quinta-feira, 11 de outubro de 2012

‘Canta Papel Marchê?’

Pioneiros do sertanejo universitário, João Bosco & Vinicius gravam DVD na sala de casa e contam as confusões pelas quais passam por serem homônimos de famosos artistas da música brasileira

Já imaginou que confusão causaria um artista novo que surgisse na cena com o nome de Caetano Veloso, Gilberto Gil ou Milton Nascimento? A bagunça, na verdade, já vem rolando, e a vítima é outro conhecido nome da música brasileira: João Bosco, autor de clássicos como ‘O Bêbado e a Equilibrista’ e célebre parceiro de Aldir Blanc.

“Nos sacaneiam muito”, conta seu homônimo, o João Bosco sertanejo, que faz dupla com Vinicius. “É comum pedirem para a gente cantar a música ‘Papel Marchê’, do outro João Bosco, que é um cara alto nível. Ser confundido com ele é uma honra”, diz a dupla acaba de lançar um novo DVD, ‘A Festa’.

O João Bosco mais antigo, no entanto, não festeja o fato de ter um homônimo no meio artístico: “Recebo e-mails de gente me confundindo, com reclamações sobre sacrifícios de animais em rodeios”, relata ele, que já passou até por saia justa, quando um repórter marcou entrevista achando que seria com o outro.

O novato João Bosco também experimenta situações inusitadas por conta de seu nome. Assim como Vinicius, que é alvo de piadas envolvendo Vinicius de Moraes. “Costumam perguntar se o Toquinho não vai aparecer”, diverte-se João Bosco.

O autor de ‘Aquarela’ nunca deu uma palinha em seus shows, mas o novo DVD está recheado de amigos e de sucessos. Em vez de um megaespetáculo diante de milhares de pessoas, a dupla quis variar e reuniu um punhado de chegados para uma festinha particular em uma casa.  “Cantamos descontraidamente no meio da sala, sem palco ou iluminação especial. A ideia foi resgatar o clima da época em que tocávamos nos bares e nas festas de amigos”, explica Vinicius.

Data desses tempos idos o surgimento do termo ‘sertanejo universitário’, cunhado para classificar justamente o som de João Bosco & Vinicius (leia mais ao lado). Na ocasião, paralelamente à música, eles cursavam Odontologia e Fisioterapia, respectivamente, na Uniderp, em Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul.  “Não existia essa classificação antes da gente, mas não fomos nós que inventamos isso, foi a mídia e os próprios universitários. A nossa mistura do sertanejo de raiz com a música pop mundial foi muito bem recebida por esse público. Falavam: ‘Vocês são sertanejos, mas o som de vocês não dá sono’. O rótulo ‘universitário’ tirou do sertanejo o estigma de ser uma música careta”, avalia Vinicius.

João Bosco atesta, inclusive, que atualmente a Campo Grande que os catapultou ao estrelato já roubou de Goiânia o título de capital da música sertaneja. “Se balançar uma árvore em Campo Grande, caem umas cinco duplas sertanejas”, brinca.


PRECURSORES DO SERTANEJO UNIVERSITÁRIO
Para o bem ou para o mal, foram João Bosco & Vinicius os precursores da febre do sertanejo universitário que tomou de assalto o País. Porém, enquanto milhares de jovens requebram ao som de sucessos de seu repertório, como ‘Chora, Me Liga’ (esta, a música mais executada nas rádios brasileiras no ano de seu lançamento, em 2009), outros tantos torcem o nariz para o que classificam como uma música de menor qualidade.

“Desde que surgimos no cenário, com nossa levada diferente, acelerando o andamento de músicas sertanejas antigas para torná-las mais dançantes, sofremos preconceito. Muita gente do público enlouqueceu, adorou, mas também teve muito protesto”, desabafa Vinicius.

A própria dupla também tem suas reclamações. “Quem critica a gente deveria se informar mais e constatar que nossa história como universitários é real. E que, mesmo assim, a gente nunca se rotulou desta forma, as pessoas é que nos identificaram assim. Por isso mesmo eu sou contra quem, só para fazer sucesso, diz que faz sertanejo universitário sem nunca sequer ter passado na porta de uma faculdade”, dispara o dentista formado João Bosco (Vinicius não chegou a completar o curso de Fisioterapia).

Depois que eles despontaram, muita gente em Campo Grande, e em outras partes do Brasil, começou a pegar carona nas portas que eles escancararam para o gênero. “Os olhos do mercado se voltaram para esse novo tipo de som assim que começamos a aparecer em programas de TV em rede nacional e logo que ganhamos um DVD de Platina. Virou grife dizer que é de Campo Grande”, atesta João Bosco. LSM

Nenhum comentário:

Postar um comentário