terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Irmãos do rock

Em emocionante e histórico encontro, Dinho Ouro Preto e Dado Villa-Lobos detalham a verdade sobre a filiação que os une e anunciam um CD juntos

Dado Villa-Lobos está atrasado. Seu produtor avisa que ele já está chegando, de moto. “De moto?”, surpreende-se Dinho Ouro Preto. “Não sabia dessa novidade, vou dedar para a mãe dele!”, ameaça.

O vocalista do Capital Inicial conhece bem a mãe de seu melhor amigo: ela é mulher de seu pai desde que ele e o guitarrista da Legião Urbana ainda eram crianças. Detalhe: o romance começou em segredo, visto que eles eram casados, e foi um escândalo quando revelado, abalando a estrutura das famílias de diplomatas Villa-Lobos e Ouro Preto. Por conta disso, Dado e Dinho foram criados e cresceram juntos, como irmãos.

Em um emocionante encontro na casa de shows Miranda, na Lagoa, onde Dinho faria um show no dia seguinte, eles resgatam memórias das brincadeiras da infância e adolescência, e dos tempos de sexo, drogas e rock ‘n’ roll da juventude.

Coincidentemente, os dois estão lançando discos solo: Dinho dá um tempo do Capital Inicial e apresenta ‘Black Heart’, repleto de regravações de músicas de seus ídolos, como The Cure, Joy Division e The Smiths, enquanto Dado reúne novas composições em ‘O Passo do Colapso’, que terá show de lançamento no dia 8 de abril, no Theatro Net Rio, em Copacabana.

Além das recordações do passado, eles apontam para uma parceria futura. “Um disco meu com o Dado ainda virá. A gente quer fazer um disco juntos”, anuncia Dinho Ouro Preto.


Afinal, como é essa história de que vocês seriam irmãos?

DINHO OURO PRETO: A gente se conheceu com uns 10 anos de idade e logo nos tornamos melhores amigos. Morávamos no mesmo prédio, em Brasília, as famílias eram muito próximas e a gente nem batia na porta do apartamento do outro, já ia entrando. Até que, alguns anos depois, vem à tona um romance entre meu pai e a mãe do Dado. Foi um escândalo na família! Eles fugiram, foram para os confins da África, na Guiné-Bissau.

DADO VILLA-LOBOS: Imagina só: todo mundo queria saber desde quando aquilo vinha acontecendo sem que ninguém percebesse.

Eles estão juntos até hoje?

DINHO: Sim. Eu, inclusive, passei o último Carnaval com eles, em São Paulo. Nós fomos criados juntos pelo irmão mais velho do Dado, o Luiz Otávio. Por isso dizemos que somos meio-irmãos. Esse período coincidiu com o início do rock de Brasília. Nunca tomamos tantas drogas nem fizemos tantas esbórnias quanto naquela época. Quando nossos pais voltaram, as bandas já estavam rolando e aí era tarde demais.

Então, quer dizer que se o pai do Dinho e a mãe do Dado não tivessem se apaixonado, talvez não existisse Legião e Capital?

DADO: Possivelmente, não. Ou, ao menos, não teriam existido comigo e o Dinho participando.

Vocês chegaram a ter uma banda juntos?

DINHO: Sim, eu fui baixista do Dado & O Reino Animal, uma banda punk instrumental que o Dado formou. Era uma loucura, a gente enchia a cara o dia inteiro e vivia sendo expulso dos bares. E rolava dura da polícia o tempo todo. Uma vez, voltando a pé de um show nosso com o Aborto Elétrico, que era o grupo do Renato Russo, tomamos uma geral e estava todo mundo cheio de maconha. Conseguimos dispensar a droga e os caras foram embora p... da vida! Hoje, falo com tranquilidade sobre drogas porque estou no momento mais saudável da minha vida. Parei de fumar, de cheirar, parei com tudo.

Vocês dois estão lançando discos solo. Já pensaram em lançar algo juntos?

DADO: O meu disco, ‘O Passo do Colapso’, era para ser um disco nosso. Estávamos já conversando sobre repertório e tudo o mais, quando o Dinho sofreu aquele acidente (em 2009, Dinho caiu do palco em Minas Gerais, sofrendo traumatismo craniano leve).

DINHO: Mas esse disco meu com o Dado ainda virá. A gente quer fazer um disco juntos.

E, como típicos irmãos, vocês brigavam muito?

DADO: A gente brigava com nossos irmãos de sangue! Um com o outro, nunca.

Antes de mexer com música, ainda gurizinhos, vocês brincavam de quê?

DADO: A gente gostava de invadir obras ou terrenos baldios para tocar fogo no mato. Uma vez, quase incendiamos uma casa, porque o vento mudou repentinamente. Rolava também brincadeira de polícia e ladrão, skate, carrinho de rolimã e muito futebol.

E vocês eram craques?

DINHO: O Dado era muito bom e joga bem até hoje. Eu sou um pereba.

E brincadeira de salada mista, rolava?

DINHO: Acho que não, porque não tinha mulheres na nossa turma.

Vocês eram pegadores?

DADO: O Dinho era, ele era o maior gato.

DINHO: Rolava sexo desde cedo, com uns 15 anos, mas a gente tinha namoros longos com as punkzinhas da área. A promiscuidade só começou a rolar quando viemos para o Rio e São Paulo. Não se falava nem de homossexualidade. Quando o Renato (Russo) saiu do armário, foi uma surpresa para mim.
Hoje, como vocês analisam a contribuição da turma de Brasília para o rock brasileiro?

DINHO: A gente era muito politizado. Eu não entendo isso que rola atualmente, de ver garotos de 18 anos fazendo letras imbecis e todo mundo achar que deve relevar, ‘porque eles são novinhos’. Pô, que isso?! A gente com 16 anos já lia Kafka, gostava de cinema alemão, participava de movimento estudantil, ia para o Congresso cobrar nosso direitos e achava que o punk estava contribuindo para derrubar o governo.

DADO: Teve uma época que o Dinho começou a imprimir em casa camisas com símbolos comunistas, como a foice e o martelo.

Antes da entrevista, pedimos a fãs que enviassem perguntas para vocês. Muitos perguntaram sobre as tatuagens que ambos têm no braço, e que parecem iguais...

DADO: Não são iguais, são parecidas. Nós dois temos uma serpente tatuada no antebraço.

DINHO: Essa foi a minha primeira tatuagem e, no dia que fiz, em 1985, o Dado foi comigo. Depois eu não parei mais de me tatuar.

Outros quiseram saber se ainda há material inédito de vocês...

DINHO: O Capital tem coisas antigas, fragmentos de composições, que podem virar canções e serem usadas.

DADO: Existe sim, um baú da Legião Urbana ainda a ser lançado, algo que pode virar uma antologia. Existem takes de músicas que não entraram nos discos, e coisas como uma versão para ‘Juízo Final’, do Nelson Cavaquinho, e uma música nossa instrumental chamada ‘O Grande Inverno Na Rússia’, que é dos tempos do Aborto Elétrico. LSM (foto: André Luiz Mello)

Nenhum comentário:

Postar um comentário