Espevitada aos 52 anos, a coreógrafa Deborah Colker irrompe nos bastidores do Teatro Carlos Gomes aos gritos. “Em 1995, dei um esporro clássico na equipe inteira aqui nesse camarim”, recorda, às gargalhadas, ao entrar no mesmo espaço onde estreou há 18 anos o revolucionário espetáculo ‘Velox’ — que volta a ser encenado no mesmo palco, de amanhã a domingo, como parte das comemorações pelos 20 anos de sua companhia de dança. “Avisa ao público que o som vai ser porrada! Não será permitida a entrada de maiores de 40!”, ordena, brincando, à sua equipe.
Guitarras distorcidas e batidas tribais em alto volume ecoando pelos tradicionais corredores do Carlos Gomes, durante um ensaio geral do espetáculo na tarde de ontem, anunciam que a radical montagem promete impactar tanto quanto nos anos 90. “Foi a partir dela que imprimi minha assinatura. Mudei o foco da dança quando perguntei: ‘Por que o palco tem que ser horizontal? Aí resolvi fazer um palco vertical”, conta, sobre o surgimento do emblemático paredão de alpinismo com 6,6 metros de altura que é a marca principal de ‘Velox’.
Apenas nessas três apresentações, Deborah, única remanescente da formação original do espetáculo, estará dançando no palco para celebrar o aniversário de seu grupo. “Só não dá mais para escalar a parede, eu já sou avó”, dispara, sempre rindo muito.
A turnê comemorativa também vai contar com reencenações de ‘Nó’ (2005), de 16 a 19 de maio, na Cidade das Artes, na Barra da Tijuca; e ‘Tatyana’ (2011), de 3 a 19 de outubro, no Teatro João Caetano, no Centro. Outro ponto alto em sua trajetória, o espetáculo ‘Ovo’, criado por ela para a badalada trupe canadense Cirque du Soleil, no entanto, segue inédito no Brasil. “No momento, eles estão apresentando ‘Ovo’ na Austrália, mas um passarinho me contou que eles chegam ao Brasil em 2015”, arrisca.
E Deborah Colker já tem planos para começar os próximos 20 anos. “Estou preparando o espetáculo ‘Belle de Jour’ para 2014. Considero minhas montagens ‘Nó’, ‘Cruel’ e ‘Tatyana’ uma trilogia. Este novo será um passo adiante, e vai discursar sobre o amor, o desejo e a razão”, antecipa. “O panorama da dança mudou demais nessas duas décadas. Era um deserto quando comecei. Tinha só o Grupo Corpo e a Quasar. Hoje, está tudo muito mais difundido, e até o passinho, do funk, tem sua importância para popularizar a dança. Mas, até hoje, ninguém faz espetáculo de dança contemporânea no Brasil como eu!”, decreta.
A celebração pelos 20 anos da Companhia de Dança Deborah Colker engloba ainda dois livros. Um, escrito por Francisco Bosco e repleto de fotos, tem lançamento previsto para outubro. O outro, sem data marcada para sair, é uma espécie de diário de bordo da coreógrafa. “Este segundo vai ser um livro mais acadêmico, teórico, sobre como desenvolvi minha técnica, como formo bailarinos. O do Bosco será um livro de arte, com fotos tiradas pelo meu irmão, Flavio Colker”, detalha ela. LSM (Fotos André Luiz Mello)
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