quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Ai se eu te.. o quê?

Frejat fala da volta do Barão Vermelho, se derrete tocando com os filhos, solta os cachorros nas biografias dos anos 80 e assume que nunca ouviu a música de Michel Teló

Os olhos do cantor, compositor e guitarrista Roberto Frejat brilham que nem criança ao contar as recentes experiências musicais com os filhos, Rafael, de 15 anos, e Julia, de 12. Ele também está entusiasmado com o novo show ‘A Tal da Felicidade’ e com a volta do Barão Vermelho aos palcos este ano. Mas nem o projeto solo nem com a banda trazem novas canções. Isso tem rolado mesmo em família.

“Eles estão se interessando por música e é um grande barato tocar com eles. Fizemos uma canção juntos, os três”, começa, sorriso largo de pai coruja no rosto. “Fiz a melodia para uma letra que a Julia escreveu, chamada ‘Maria’, que dedicou para uma amiga dela. Gravamos, o Rafael tocou guitarra e baixo e a Julia cantou. Daí, eu queria colocar na Internet, mas ela vetou! Até a amiga Maria aprovou, mas a Julia pediu para não divulgar ainda”, conta, com certa frustração pelo veto da filha.

Enquanto a pequena se descobre letrista, Rafael já está caindo dentro da guitarra. O paizão, sempre atento e preocupado, acompanha de longe, sem interferir muito.

“A vida do músico é difícil. Eu não sou músico, sou artista!”, decreta. “O músico pode passar a vida toda tocando o que não gosta e com quem não gosta. Rafael ainda não disse se quer ser profissional. Hoje, é ainda mais difícil vencer nesta profissão do que na época em que comecei”, ensina.

Sobre esses velhos tempos, os anos 80, Frejat reclama que a história da década ainda não foi bem contada, e anuncia que um dia gostaria ele mesmo de expor sua versão dos fatos.

“Aquela década é subestimada por muita gente. Sempre fazem uma visão muito simplista e boba, e tem muita coisa interessante que é colocada de lado. Fãs e amigos vivem pedindo para eu contar minhas memórias. Preciso começar a gravar as histórias para não esquecer. Aí, um dia dou as fitas para uma pessoa escrever e depois reviso”, planeja o músico, digo, artista, quase cinquentão (completa 21 de maio). “Ainda é cedo, até porque eu acho que uma pessoa de 50 anos não pode escrever livro de memórias. Parece que a pessoa está sem memória! Isso se faz aos 70, 80 anos”.

Impressão, ou foi uma provocação com o contemporâneo Lobão, que lançou a sua biografia em 2010? “Não! O livro do Lobão eu comprei, mas ainda não li. É um best seller, então deve ser muito bom”, esquiva-se.

Enquanto não revisa o passado, Frejat se atualiza com o presente. Recentemente lançou site e entrou no Twitter e Facebook. “Só não ouvi ainda o sucesso do momento, do Michel Teló. Mas toda música boa tem um refrão forte. Por isso, não acho ‘Ai Se Eu Te Pego’ menor que ‘Aquele Abraço’, do Gil”, compara.

‘ESTOU CANTANDO CADA VEZ MELHOR’
A parceria em família continua no novo show solo de Frejat: o filho Rafael está escalado para dar uma canja com o pai. Desde que gravou no disco que Frejat lançou em 2008, ‘Intimidade Entre Estranhos’, até o Rock In Rio, ano passado, o garoto vive dando uma palinha. O repertório de ‘A Tal da Felicidade’ é um grande baile, passeando pelos sucessos de sua carreira, desde o Barão Vermelho, até clássicos de Tim Maia, Erasmo Carlos, Gilberto Gil e Caetano Veloso, além de ‘A Felicidade Bate à Sua Porta’, de Gonzaguinha, primeiro sucesso das Frenéticas e que dá nome ao show.

“Gosto muito de cantar músicas de outras pessoas. É um show de intérprete e, na boa, modéstia à parte, estou cantando cada vez melhor”, gaba-se Frejat.

Pouco a pouco, bancando do próprio bolso, ele vem gravando essas canções antigas que selecionou para a apresentação. “Isso pode virar um disco, mas por enquanto a ideia é liberar na Internet”, conta, ressaltando que também vem compondo inéditas com amigos como Luiz Melodia e Jards Macalé. Este, prepara um disco relendo a obra de Nelson Cavaquinho, que o próprio Frejat vai coproduzir com Arlindo Cruz.

Passado o show de covers,o foco vai para a celebração, a partir de maio, dos 30 anos do lançamento do primeiro disco do Barão Vermelho. “Estou com os integrantes originais da banda remixando o disco, que virá com um grande ‘Kinder ovo’: uma canção inédita daquela época, que sabíamos da existência, claro, mas nunca lançamos”, antecipa sobre a faixa, que nunca foi batizada e cujo título ainda está sendo escolhido pelos integrantes.

O Barão, então, sairá em turnê — provavelmente a última da carreira do grupo — para festejar sua história, com direito a participação do baixista original, Dé Palmeira, e de quem mais desses 30 anos de estrada aparecer. “A gente adora o bundalelê de enfiar todo mundo no palco. A ideia é só fazer grandes apresentações, mas poderia rolar um show temático, só com as músicas daquele disco, no Circo Voador”, vislumbra Frejat. LSM (foto: Fernando Souza)

Um comentário: