terça-feira, 1 de abril de 2014

As garotas do Arrigo Barnabé

Atrás dos cabelos desgrenhados daquele senhor ao piano, chamam a atenção quatro mocinhas de uns vinte e poucos anos cada. Claro, os fãs estão ali sedentos pelo ídolo Arrigo Barnabé — figura rara em palcos daqui, que recentemente agendou shows no Rio, no espaço Audio Rebel, em Botafogo, todos lotados e com direito a presenças ilustres na plateia, como Zélia Duncan e Ney Matogrosso. Mas ninguém fica imune ao charme das jovens virtuosas instrumentistas que o acompanham nesta turnê, que recria sua obra mais emblemática, o disco ‘Clara Crocodilo’, de 1980. “Somos histéricas, mas no bom sentido”, classifica a soprista Joana Queiroz, única carioca da trupe. “Todo mundo acha que ele é um porra-louca, mas o Arrigo é um tremendo de um gentleman”, derrete-se.


Completam o time feminino Mariá Portugal (bateria), Ana Karina Sebastião (baixo), ambas de São Paulo, e Maria Beraldo (clarineta), que veio de Florianópolis. O visual do protagonista, que mais lembra um cientista louco, esconde uma faceta que só quem se internou por 15 dias seguidos ensaiando para a empreitada nada simples (“Tem que estudar muito, as músicas dele são bem complexas”, ressalta Maria) poderia revelar. “Tivemos show às vésperas do Natal e ele fez questão de fazer amigo oculto. Ele é meio criança”, brinca Joana.

Mariá foi a primeira a conhecer o ídolo pessoalmente. “Escuto o ‘Clara Crocodilo’ desde pequenina, até que esbarrei com o Arrigo na rua em São Paulo, não resisti e falei: “Cara, você mudou a minha vida!’ Ao que ele respondeu: ‘Mas foi para melhor ou para pior?’ Caímos na gargalhada, estreitamos os laços e um dia veio o convite para tocar com ele”, conta Mariá, fera dos tambores que já serviu com seu ritmo a nomes como Pato Fu e Zélia Duncan.

Este núcleo feminino começou a tomar forma quando Arrigo teve a ideia de reunir apenas garotas no projeto O Neurótico e As Histéricas, que criou para homenagear o contemporâneo Hermelino Neder, assim como ele ligado ao movimento cultural Vanguarda Paulista. Através do convite de um festival de música de vanguarda no Chile, em outubro do ano passado, surgiu a ideia de reler ‘Clara Crocodilo’ com elas, que, afinal, já estavam ali com ele. O show passou por casas em São Paulo antes de chegar por aqui.

“Não esperava tanta receptividade no Rio, não sabia que por aqui assimilaram tanto a Vanguarda Paulista. Precisamos voltar com esse show ao Rio em um lugar maior!”, deseja Ana (o Audio Rebel comporta umas 80 pessoas apenas). Circo Voador, fica a dica! LSM (foto Luciano Oliveira)

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