer um disco juntos”, anuncia Dinho Ouro Preto.


Afinal, como é essa história de que vocês seriam irmãos?

DINHO OURO PRETO: A gente se conheceu com uns 10 anos de idade e logo nos tornamos melhores amigos. Morávamos no mesmo prédio, em Brasília, as famílias eram muito próximas e a gente nem batia na porta do apartamento do outro, já ia entrando. Até que, alguns anos depois, vem à tona um romance entre meu pai e a mãe do Dado. Foi um escândalo na família! Eles fugiram, foram para os confins da África, na Guiné-Bissau.

DADO VILLA-LOBOS: Imagina só: todo mundo queria saber desde quando aquilo vinha acontecendo sem que ninguém percebesse.

Eles estão juntos até hoje?

DINHO: Sim. Eu, inclusive, passei o último Carnaval com eles, em São Paulo. Nós fomos criados juntos pelo irmão mais velho do Dado, o Luiz Otávio. Por isso dizemos que somos meio-irmãos. Esse período coincidiu com o início do rock de Brasília. Nunca tomamos tantas drogas nem fizemos tantas esbórnias quanto naquela época. Quando nossos pais voltaram, as bandas já estavam rolando e aí era tarde demais.

Então, quer dizer que se o pai do Dinho e a mãe do Dado não tivessem se apaixonado, talvez não existisse Legião e Capital?

DADO: Possivelmente, não. Ou, ao menos, não teriam existido comigo e o Dinho participando.

Vocês chegaram a ter uma banda juntos?

DINHO: Sim, eu fui baixista do Dado & O Reino Animal, uma banda punk instrumental que o Dado formou. Era uma loucura, a gente enchia a cara o dia inteiro e vivia sendo expulso dos bares. E rolava dura da polícia o tempo todo. Uma vez, voltando a pé de um show nosso com o Aborto Elétrico, que era o grupo do Renato Russo, tomamos uma geral e estava todo mundo cheio de maconha. Conseguimos dispensar a droga e os caras foram embora p... da vida! Hoje, falo com tranquilidade sobre drogas porque estou no momento mais saudável da minha vida. Parei de fumar, de cheirar, parei com tudo.

Vocês dois estão lançando discos solo. Já pensaram em lançar algo juntos?

DADO: O meu disco, ‘O Passo do Colapso’, era para ser um disco nosso. Estávamos já conversando sobre repertório e tudo o mais, quando o Dinho sofreu aquele acidente (em 2009, Dinho caiu do palco em Minas Gerais, sofrendo traumatismo craniano leve).

DINHO: Mas esse disco meu com o Dado ainda virá. A gente quer fazer um disco juntos.

E, como típicos irmãos, vocês brigavam muito?

DADO: A gente brigava com nossos irmãos de sangue! Um com o outro, nunca.

Antes de mexer com música, ainda gurizinhos, vocês brincavam de quê?

DADO: A gente gostava de invadir obras ou terrenos baldios para tocar fogo no mato. Uma vez, quase incendiamos uma casa, porque o vento mudou repentinamente. Rolava também brincadeira de polícia e ladrão, skate, carrinho de rolimã e muito futebol.

E vocês eram craques?

DINHO: O Dado era muito bom e joga bem até hoje. Eu sou um pereba.

E brincadeira de salada mista, rolava?

DINHO: Acho que não, porque não tinha mulheres na nossa turma.

Vocês eram pegadores?

DADO: O Dinho era, ele era o maior gato.

DINHO: Rolava sexo desde cedo, com uns 15 anos, mas a gente tinha namoros longos com as punkzinhas da área. A promiscuidade só começou a rolar quando viemos para o Rio e São Paulo. Não se falava nem de homossexualidade. Quando o Renato (Russo) saiu do armário, foi uma surpresa para mim.
Hoje, como vocês analisam a contribuição da turma de Brasília para o rock brasileiro?

DINHO: A gente era muito politizado. Eu não entendo isso que rola atualmente, de ver garotos de 18 anos fazendo letras imbecis e todo mundo achar que deve relevar, ‘porque eles são novinhos’. Pô, que isso?! A gente com 16 anos já lia Kafka, gostava de cinema alemão, participava de movimento estudantil, ia para o Congresso cobrar nosso direitos e achava que o punk estava contribuindo para derrubar o governo.

DADO: Teve uma época que o Dinho começou a imprimir em casa camisas com símbolos comunistas, como a foice e o martelo.

Antes da entrevista, pedimos a fãs que enviassem perguntas para vocês. Muitos perguntaram sobre as tatuagens que ambos têm no braço, e que parecem iguais...

DADO: Não são iguais, são parecidas. Nós dois temos uma serpente tatuada no antebraço.

DINHO: Essa foi a minha primeira tatuagem e, no dia que fiz, em 1985, o Dado foi comigo. Depois eu não parei mais de me tatuar.

Outros quiseram saber se ainda há material inédito de vocês...

DINHO: O Capital tem coisas antigas, fragmentos de composições, que podem virar canções e serem usadas.

DADO: Existe sim, um baú da Legião Urbana ainda a ser lançado, algo que pode virar uma antologia. Existem takes de músicas que não entraram nos discos, e coisas como uma versão para ‘Juízo Final’, do Nelson Cavaquinho, e uma música nossa instrumental chamada ‘O Grande Inverno Na Rússia’, que é dos tempos do Aborto Elétrico. LSM (foto: André Luiz Mello)

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

A volta de Luhli & Lucina

Luhli & Lucina hoje / foto: João Laet

A cantora e compositora Luhli tem uma participação incrível na história da música brasileira. Introduziu seu amigo Ney Matogrosso no Secos & Molhados, contribuindo com as duas músicas mais famosas do grupo (‘O Vira’ e ‘Fala’), e formou, ainda nos anos 70, uma dupla com a parceira Lucina que se tornou célebre pelo pioneirismo no mercado independente e no amor livre. Dez anos depois da última vez que cantaram juntas, Luhli & Lucina estão de volta ao disco e aos palcos, além de ganharem site (www.lulielucina.com.br) e documentário sobre a trajetória.

“Criamos nossos filhos vendendo Brasil afora os discos que gravamos com o dinheiro de uma herança da Lucina. A gente dormia em uma Kombi, que se transformava em palco, com som e luz”, recorda Heloisa Orosco Borges da Fonseca, a Luhli, 67 anos.

O cafofo da Kombi era dividido com o fotógrafo e produtor Luiz Fernando Borges da Fonseca, com quem cada uma teve dois filhos. Eles viveram uma história de amor a três que se misturou com a carreira artística.

“A gente nunca teve uma briga. Formávamos uma bela equipe”, define Lucia Helena Carvalho e Silva, a Lucina, 62.

Luhli completa: “Não éramos as mulheres dele: rolava para todo lado. Não tinha a Aids e era a época do movimento hippie, mas a gente não pensava nesses rótulos, porque tudo era espontâneo. Teve barra pesada com nossas famílias e nos isolamos em um sítio perto de Mangaratiba. Pagamos um preço por termos sido autênticas”.

A dupla nos anos 70 / foto: Luiz Fernando da Fonseca

A dupla se desfez aos poucos depois da morte de Luiz Fernando, em 1990. Hoje, elas não veem mais a possibilidade de a juventude vivenciar algo parecido. “Tinha uma pureza, de todo mundo nu na cachoeira viajando de ácido. Essa geração mais novinha é muito bissexual, mas não tem o desbunde e o romantismo”, classifica Luhli, que mora em uma casinha nas montanhas em Lumiar. “Sou grata aos sacis e às fadas, que até hoje rendem uma graninha que me ajuda”, diverte-se, citando a letra de seu maior clássico, ‘O Vira’.

‘A DUPLA NÃO ERA SÓ O PALCO, ERA A VIDA DELAS’
Com o fim da dupla, Luhli e Lucina tocaram suas carreiras solo. No mês passado, porém, entupiram de gente o Teatro Guaíra, em Curitiba, para uma apresentação especial que deve virar DVD e que vai ter cenas incluídas no documentário que o diretor Rafael Saar está finalizando. “Ainda hoje elas são artistas que fazem o que querem e não estão nem aí para a moda ou para qualquer coisa que não seja a música. Elas nunca mais cantaram juntas porque a dupla não era só o palco, era a vida delas”, define Saar.

Em janeiro, no palco do Teatro Guaíra, em Curitiba

Antes do filme, será lançado o CD ‘Garra Guerreira’, do cantor Denilson Santos, só com músicas de Luhli e Lucina, que também participam do disco. “Já era fã e virei parceiro das duas”, comemora Santos. LSM

Em estúdio com Denilson Santos

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Por onde anda Galvão?

O grupo Novos Baianos surgiu no finzinho dos anos 60 e revelou um punhado de artistas que continuam ativos. Moraes Moreira relê o clássico disco do grupo ‘Acabou Chorare’ junto de seu filho, Davi Moraes; Pepeu Gomes faz seus shows instrumentais; Paulinho Boca de Cantor acaba de lançar novo CD, ‘Forró do Boca’; e Baby do Brasil deu um tempo no período religioso e volta aos palcos com o antigo repertório pagão. Só do letrista Galvão pouco se ouve falar. Mas ele não está nada recluso e, de Salvador, onde mora, detalha seu envolvimento em diversos projetos, incluindo a biografia de João Gilberto, seu conterrâneo de Juazeiro, na Bahia.

“Já está prontinha, só que... ele não autorizou ainda!”, ressalta, soltando uma gargalhada resignada. “Dia desses, ele me ligou às quatro horas da manhã dizendo: ‘Estou gostando tanto do livrinho, acho que vou liberar...’ Vamos torcer”.

Outra biografia que ele anuncia é o relançamento da de sua antiga banda, que escreveu em 1997, mas que vai ganhar nova versão. “Revisei o livro e ficou bem diferente da edição antiga, com um outro nome: sai o ‘Anos 70, Novos e Baianos’ e entra ‘Novos Baianos Por Galvão’. Será lançado no meio do ano pela Editora Azuli”, antecipa.

Galvão fala ainda de uma volta do Novos Baianos aos palcos. “Tem uma produtora batalhando patrocínio para reunir o grupo. Já falou com todos e existe a possibilidade. Não sei se o sonho acabou, mas eu continuo sonhando!”, filosofa o letrista. LSM

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Seu Hendrix

Seu Jorge já havia trocado o Rio de Janeiro  por São Paulo, e agora deixa definitivamente o Brasil para apostar na carreira em Los Angeles, nos Estados Unidos. Mas não sem antes se esbaldar no Carnaval carioca: o cantor e compositor enfileirou marchinhas no baile do Museu de Arte Moderna (MAM) e desfilou na Mangueira. Entre os versos do samba da Verde e Rosa, seu pensamento deixa a batucada por um instante e viaja até o guitarrista Jimi Hendrix, ídolo do rock mundial que ele deve encarnar no cinema.

“Fui convidado a fazer um teste para viver o Hendrix em uma produção internacional. Ainda não sei quem será o diretor e, pelas informações iniciais, será na verdade um longa sobre a Janis Joplin”, conta Seu Jorge, no camarim, depois de cantar no baile do MAM. “Quero muito passar nesse teste, acho que é o maior desafio que já tive na vida. Estou me preparando: fisicamente, já fui mais parecido, mas minha voz chega bem perto da dele. O mais difícil está sendo conseguir tocar guitarra com a mão esquerda, porque ele era canhoto. Mas estou estudando muito para isso”.

Tal preparação exige dedicação, e Seu Jorge vai se virando como pode. Assiste a vídeos e escuta a discografia de Hendrix ao mesmo tempo que prepara um novo CD, um filme com Selton Mello e o lançamento de um livro sobre sua carreira. Em agosto, ele começa a rodar, na Islândia, o longa ‘Soundtrack’, que vai marcar sua estreia na produção. “Estou trabalhando no roteiro junto do Selton Mello e vou atuar, também, no papel de um cientista”, adianta.

A música continua firme. Em Los Angeles, ele prepara o sucessor do bem-sucedido CD ‘Músicas Para Churrasco Vol. 1’. “Os volumes 2 e 3 ainda vão sair, mas antes quero lançar um disco diferente, que vai se chamar ‘Pernada de Saci’ e já está sendo gravado em Los Angeles. Terá a produção do Mario Caldato, participação da cantora belga Zap Mama e vai ser 80% cantado em inglês. Já tem seis músicas prontas, uma delas, ‘Far From The Sun’, é do Robertinho Brant, sobrinho do Fernando Brant, letrista do Clube da Esquina. Eu sou apaixonado pela música mineira e regravei também uma música do Lô Borges. Ainda não vou dizer qual porque nem ele escutou o resultado”, faz mistério.

INVESTIMENTO NOS EUA
Ainda a trabalho no Brasil, nos próximos dias Seu Jorge se apresenta no Espírito Santo, Brasília e Ceará. Só depois volta para a casa nova, em Los Angeles. “Me mudei pensando nas minhas filhas. O melhor lugar para investir na carreira hoje é nos Estados Unidos. E os brasileiros estão no centro dos olhares do mundo todo”, justifica.

DE SEM-TETO A ÍDOLO INTERNACIONAL
Jornalista e fundador do selo Astronauta Discos, Leonardo Rivera é um nome importante no início da trajetória de Seu Jorge. “Indiquei a contratação da banda Farofa Carioca para a PolyGram quando ele era um dos vocalistas, em 1997”, recorda Rivera.

Estas e outras histórias que viveu com Seu Jorge vão ser detalhadas no livro ‘Inteligência é Fundamental’ (título tirado de um verso de ‘Moro No Brasil’, faixa do disco de estreia do Farofa Carioca), que Rivera está finalizando para sair este ano. “Não tenho a previsão exata do lançamento ainda devido às negociações com editoras. Mas o Jorge já leu boa parte do material e aprovou. Será o primeiro livro sobre ele, e vai trazer depoimentos de gente bacana como o ex-presidente da Polygram (atual Universal) Marcelo Castello Branco, Pedro Luis, Ed Motta e Gabriel Moura, entre outros”, detalha.

Seu Jorge e Joey Altruda, no palco do MAM

De borracheiro mirim e sem-teto a artista de expressão mundial, Seu Jorge acumula nessa estrada muitas histórias e elogios sobre seu talento.  O guitarrista e produtor norte-americano Joey Altruda é mais um a se derreter pelo amigo. Apaixonado pela música brasileira, ele está trabalhando nos arranjos dos novos CDs de Roberto Carlos (o de remixes) e de Seu Jorge (a faixa título, ‘Pernada de Saci’, inclusive, é de sua autoria). “Seu Jorge é o Serge Gainsbourg brasileiro”, compara Joey Altruda, citando o lendário cantor e compositor francês. LSM (foto: André Luiz Mello)

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Grand Funk na revista ‘Roda’

Texto meu sobre o clássico álbum E-Pluribus Funk’, da banda Grand Funk Railroad, publicado na edição de número zero da revista online Roda’, editada por Bob Cotrim e com fotos de Daryan Dornelles. A publicação completa, você confere aqui: http://issuu.com/revista_roda/docs/roda_zero

Fã convicto do rock and roll, mais especificamente o rock clássico (sou daqueles 'xiitas' que acham que depois de 1975, o gênero só desceu ladeira abaixo), foi com grande desconfiança que escutei um amigo me falar da banda norte-americana Grand Funk Railroad - ou apenas Grand Funk. Adolescente, estava ainda descobrindo as lendárias bandas e artistas do rock, flutuando nos mais conhecidos da massa - leia-se Beatles, Rolling Stones, Who, etc... - e preconceituosamente torci o nariz para um grupo que trazia no nome o execrável (para os autoproclamados 'puristas', como me considerava) funk, ritmo que tomava de assalto a juventude da época. E nem eram os tempos dos proibidões, registre-se!

A ignorância ainda não me levara a James Brown, para saber que a palavra funk, muito antes de Claudinho & Buchecha, também era coisa das boas. Enfim: confiando no gosto musical do amigo, fui conferir o tal Grand Funk. E a aplicação começou justo pelo ‘E-Pluribus Funk, mais conhecido como o disco da moeda, quinto de estúdio da discografia deles, lançado em 1971, e considerado o ponto alto da carreira.

Foi uma pancada na cabeça, e até hoje é dos discos que deixam de queixo caído qualquer um que trave um primeiro contato com ele. Assim como o nosso funk, e aí não vai nenhuma crítica, o álbum tinha aquele balanço dançante que faz bater o pézinho (não por acaso a faixa de abertura chama-se Footstompin Music, mal traduzindo, daria algo como 'música para o pé ficar batendo') mas sem perder a maldição da caveira - que era como minha turma de fãs do então chamado rock pauleira chamava as bandas repletas de guitarras incendiárias, baixo distorcido e bateria selvagem.

A pancadaria segue nas faixas seguintes, com destaque para I Come Tumblin e o grito antibélico People, Let's Stop The War. No entanto, a agressividade na execução é pontuada com vocais afinadíssimos, um corinho perfeito feito pelo guitarrista Mark Farner e o batera de cabelo black power Don Brewer (completava a formação o baixista Mel Schacher) e que é uma das marcas do Grand Funk.

Nesses nossos tempos digitais, a reedição de  ‘E-Pluribus Funk em CD perdeu parte importante de seu carisma pela limitação dos atuais disquinhos: a capa original era um destaque a parte. Em vez do formato quadrado, era redonda, no formato da bolacha, coberto por um papel prateado, como se fosse uma moeda (daí ser conhecido como o disco da moeda).

A partir do ‘E-Pluribus Funk’, o Grand Funk deixaria de ser um trio, agregando à sua formação o tecladista Craig Frost. Sua música passa, então, a mudar, direcionando-se para um caminho mais comercial. Phoenix, o lançamento seguinte, porém, ainda guarda a centelha dos tempos iniciais e vale uma bela ouvida. Mas, se você é um iniciante na discografia do grupo, vá direto a este ‘E-Pluribus Funk  Sua vida não será mais a mesma, garanto. LSM

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Os Beatles depois dos Beatles

As polêmicas envolvendo a separação dos Beatles vão muito além da questão sobre jogar a culpa em Yoko Ono, a viúva de John Lennon. Depois dos anos de sonho, os quatro integrantes da banda saíram dos estúdios direto para os tribunais, e brigaram feio sobre direitos autorais, editoras, gravadoras, contratos de merchandising e licenciamentos. É esta parte da história dos cabeludos de Liverpool que o jornalista inglês Peter Doggett conta no livro ‘A Batalha Pela Alma dos Beatles’.

As pessoas costumam pensar nos Beatles como a banda perfeita, modelo do movimento de paz e amor e da ideologia dos anos 60, e, mesmo sabendo que eles tinhas suas diferenças, poucos sabem que eles se odiaram depois do fim do grupo. Você acredita que seu livro irá destruir essa imagem de sonho que muita gente tem sobre os Beatles?  
PETER DOGGETT: Certamente não quero destruir o sonho de ninguém. Mas acho que é hora de acabar um pouco com essa mitologia que sempre circulou sobre o grupo e dizer a verdade que realmente aconteceu. No livro, quis mostrar as dificuldades geradas com o fim da banda para os quatro integrantes e suas famílias. Ninguém antes na história tinha lidado com uma situação dessas: de ser muito famoso e carregar nas costas os sonhos de muita gente e ao mesmo tempo ter que se estabelecer como quatro indivíduos independentes, e eles pagaram um preço terrível por esta independência. Embora eles tenham tido comportamentos horríveis contra os outros em algumas ocasiões, embaixo disso tudo existiu muito amor  entre aqueles quatro homens que nenhuma ação na Justiça poderia destruir.

Qual a responsabilidade de Yoko Ono no fim dos Beatles?
PD: Não acho que ela deva ser culpada por isso. Não acredito que ela queria acabar com os Beatles, ou que tenha tentado fazer isso. Ao mesmo tempo, não acho que eles terminariam tão rápido se ela não tivesse aparecido. O que aconteceu foi que ela abriu os horizontes de John Lennon para novas ideias e novas maneiras de ser um artista em um momento que ele estava começando a se sentir amarrado no grupo. Como John sempre foi um cara que fazia coisas de uma forma dramática, ele imediatamente transferiu toda sua lealdade de Paul para Yoko. E depois disso acontecer, era impossível para os Beatles continuar da mesma forma que antes. Então, se Yoko não tivesse chegado, os Beatles talvez tivessem continuado por mais alguns anos, mas não acredito que John seria feliz. Então, o término teria acontecido mais cedo ou mais tarde.


Embora John Lennon seja usualmente relacionado com a paz, no livro a impressão que dá é que ele não era essa pessoa pacífica que imaginamos... ele nos enganou durante todos esses anos?
PD:  Não acho que ele estivesse fingindo. Tenho certeza de que ele era apaixonado pela paz, ou então não teria dispendido tanto tempo e dinheiro à sua campanha. Mas, ao mesmo tempo, ele ainda era o mesmo jovem atormentado e violento que passou uma infância e adolescência difícil em Liverpool. Então, ele era capaz de pregar a paz no mundo ao mesmo tempo que dá um soco em alguém que o decepcionou. Você pode chamar isso de hipocrisia, ou apenas dizer que ele era um ser humano normal, como todos nós.

Você acredita que os leitores ficarão chocados ao saber que George Harrison, com aquela imagem de cara espiritualizado, estava envolvido com drogas pesadas e que flertou com a irmã de sua mulher?
PD: Estou certo de que alguns leitores ficarão chocados, mas, assim como John, George era humano, e os humanos são usualmente cheios de contradições. Ele não era o único roqueiro envolvido com drogas nos anos 60 e 70, e certamente não foi o único cara que ficou interessado na irmã de sua mulher. O problema é que a mídia gosta de colocar os famosos em pequenas caixas, então George foi o "beatle quieto", virou o "beatle espiritualizado" e depois o "beatle mais interessado em dinheiro". Na realidade, ele foi todas essas coisas ao mesmo tempo, e tentava lidar com sua devoção às suas crenças religiosas ao mesmo tempo que tinha seus casos e comprava carros esporte caríssimos.

O que você acha que teria acontecido se John e Paul tivessem feito novas canções e gravado nos anos 70, quando John estava separado de Yoko Ono e isso quase se tornou realidade?
PD: É uma pergunta fascinante. Gostaria de saber a resposta... na verdade, eu gostaria que isso tivesse acontecido! Mas acredito que se John e Paul tivessem colaborado nos anos 70, as pessoas iriam ter tantas expectativas que seria impossível supri-las. Então, acho que seja lá que novas músicas tivessem feito, alguns críticos e parte do público ficariam desapontados. Acho também que seria muito difícil emocionalmente para John e Paul trabalharem juntos por um longo período, como fizeram nos anos 60. Em mundo ideal, John teria visitado Paul nas gravações de seu disco 'Venus & Mars', dado algumas boas ideias em algumas músicas e arranjos, apresentado algumas novas canções e eles teriam se divertido tanto que, em uma próxima oportunidade, chamariam George e Ringo e fariam um disco inteiro juntos. Mas, não importa o quanto boa suas novas músicas fossem, e tenho certeza de que seriam, eles nunca conseguiriam mudar o mundo como fizeram nos anos 60. Aquele tipo de coisa só acontece uma vez... LSM