sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Volta por cima

O mundo do samba está em festa, afinal, Beth Carvalho está de volta aos palcos. Foram quase dois anos com longos períodos internada por conta de um sério problema na coluna: uma fissura no sacro. Amanhã, no Vivo Rio (mesmo palco onde fizera o último show, em maio de 2012), ela vai cantar sentada (“Um monte de gente faz show sentado, o Caetano, o Ivan Lins, o João Gilberto, qual o problema?”, questiona ela). Tudo bem, Beth! O que importa é que a voz está 100%. Em sua casa, a sambista, que se movimenta com a ajuda de um andador, conta que já pode fazer quase tudo. Até beber uma cervejinha?

“Já falaram que me viram muitas vezes bêbada na Lapa. Mas como, se eu não bebo? É que acham que cerveja e samba estão sempre juntos, mas eu tomo no máximo champanhe, sou fina”, diverte-se ela.


Sorrisão no rosto, nem parece que a barra pesou nesses tempos em cima de uma cama, em casa e no hospital Pró-Cardíaco, em Botafogo.

“Recuperação de coluna é lenta mesmo, são meses de antibiótico na veia. Até parafuso eu coloquei, tenho falado que virei mulher biônica”, brinca, sempre com um baita bom humor. “Ninguém imaginaria que seria tão longo, a medicina é mesmo uma ciência inexata”.

Registre-se que a estada no hospital teve seus momentos de festa, conforme ela mesma descreve: “As visitas eram diárias, tinha até que fazer escala! Aquele hospital nunca mais será o mesmo. Eu fiz de um tudo lá: roda de samba, feijoada, festa de Natal, debate político, gravação e até o Grammy Latino me entregaram lá”, relata, orgulhosa da estatueta por ‘Nosso Samba Tá Na Rua’, seu disco mais recente.

O programa de televisão ‘Esquenta’ também não será o mesmo. A participação de Beth na atração comandada por Regina Casé na Globo (que vai ao ar dia 22) causou.

“Levei duas enfermeiras lindíssimas do Pró-Cardíaco para sambar lá. Arlindo Cruz e Mumuzinho ficaram babando e foi um tal de todo mundo querer ficar doente”, conta ela, que ainda tem que passar por duas sessões semanais de fisioterapia, às terças e quintas. “Tenho que me forçar a fazer mais vezes”, admite.

SAMBA NA RUA 
A apresentação de amanhã, dia 7 de setembro, Independência do Brasil (“Será comemorada a minha independência também!”, sentencia ela), vai focar no CD ‘Nosso Samba Tá Na Rua’, mas, claro, também vai passear pelos sucessos da carreira. “Vamos fazer aquele Carnaval no final”, promete.

Apenas uma música inédita estará no roteiro: “Se chama ‘Parada Errada’, é do Serginho Meriti. Fala de uma mãe que tem um filho viciado em crack. É um samba triste”, classifica. “Acho importante falar disso, visto que o samba sempre teve também esse viés político. Essa geração que está aí deveria ser a geração dos Cieps, mas é a geração do crack”, ressalta ela, lembrando os Brizolões, projeto educacional idealizado pelo antropólogo Darcy Ribeiro.

Ah! A apresentação também terá uma participação especial. A cantora Lu Carvalho, sobrinha de Beth, vai apresentar ‘Devotos do Samba’ e ‘Alma Boêmia’, músicas de seu recente CD, ‘O Samba Que Eu Sei’.

SAMBISTA GUERRILHEIRA
Beth Carvalho decreta: “O samba é revolucionário, contestador e democrático”.

Ela declara que acredita no socialismo e, na entrada de seu apartamento, logo se vê um enorme quadro do argentino-cubano Che Guevara. Não dá para não perguntar a ela como bateu a polêmica decisão do governo federal de importar milhares de médicos cubanos para o Brasil.

“Cuba sempre fez esse tipo de trabalho, inclusive nos Estados Unidos, onde eles vão lá ajudar os americanos pobres. Sabe quem está no Haiti agora? Os médicos cubanos. Quando tivemos a primeira ameaça de dengue hemorrágica aqui, eles também vieram. O programa Médico de Família foi implantado em Niterói com médicos cubanos”, observa ela. “O que acontece é que a direita aqui está enlouquecida, ainda não se conforma com a Dilma estar na presidência.”

Por conta do nome do CD, ‘Nosso Samba Tá Na Rua’, e da capa, que traz uma foto que inicialmente foi pensada para sugerir uma passeata, ela brinca e dispara que foi pioneira dos movimentos nas ruas que tomam o país desde junho — o disco saiu em 2011, registre-se.

“Eu sou da geração da passeata, sempre fui. Fico feliz que os jovens estão voltando a se interessar por política. Houve uma lavagem cerebral muito grande na juventude durante anos”, denuncia. “O plebiscito pela Reforma Política sugerido pela Dilma é, no meu ver, a grande saída para essa história. O Congresso não quer transparência, mas eu ainda tenho esperança de que o plebiscito vá acontecer.” LSM (fotos João Laet)

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