quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Alceu Valença, um ‘carioca de Olinda’

O pequeno Rafael, 12 anos, quer porque quer um Playstation. O pai, Alceu Valença, 67, se recusa a comprar o caro videogame. O garoto não se dá por vencido e pergunta se pode montar uma banquinha na rua para vender uns antigos CDs do coroa que estão encostados em um canto da casa da família, em Olinda, Pernambuco.

“Ele é inventor! Vendeu tudinho, conseguiu R$ 1.500 e comprou o tal Playstation. E eu notei que sou mesmo uma atração por lá. As empresas de turismo ganham muito com isso, só eu que não ganhava!”, diverte-se o pernambucano Alceu, que nasceu em São Bento do Una e hoje se divide entre o Rio e Olinda.

A partir da iniciativa do filho, sua mulher, Yanê Montenegro, resolveu profissionalizar a ideia. E assim nasceu a loja Tudo AV, em Olinda, mas que também viaja com Alceu Brasil afora. No próximo dia 29, por exemplo, quando faz show no Teatro Oi Casagrande, no Leblon, estará lá uma barraquinha da Tudo AV.

“Tem almofadas, camisetas, chaveiros, isqueiros, relógios e diversos outros produtos com estampas inspiradas nos meus discos”, anuncia o cantor.


Para esse show, em formato acústico (acompanhado por seu inseparável guitarrista, Paulo Rafael), ele tem outros anúncios a fazer: a participação da bela e talentosa sanfoneira paraibana Lucy Alves, que ele descobriu, e os 30 anos de uma de suas músicas mais populares, 'Anunciação’ (aquela do refrão ‘tu vens... tu vens...’).

“Em 1983, eu estava brincando com uma flauta no jardim da minha casa em Olinda. Lembro até hoje, era uma flauta simples que comprei de um hippie no Rio Grande do Sul. Foi aí que me surgiu a melodia de ‘Anunciação’. Minha namorada ouviu aquilo e falou: ‘Que música bonita essa que você está tocando...’. Mas ainda não era música nenhuma”, recorda. “Inspirado, saí tocando pelo quintal e lá estavam as roupas no varal. Fui até a rua, e ouvi o sino da catedral... isso tudo foi colocado na letra da música depois. Naquele tempo, dava para sair tranquilamente dançando pela rua. Nem autógrafo pediam, porque na época era cafona. E também não tinha telefone celular, para as pessoas ficarem tirando fotos! Graças a Deus!”, diverte-se.


PAPA DEMAIS
Alceu solta a expressão ‘graças a Deus’ várias vezes durante o papo. E é dele a canção ‘Tomara’, que repete em vários versos a frase ‘Tomara, meu Deus, tomara’ (e que se tornou uma espécie de hino das manifestações recentes no País). Mas, religião, ele não segue nenhuma.

“Sinto que as questões de Deus são algo bem maior, uma energia cósmica. Falaram que Deus deveria ter evitado a chuva durante a visita do Papa... pô, acho que ele não se mete muito nesses problemas da Terra”, comenta. “Eu não tenho religião, mas gostei do Papa, achei que ele é muito carismático, lúcido e inteligente. Já minha mãe, que é católica, não aguentava mais. Chamei-a para ver o Papa na televisão, ela disse: ‘Mas nem se ele estiver vestido de mulher!’. Foi Papa demais pra ela”, brinca o artista.

Sempre travesso, Alceu até hoje desobedece Dona Adelma Valença, 99 anos. “Ela falou que eu pareço mais jovem sem barba, e disse: ‘Ou tira ou pinta de preto! Faça isso, o povão gosta de ser enganado!’”, conta, às gargalhadas.

Apesar das orientações da mãe, ele mantém o cavanhaque. E não pintou de preto. Para o rejuvenescimento, Alceu conta que segue os conselhos de um antigo amigo. “Tem um artista plástico chamado Bill de Olinda que me ensinou que, para ser eternamente jovem, é só se olhar no espelho todo dia e dizer: ‘Eu gosto de você’”.

APOSTA PARAIBANA
Para a apresentação no Oi Casagrande, dia 29, Alceu vai chamar ao palco uma jovenzinha sanfoneira da Paraíba que o encantou. Tanto que, desde o ano passado, ela tem participado de apresentações suas. Revelação do instrumento, a linda e talentosa Lucy Alves também é cantora e integra, em seu estado, o grupo Clã Brasil.

“Conheci a Lucy quando fui tocar em uma festa de fim de ano de uma empresa, em Pernambuco. Ela se apresentou antes e fiquei tão entusiasmado com seu talento que pedi espontaneamente para dar uma canja”, relata.

Alceu Valença tem seis tipos de shows diferentes, que faz questão de enumerar e detalhar com orgulho: “Anote aí, viu? Tem o que faço no período de São João, que é forrozão; tem o de Carnaval, repleto de frevo e maracatu; o que chamo de ‘Metropolitano’, só com os sucessos da carreira; montei também o ‘Valencianas’, que é um concerto com a Orquestra de Cordas de Ouro Preto; tem ainda o meu show de rock, que é baseado no meu disco ‘Vivo’, de 1976; e tem esse acústico, que trago de volta ao Rio, no qual toco com meu amigo de anos Paulo Rafael”, lista. LSM (fotos Alceu: Felipe O'Neill) 

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