terça-feira, 4 de março de 2014

Ícone dos anos 60, Donovan acompanha David Lynch quase despercebido

Esta matéria foi publicada originalmente no Jornal do Brasil em 10/08/2008. 

"Eu, particularmente, acho Donovan muito mais interessante que David Lynch", diz um fã do músico escocês, carregando um saco com discos de vinil e outras relíquias para tentar um autógrafo.

A primeira apresentação de Donovan no Rio, em sua primeira vez no Brasil, foi um pocket-show no final da palestra que o cineasta David Lynch deu no auditório da Universidade Estácio de Sá, na Barra da Tijuca.

"Será um show bem pequeno, mas sobre uma grande coisa: a meditação", declara o cantor e compositor, antes de presentear o público com algumas pérolas de seu repertório, como 'Catch The Wind', 'Hurdy Gurdy Man' e 'Mellow Yellow'. "Já havia pensado em vir ao Brasil diversas vezes, mas nunca as circunstâncias ajudaram. Agora finalmente tudo deu certo".

Donovan Leitch é um artista único, ícone do movimento hippie da década de 60, amigo dos Beatles, apontado como a resposta britânica a Bob Dylan devido a seu estilo folk e por também se apresentar apenas com seu violão e gaita, autor de cativantes e memoráveis canções e um dos artistas que mais teve revivals na carreira. Ele está acompanhando David Lynch na turnê de lançamento do livro que o diretor escreveu sobre meditação transcendental, a técnica mental para combater o stress fundada pelo guru Maharish Mahesh Yogi e da qual ambos os artistas são adeptos. O evento na universidade reúne muitas pessoas interessadas de fato no desenvolvimento do repouso espiritual, outras querendo desvendar algo mais sobre quem matou Laura Palmer, e ainda uma parcela considerável de fãs do músico. A curiosa presença do recluso artista dos anos 60 despertou a atenção de antenados, como a cantora Mariana Aydar, o músico e produtor Kassin e o DJ Maurício Valadares.

Donovan anuncia o lançamento do DVD duplo 'Sunshine Superman The Journey Of Donovan'. "Será um documentário de três horas sobre minha vida e música, com mais duas horas de bônus, com muito material raro e depoimentos e lembranças de amigos, como George Harrison, Bob Dylan, Joan Baez, Jimmy Page, e o próprio David Lynch, além de incluir também seis novas músicas".

Fiel aos valores de paz e amor, ele vê na internet uma nova e eficaz forma de transmitir a mensagem da meditação em busca de um mundo melhor. "Vejo hoje os comerciais na televisão como as novas rádios. Tem seis músicas minhas em trilhas de propagandas. Aí a pessoa ouve todo dia o refrão de 'Mellow Yellow', vai lá no Google e digita essas duas palavrinhas do título e encontra os meus 27 álbuns. Aí vai lá e tem contato com minhas músicas, que falam sobre paz, ecologia, espiritualidade e meditação. Então a internet é o sonho dos anos 60 realizado, de transmisão instantânea da mensagem da paz", celebra. "É um ciclo que começa com o comercial na TV e chega na meditação. Hoje é assim: você tem uma ideia, e a ideia chega para todas as pessoas no mundo na mesma hora".

Na turnê mundial - inclusive nesta passagem pelo Brasil -, David Lynch e Donovan têm se encontrado com políticos para sugerir a implementação da meditação transcendental nas escolas. "As pessoas falam que isso é um sonho, mas é realidade. Vejo um futuro em que todos vão meditar. Não é religião, é só uma técnica para reduzir o stress na sua vida. Quando não há stress, não há guerra", explica.

O envolvimento de Donovan com a meditação transcendental aconteceu em fevereiro de 1968, quando ele, mais os quatro Beatles, além do também músico Mike Love (Beach Boys), da atriz Mia Farrow, e mais um grupo de cerca de 50 pessoas foram à Índia com o Maharish. Os cabeludos de Liverpool voltaram depois de cerca de dois meses. Ringo Starr não se adaptou à alimentação e Paul McCartney não se interessou o suficiente. John Lennon e George Harrison ficaram um pouco mais, mas voltaram depois de suspeitas sobre o envolvimento íntimo do guru com uma das alunas do curso. Donovan, pelo visto, desde então não se desligou mais dos ensinamentos do Maharish.


"Será realizado um show em Toronto celebrando os 40 anos dessa ida à Índia, que foi um marco para a popularização da mensagem da meditação transcendental para o ocidente. Vou tocar, além de minhas canções, outras que ajudei os Beatles a fazer, como 'Dear Prudence' e 'Mother Nature's Son', que ensinei os dedilhados a John e Paul, respectivamente", conta.

Ele ainda dá dicas do que de mais interessante tem escutado ultimamente: "Dois grupos: Future Sound Of London, muitas vezes chamado apenas de F.S.O.L., que faz um som eletrônico dançante e muito psicodélico. Outro grupo que gosto e escuto muito é o Starsailor. É só procurar lá no YouTube e ouvir", sugere, e pede para deixar o endereço de seu site (www.donovan.ie), para as pessoas visitarem e conhecerem mais sobre sua música, e também sobre meditação transcendental, é claro.LSM (Fotos Donovan, por Ana Paula Amorim)

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