quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Com Rildo Hora, Gustavo Lins tenta se afastar do rótulo popularesco de pagodeiro romântico

Nunca é muito cedo, ou muito tarde, para mudar. Aos 25 anos, Gustavo Lins acredita que a hora é agora. Com a ajuda do badalado instrumentista, arranjador e produtor Rildo Hora, ele quebra um jejum de quatro anos e volta ao disco com ‘Não É Força, É Jeito’. A parceria promete afastar o cantor e compositor do rótulo de pagodeiro romântico, que o acompanha graças às baladas no gênero popularesco que são sua marca desde que despontou em 2003, com o sucesso da música ‘Pra Ser Feliz’.

“O Rildo é um maestro. Ele trouxe uma sofisticação interessante à minha música, e estou muito receptivo para perceber esta mudança. Quero me envolver cada vez mais com o samba tradicional, e isso está acontecendo de uma forma natural. ‘Não É Força, É Jeito’ é um disco mais alegre que os outros que já lancei. Também tem sambas românticos, mas fala de amor de um jeito mais alto-astral”, define Gustavo Lins.


Rildo Hora, nome por trás de importantes lançamentos de célebres sambistas, como Martinho da Vila, Beth Carvalho e Zeca Pagodinho, ‘deu um jeito’ em boa parte do novo CD de Gustavo Lins, produzindo seis faixas. Chamado de ‘Midas do samba’, ele é tido como grife do gênero, e conhecido por transformar em disco de ouro os projetos que levam sua assinatura.

“Puxa, sei que tenho cara de 35, mas já estou com 72 anos. Se me fazem essas adjetivações todas, é porque meu trabalho até hoje não foi em vão”, diverte-se o produtor, cheio de modéstia. “O Gustavo deve continuar na sua música romântica, que sabe fazer muito bem, mas também pode compor bons sambas, que parecem com os chamados sambas de raiz. Ele é um dos grandes valores da nova geração. Não é um artista efêmero. Vai ficar na história do samba como um grande representante”, atesta.

Gustavo Lins não teme perder antigos fãs com a nova fase musical. Muito pelo contrário. Ele acredita que vá, inclusive, resgatar o sucesso do primeiro lançamento, êxito que nunca conseguiu repetir. “A música título, ‘Não É Força, É Jeito’, traz uma mensagem muito boa e pode ser um outro ‘Pra Ser Feliz’. A receptividade ao novo disco está ótima e estou muito satisfeito por dar esse passo à frente como artista”, comemora Lins. “Meu último CD foi lançado em 2008. Tirei esses quatro anos para me renovar, para refletir qual seria o próximo passo. São nove anos de carreira e, no início, eu lancei um disco atrás do outro. Realmente precisava dar uma repensada”.

Gustavo Lins assina um punhado de canções gravadas por Belo, Exaltasamba, Sorriso Maroto e Pique Novo, entre outros nomes do pagode. O jovem artista promete que vai continuar munindo essa turma de composições, e anuncia que 2013 será um ano de festa. “Vou completar 10 anos de estrada, quero preparar algo grande para marcar a data. Até lá, as pessoas podem esperar que vou compor muitas músicas, só que agora como um artista cada vez mais autêntico, com identidade cada vez mais forte”, decreta.

MAESTRO DO SAMBA
Gaitista, violinista, cantor, compositor, arranjador e produtor, o pernambucano Rildo Alexandre Barreto da Hora veio para o Rio com apenas 6 anos. Por conta disso, e de sua forte aproximação com o samba na cidade, se considera um autêntico carioca. Criado em Madureira e atual morador da Lagoa, parece que só há uma coisa de que ele goste mais do que a Cidade Maravilhosa onde escolheu viver: se debruçar em cima de partituras para criar seus arranjos.

“Passei o Carnaval escrevendo, devagarzinho, os arranjos do próximo disco do Martinho da Vila. Hoje fiquei umas cinco horas trabalhando em uma delas. Não é fácil mexer no som de um cara que é craque”, conta.

Fera, Rildo Hora, sem dúvida, também é. Mas o que o diferencia de outros músicos, produtores e arranjadores, e que lhe conferiu a marca inconfundível que faz sua assinatura ser tão valorizada? Ele mesmo tenta explicar: “Para começar, tenho uma extrema dedicação ao trabalho dos artistas que me procuram. Tenho um jeito próprio de fazer os arranjos, e procuro não repetir, senão todo mundo ficaria igual. Porém, claro, alguns elementos fazem parte do meu estilo, e isso fica evidente. Gosto de usar o violão de 7 cordas, e a percussão com determinadas nuances que são características minhas, coisas que eu faço há tempos, desde quando comecei a trabalhar com o Martinho da Vila e com a Beth Carvalho”, define.

O som de seu mais novo pupilo, Rildo Hora elogia e diz que não teve muito trabalho para lapidar, que estava lá tudo quase perfeito.

“Não mexi na célula mãe de sua obra, só acrescentei algumas coisas do meu mundo. Nossa integração dentro do estúdio foi total. O Gustavo canta muito afinado e alcança as notas agudas sem fazer força, além de tocar violão muito bem”, atesta. LSM (foto Maíra Coelho)

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