quinta-feira, 10 de abril de 2014

‘O desafinado sou eu!’

Gilberto Gil brinca com os estereótipos associados ao ídolo João Gilberto, homenageado em seu novo CD, e assume que desde o início da carreira queria imitar o bossa-novista

Célebre nome da Bossa Nova, João Gilberto já foi acusado (injustamente) de ser desafinado. “Nada disso. Ele é, na verdade, um intérprete muito exigente com cada nota que canta. É tudo afinadão”, defende o amigo e fã declarado Gilberto Gil, que celebra o repertório eternizado pelo ídolo em seu novo CD, ‘Gilbertos Samba’. “Eu mesmo não tenho essa exigência dele, de aferir a nota certinha ao cantar. Comparado a João, o desafinado sou eu”, diverte-se.

Gil conta que esse projeto é a junção de dois sonhos antigos: fazer um CD de samba e outro em homenagem ao mestre bossa-novista. No repertório, ele reuniu clássicos gravados por João Gilberto, de autores como Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Carlos Lyra e Caetano Veloso, além de uma canção inédita, ‘Gilbertos’, composta por ele especialmente para o projeto. “Além do canto, temos que destacar que o violão do João Gilberto também é incrível. Queria ter a mesma capacidade de concentração dele no ato de tocar. Sou mais disperso”, assume. “Desde quando ganhei meu primeiro violão, já tentava reproduzir o som do violão do João. Eu queria imitá-lo”, lembra.

Gil brinca com outra fama que acompanha João: a de ser um cara excêntrico e misterioso. “Ele tem um modo de ser diferente da maioria das pessoas, né? É um homem recolhido, não falo com ele há dez anos”, resigna-se. Sonho do CD concretizado, Gilberto Gil ainda acalenta uma vontade pessoal não realizada sobre este novo projeto. “É evidente que adoraria que o João Gilberto escutasse esse disco. Tenho muita curiosidade de saber o que ele acharia”, anuncia o discípulo.

HERDEIROS DA TROPICÁLIA
Pela primeira vez atuando juntos na produção musical, Moreno Veloso (filho de Caetano) e Bem Gil (filho de Gilberto) assinam a função neste novo disco, ‘Gilbertos Samba’. “Fui eu quem chamei os dois, queria que fosse produzido pelos filhos. Vendo eles trabalhando, eu só lembrava de mim e do Caetano mais
jovens”, emociona-se Gil, pagando de pai coruja e ‘tio’ emprestado. “Lembro do Moreno pequenininho pedindo ao Caetano: ‘Coloca a música do Gil’. Ele tinha uma ligação comigo, e, desde cedo, eu já percebi que ele seria da minha turma.”

Moreno, 41 anos, já acumula vários títulos como produtor musical, incluindo os discos mais recentes do pai, além do elogiado ‘Recanto’, que deu novo fôlego à carreira de Gal Costa. Bem, 29, atua mais com seu próprio conjunto, o Tono. “Muito da minha experiência na área vem de ver o Liminha (produtor brasileiro que é referência) trabalhando com meu pai”, detalha Bem Gil.

Moreno conta que, inicialmente, os dois tiveram que passar a entender do riscado para produzir seus próprios discos — ele, inclusive, anuncia que este mês estreia solo, com o lançamento de seu primeiro CD sem o grupo +2, que divide com Kassin e Domenico Lancellotti. “Se a gente não aprendesse, ninguém iria fazer isso por nós”, decreta, modesto.

Resumindo, produtor musical é o cara que acompanha o processo de feitura de um disco, desde antes da gravação, ensaios, que escolhe os músicos que vão participar, entre outras atribuições. E a combinação dos filhos deu muito certo. “Foi um encontro excepcional”, elogia Moreno. “Eu, por exemplo, sou muito avoado. O Bem consegue resolver com dois simples telefonemas coisas burocráticas que eu demoraria um mês”.

Quem sabe, então, não virá um disco desta dupla por aí? “Que coisa bonita seria isso, um disco meu com o Moreno!”, festeja a ideia Bem Gil. LSM (fotos André Luiz Mello)

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