segunda-feira, 29 de outubro de 2012

No swing de ‘Suburbia’

Mesmo com sua canção ‘Pra Swingar’ na trilha da série global ‘Suburbia’, músico do Som Nosso de Cada Dia diz que está difícil colocar em casa o pão de cada dia 

Suburbia’, nova série da Globo, só estreia na quinta-feira, mas sua trilha sonora já está deixando todo mundo louco para dançar sempre que o comercial rola na televisão com a música ‘Pra Swingar’. O irresistível balanço é um clássico obscuro do já extinto grupo brasileiro de rock Som Nosso de Cada Dia, formado em São Paulo em 1971.

A tal canção é uma parceria de dois de seus integrantes, o baterista Pedrinho (naquele tempo era comum creditarem os músicos desta forma minimalista) e o baixista Pedrão. Este, Pedro Augusto Baldanza, único vivo da formação original, foi pego de surpresa com a volta de sua antiga composição às paradas.

“Um amigo mandou um recado no Facebook dizendo: ‘Parabéns, você está na Globo!’. Perguntei se ele estava maluco, achei que era uma sacanagem, até que minha filha confirmou. Puxa, você não imagina o que mexe com o meu lado psicológico ouvir a nossa música na Globo. Agora, finalmente vão ter que engolir o Som Nosso”, comemora Pedrão.

A alegria inicial, porém, esconde uma história triste. Ele conta que o contrato firmado com a editora EMI anos atrás tem cláusulas que são extremamente desfavoráveis para os compositores.

“Ainda estou me informando melhor a respeito dos direitos, não entendia nada disso. Soube que a Globo paga um preço fixo de R$ 3.600 pelo uso da música na série. Acontece que, nesse contrato que eu e Pedrinho assinamos no passado, a editora fica com 50%. Dinheiro, eu vou ver uma merreca. Mas não ligo, o que importa é ver as pessoas falando de novo da gente”, resigna-se.

Aos 60 anos, Pedrão, que já acompanhou Novos Baianos, Elis Regina, Ney Matogrosso e Gal Costa, entre outros, e atualmente toca com a dupla Sá & Guarabyra, diz que está difícil colocar em casa o pão de cada dia.

“Ultimamente está faltando dinheiro para pagar o aluguel e, às vezes, até para comer. A Globo demora uns 40 dias para pagar. Ferrou: vou ter que pedir dinheiro emprestado para ex-mulher ou para os meus filhos. Estou me virando. Se você não está na mídia, o máximo que consegue são as migalhinhas que caem no chão”, lamenta o lendário músico.

PROMOÇÃO INÉDITA
Para divulgar ‘Suburbia’, a Globo apostou na interatividade e lançou uma campanha em seus intervalos comerciais. Entre os dias 22 e 26 deste mês, uma chamada com cenas da série ao som de ‘Pra Swingar’ avisava que quem gostou da música poderia recebê-la por e-mail. Bastava fotografar a logomarca de ‘Suburbia’ que assinava o anúncio e encaminhar para um determinado e-mail.

“É a primeira vez que a Globo faz uma experiência desse tipo, de oferecer música via e-mail. Eles negociaram isso com a editora sem nem falar comigo. Pela promoção, a Globo vai pagar R$ 5 mil. Tem uma série de coisas nesse contrato que não entendo direito, só sei que, no fim das contas, vou dividir com a família do Pedrinho uns poucos reais que vão sobrar lá no final”, descreve Pedrão.

Mas nada disso parece tirar seu bom humor. “Acho o máximo essa promoção moderna em cima de uma banda que não existe mais e de uma música de 35 anos atrás. Pela primeira vez, estamos entrando na Globo. Pelo menos vou ter história para contar para meus netos”, celebra.

Pedrão conta ainda que há material inédito do Som Nosso de Cada Dia para vir à tona. “Em 2008, o pessoal da Virada Cultural de São Paulo me chamou para tocar nosso primeiro disco, o ‘Snegs’, que consideram um marco. O Pedrinho já tinha morrido, mas o nosso terceiro integrante, o Manito (ex-Os Incríveis), estava vivo e fizemos o show no Municipal de São Paulo. Foi o último show do Som Nosso. Tenho isso gravado e um dia, se tiver dinheiro, vou lançar em DVD. Em 1977, tocamos no mesmo Municipal, e foi a primeira vez que o espaço abriu para o rock. Só eu dei uns 30 ácidos para os malucos da plateia”, recorda. LSM

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