quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

‘É um horror o peso desse sobrenome’, diz Nana Caymmi

Aos 71 anos, Nana Caymmi continua com a voz e a língua afiadas: “Nunca vi raça para reclamar mais que sambista. É o samba que não pode morrer, é o samba que pede passagem, é o samba que está com diarreia... o samba não se considera, foi a conclusão a que cheguei”, dispara.

Autêntica e naturalmente desbocada, ela é dona de um registro vocal único, forte e cheio de nuances, como atesta a recém-lançada caixa ‘A Dama da Canção’, que reúne 18 discos — com direito a todos os encartes, letras e artes gráficas originais — e mais um CD duplo com 41 faixas, entre raridades e outras pouco conhecidas. Feliz com o projeto revisionista, Nana, porém, já está com a cabeça em seu próximo CD e DVD: um tributo ao centenário de seu pai, o saudoso Dorival Caymmi (1914-2008), a ser comemorado no ano que vem.

“Meu irmão Dori Caymmi que está produzindo isso. Agora, se ele vier com gracinhas, arrumo minhas trouxas e mando ele tomar no c...”, garante, fazendo justiça à sua fama de mulher com temperamento forte e que nunca abriu mão de suas convicções artísticas. “Sou de uma geração que não dava palpite. A mulher era só para trepar. Aí, quando apareceram eu, Elis Regina, esse tipo de mulher que avança, nos chamaram de bravas”.

Nana Caymmi conta que teve que se impor para sobressair dentro de uma família musicalmente tão talentosa. “É um horror o peso desse sobrenome. Não posso jogar em um time desses se eu não for um Messi”, avalia, citando o craque do Barcelona e atual melhor jogador de futebol do mundo. “Com o pai que tinha e os irmãos que tenho, nunca posso fazer algo menor, ou pensando apenas em dinheiro. Já vi produtores falarem: ‘se você quer vender, então tem que cantar esse determinado tipo de música’. Eu ia sentir vergonha se fizesse isso”.

Ao ouvir as gravações antigas de Nana resgatadas na caixa, desde os anos 60 quando era casada com Gilberto Gil, constata-se que sua voz perdeu pouco ou quase nada com o passar das décadas. “Sempre tive muito cuidado com isso. Quem perde a voz com o tempo é porque não se cuida”, decreta.

Mas, Nana, em seu disco de 1977, você aparece na capa em várias fotos fumando um cigarro... “Nunca fumei! Ganhei um isqueiro, aí fiz um tipo para aquelas fotos”, explica.

‘NÃO VI O THE VOICE BRASIL, PREFIRO O SILVIO SANTOS’
Nana Caymmi lamenta a escassez de cantores originais na cena musical brasileira. Ela conta que sequer se interessou, e que viu com desconfiança o recém caça-talentos televisivo ‘The Voice Brasil’. “Eu não sou maluca de assistir isso. Prefiro o Silvio Santos. Gosto daquelas perguntas que ele faz naquele joguinho que tem uma roda. Procurar cantor não me atrai mais, não”, descarta. “E mais: não entendo qual o critério de escolha desses candidatos. Acredito que exista um alto comando ali atrás que decide, ou um teste do sofá... na boa, quem seleciona isso deve ser um bom filho da p...”, reclama.

Outra coisa também incomoda a carioca Nana: a desordem urbana do Rio. “Parece que sofremos uma guerra. Às vezes me sinto nos países árabes. Estou me afastando e indo para Pequeri, em Minas, não aguento o Rio como está. Vamos ver se vai surgir uma nova cidade para a Copa”, torce. LSM

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