quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Feira legal

Como Marcelo D2 se transformou de inimigo público no empresário bem sucedido, que abre lojas itinerantes e distribui produtos personalizados em quermesse montada nos shows de lançamento do novo CD

Quase nada pode parar Marcelo D2. Na entrada de um estúdio em Botafogo, um comboio 'bossanovístico' atravessa seu caminho e ali não tem jeito: ele para pelo menos uns dez minutinhos para celebrar afinidades com Marcos Valle, Carlos Lyra e Wanda Sá. João Donato saíra minutos antes, do ensaio para a gravação do DVD dela. "Pô, vocês têm que ir no meu show", convida Marcelo D2, que ensaiaria logo em seguida. "Estou lançando meu novo CD, 'Nada Pode Me Parar', e vou montar uma feira com rádio própria, tocando todas as pessoas que eu sampleei, entre elas você, Marcos Valle (o refrão 'É mentira...', na música 'Contexto' do grupo Planet Hemp, que D2 integrou, é chupado de 'Mentira', de Valle). E vai ter também a Barraca da Larica e brincadeiras como Acerte o Baseado Na Boca do D2", detalha, sem perceber uma cara de semiconstrangimento que toma Wanda Sá e Carlos Lyra.

Talvez mais acostumado com o entusiasmo legalizado de D2, Marcos Valle dá linha em um papo que termina com abraços calorosos dos quatro e o convite dela para que D2 também compareça ao show que fará com os amigos.

Já na mesa do boteco da esquina, entre um gole e outro de cerveja enquanto sua banda aperta as carrapetas dentro do estúdio para o ensaio começar, ele conta ainda que a tal Feira MD2 - Nada Pode Me Parar terá também  Playstations com jogos Fifa 14 (premiando com camisas e tênis) e Skate 3 (premiando com camisas e shapes Drop Dead), Print Gram (impressão de fotos diretamente do instagram para todos que postarem lá fotos do evento com a hashtag #nadapodemeparar) e as barracas Qualé A Música, Retrato Falado (que faz caricaturas do público em um cartaz 'Procura-se') e Acerte Os Felas (inspirado em uma música do disco novo, e premiando com latas de cerveja). Os brindes, que incluem ainda papéis para enrolar cigarros (a popular seda) e isqueiros, são todos personalizados com a marca MD2.

Afinal, como o ex-inimigo público número 1 (de quando foi preso com o Planet Hemp por cantar músicas que fazem apologia à maconha, em 1997) se transformou em um bem sucedido homem de negócios, sendo procurado para agregar valor a grandes marcas como Fifa e Nike.

"Quem me chamava de inimigo público eram delegados, juízes, políticos... agora é a vez deles irem para trás das grades", provoca, referindo-se às prisões do Mensalão. "Nasci em Madureira, fui criado no Andaraí, e vivi muitos anos na Lapa. Conheço tudo desses bairros e antes do sucesso eu fui camelô por muito tempo, cheguei a ter barraca no Catete, onde vendia muambas que trazia do Paraguai. Acho que sempre fui um bom vendedor. Vendi também em lojas de moveis no Catete, trabalhei no setor de guarda-chuvas da Mesbla (extinta loja de departamentos, muito popular nos anos 80) e em loja de roupas em Maringá, no Paraná. E recentemente abri duas 'pop-up stores' (uma espécie de loja itinerante) em São Paulo e Nova York, onde vendi produtos personalizados como roupas e acessórios, CDs, skates. É por isso que estou montando essa grande feira na nova turnê".

A inspiração para criar seus próprios produtos, recorda D2, veio do grupo norte-americano de hard rock Kiss. "Desde guri eu ficava fascinado com o fato de eles fazerem vários produtos com a marca da banda, desde bonequinhos até vibrador, que trazia na ponta a língua do Gene Simmons (o icônico baixista do Kiss, que se veste como o homem-morcego)", detalha, às gargalhadas. "Mas não vou chegar a esse ponto, pode ficar tranquilo", garante.

A despeito de todo o sucesso como empresário, Marcelo D2 não se considera um homem de negócios, e atesta que seu ramo é mesmo a música. "Eu acordo todo dia às três da tarde, não dá para ser executivo assim, né?", diverte-se.

NA ESTRADA
A turnê 'Nada Pode Me Parar' roda o Brasil até o fim do verão, quando parte para Paris e, de lá, para a Europa e Ásia, durante o verão do hemisfério norte, passando por 18 países.

"Eu fiz um clipe para cada uma das 15 músicas desse disco novo, mas até agora só mostrei três. Então, eu tenho ainda 12 clipes inéditos, que vou lançando durante a turnê. O próximo será da música 'Você Diz Que o Amor Não Dói', que gravei em uma favela de Angola, com rappers de lá, e vai sair já na semana que vem", antecipa D2.

MANTENDO O RESPEITO
Foi um baita transtorno a prisão com o Planet Hemp nos anos 90, mas hoje, olhando em retrospecto, Marcelo D2 orgulha-se de ter aberto portas para o diálogo na sociedade sobre a legalização da maconha: "As pessoas sempre quiseram associar a maconha ao marginal. Eu nunca roubei dinheiro de ninguém, nunca desviei verbas públicas. Acho que depois do Planet, as pessoas começaram a ver que o cara que fuma maconha também pode ser legal. Essa foi a aposta que eu fiz. E paguei o preço".

Perguntado se acredita que um dia ainda verá a maconha ser legalizada no Brasil, D2 hesita, pensa, balança a cabeça... e desconversa: "Para mim, já está legalizada há muito tempo!". LSM (foto: Fernando Souza)

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