domingo, 5 de janeiro de 2014

Metaleiras

Com metais em brasa e percussão pulsante, a Damas de Ferro, banda de fanfarra formada só por mulheres, se prepara para estrear no Carnaval 2014 

‘É fanfarra, mas sem fanfarrões!”, decretam, quase em uníssono, as integrantes da Damas de Ferro, orgulhosas ao se proclamarem a primeira banda carioca de fanfarra (grupo musical formado por instrumentos de sopro de metal e de percussão) só de mulheres. “Os meninos estão doidos, querem participar da banda, mas só se for vestido de mulher!”, diverte-se a trombonista Carol Schavarosk.


Elas integram o que chamam de neo-fanfarrismo carioca, uma espécie de movimento no qual destacam-se também grupos como Orquestra Voadora (boa parte das meninas da Damas de Ferro veio do bloco da OV), Os Siderais, Sinfônica Ambulante, Cinebloco e Go East Orkestar. Ao som de trompetes, trombones, saxofones, tubas, caixas e alfaias, e repertório eclético, que inclui versões para clássicos de Belchior (‘Velha Roupa Colorida’) a sucessos da vez como ‘Get Lucky’, do Daft Punk, elas se preparam para estrear no Carnaval de 2014.

“Já estamos chamando a atenção nos ensaios abertos que fazemos no MAM (Museu de Arte Moderna) ou no Parque Guinle. Porque não é comum, a mulher está inserida no mundo da música mais como cantora do que como instrumentista. Você não vê muitas mulheres tocando tuba, por exemplo. A Damas de Ferro vai ter esse charme a mais”, ressalta Carol.

A busca pelas instrumentistas foi uma saga. “No início, achei que não iria além de um quarteto, até que, pouco a pouco, começamos a encontrar outras meninas que tocavam sopros ou percussão”, comemora Bubu Gabi Góes, que toca surdo e também é produtora cultural.

Todas, aliás, têm outra atividade além da música. E dão seu jeito para espremer no tempo livre a Damas de Ferro e ainda a família e namoros. Mas, às vezes, rola estresse. “Meu marido reclama muito que não tenho tempo para nada. Tento conciliar os ensaios com os dias das reuniões dele”, conta a trompetista (e bióloga) Maysa Salles.

Mas elas estão entusiasmadas. E, mesmo com tantas mulheres tocando juntas, juram que não temem a eclosão de uma TPM coletiva. “Mesmo na TPM, a gente está pegando leve, porque estamos com muita vontade de apresentar esta banda”, entusiasma-se Sabrina Bairros, saxofonista e publicitária.

A trompetista (e designer) Marcela de Paula, porém, faz uma ressalva: “Ah, só não pode uma aparecer com a saia igual à da outra!”, diverte-se.

E para lidar com o assédio da rapaziada animada no Carnaval, como vai ser? “Sempre vai ter um para soltar uma piadinha. Já ouvi: ‘Tá sobrando mulher aí, passa uma pra mim!’ Olha, se a cantada for original, até que pode ter chance”, provoca Irene Milhomens, trombonista e bailarina.

Contar apenas com mulheres na escalação, acreditam as integrantes da Damas de Ferro, tem ainda uma outra vantagem: “Na hora de passar o chapéu, só com meninas, esperamos que as pessoas se entusiasmem mais a dar um dinheiro”, brinca Sabrina, ao que Thaís Bezerra, tocadora de caixa, completa: “Mas o apelo não pode ser só por sermos mulheres... Tem que ter qualidade!”, decreta. LSM (fotos Fernando Souza) 

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