quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Sem medo do rock n’ roll

Atrações do axé e do samba não temem agressões dos fãs do som pesado no Rock In Rio

Em toda edição do Rock In Rio no Brasil, um artista sai do palco enxotado por roqueiros xiitas. O caso mais fresco em nossa memória aconteceu em 2001, quando Carlinhos Brown levou uma chuva de garrafas d'água. Em 1991, Lobão, apesar de um astro do rock, namorava com a bateria da Mangueira e foi metralhado por objetos voadores. A primeira edição do evento, em 1985, vitimou, veja só, o pioneiro do gênero Erasmo Carlos, que andava meio longe das guitarras. E nesta edição, que começa dia 23, quem será o alvo predileto dos metaleiros?

Fui atrás de atrações não roqueiras agendadas no festival para sondar o medo de um possível duelo com esse grupo de fãs radicais. A turma do axé e do samba jura que a ira dos roqueiros é coisa do passado. “Há tantas coisas que merecem de fato nossa reivindicação, como corrupção, impunidade, violência, preconceito... o jovem de hoje, com acesso à tantas informações, provavelmente não se permitiria vaiar o que faz bem ao outro, ainda que não lhe caia bem. No nosso Carnaval, por exemplo, a diversidade impera. São artistas do rock e do pop tomando conta dos trios e dos camarotes, então, por que não o contrário?”, questiona Claudia Leitte. Eu acho que há uma linha tênue entre não curtir a mistura de gêneros musicais e ser preconceituoso. Preconceito é algo tão medíocre... e cafona... Seja como for, há pessoas que se identificam e se juntam por causa disso. O Rock in Rio é o maior festival de música do mundo, e é nosso, brasileiro, não dá para perder tempo com miudezas”, decreta.

Ivete Sangalo concorda: “Acho que hoje o público brasileiro não só entende que o evento não é exclusivamente de rock, como agradece o fato de nosso País ser muito diverso musicalmente, opina VevetaEu tinha paixão pelo AC/DC e adoro bandas ainda mais pesadas, como Green Day e Foo Fighters, enumera a baiana, que vai cantar antes de Lenny Kravitz.

No mesmo dia, Martinho da Vila vai chegar devagar, devagarinho com seu samba, mas também garante não temer cantar no Rock In Rio. O panorama mudou. Hoje, o entrosamento entre um cara do rock com um cara do rap ou do samba é uma coisa normal. Eu, por exemplo, vou dividir um número com o rapper Emicida, conta.

Outro sambista, Diogo Nogueira faz coro: “Acredito que nessa edição os artistas serão muito bem recebidos. Na verdade, os caras mais cri-cri são minoria, e vão reclamar de qualquer jeito, independentemente da programação, classifica.

Sandra de Sá, que saracoteou muito com Cazuza, um roqueiro que abraçou o samba em sua música, resume a questão: “Rock é a catarse que acontece da comunhão com o público. Sendo assim, tudo é rock!, define.

ÁGUA MINERAL
Em 2001, Carlinhos Brown enfrentou o público impaciente que o recebeu com uma chuva de garrafas. Cantou a melodia do Hino Nacional, desafiando a preferência gringa da maioria da gurizada lá presente, e mandou o recado: “Pode jogar o que quiser que nada me atinge. Sou da paz! (...) Quem gosta de rock tem muito que aprender. (...) Agora, o dedinho pode enfiar no traseiro.

Hoje, o baiano se diverte ao relembrar o fato. Agradeço àqueles meninos, porque passei a ser mais conhecido depois deles. Eu não estava no lugar errado e nem na hora errada: fui parar em todos os jornais. Foi o melhor direito autoral do Rock In Rio!, recorda Brown. LSM

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