A arara-azul Blu chega ao Rio de Janeiro na noite de Réveillon e dá um voo panorâmico pela cidade ao som de uma versão de ‘País Tropical’, de Jorge Ben Jor, tocada pelo piano de Sérgio Mendes, a guitarra de Liminha, a voz de BNegão e o batidão do DJ Sany Pitbull. Foi essa cena que o diretor Carlos Saldanha apresentou ao funkeiro em um storyboard (série de ilustrações em sequência com o objetivo de pré-visualizar um filme) para que ele preparasse seus beats para a trilha de ‘Rio 2’, a continuação da aclamada animação.
“Para este novo filme, o Sérgio Mendes está fazendo uma grande pesquisa dos ritmos de todo o País. A estreia está programada para as vésperas da Copa do Mundo de 2014, então a ideia é mostrar a música do Brasil inteiro”, antecipa Pitbull, que é referência do funk. “Ele quer fazer misturas, colocar batidas eletrônicas com os tambores da Mangueira. Essa será a síntese do filme: mostrar que o branquinho pode gostar de samba e que o pretinho pode ouvir rock numa boa”.
Sany Pitbull com Sérgio Mendes, o técnico de som do filme, Carlos Saldanha e Liminha
Se tudo caminhar conforme o previsto, esta versão de ‘País Tropical’ deve ser apresentada na abertura ou no encerramento da Copa. Será um ponto alto na trajetória de Sérgio Reis Silva (seu nome de batismo), 44 anos, nascido em Nova Iguaçu e criado em São Cristóvão sempre em um ambiente bastante musical. “Meu pai gostava de moda de viola e minha mãe, de John Travolta. Dependendo de qual música estava tocando em casa, eu já sabia quem estava cozinhando”, recorda o DJ.
Além de discotecar pelos quatro cantos do Brasil, Sany Pitbull é professor de produção musical do projeto ‘Red Bull Favela Studio’ em Vigário Geral, produz e compõe trilhas para o cinema, programas de televisão e desfiles de moda. “As pessoas acham que é uma vida de glamour, de dinheiro fácil e de pegar mulher, mas é um trabalho duro ser DJ. No mesmo dia em que enterrei minha mãe, eu ainda reuni energias para ir tocar e não furar um compromisso profissional”.
Pitbull é também um dos principais responsáveis por exportar o batidão do funk carioca mundo afora. Este ano, ele planeja voltar à Estônia, Finlândia e Suécia. “Quanto mais frio o país, mais quente é o público”, descreve ele, ressaltando que a experiência internacional está mudando sua música. “Estou cada vez menos funkeiro. Sempre que viajo, volto com novas referências e misturo tudo isso no meu som”.
E as portas não param de se abrir para ele. “Só me atrapalha um pouco o nome artístico que adotei. Por causa do Pitbull, que herdei da equipe de som onde comecei, acham que sou brigão, mas eu sou um cara supertranquilo, caretão, nem álcool eu bebo”, diz.
Astral boa-praça, ele conta, quem também possui é Sérgio Mendes. “No encontro para a gravação de ‘País Tropical’, eu cheguei tímido, enquanto ele disparou, com um sorriso: “Você que é o Pitbull dos botões?!’. Me deixou bem à vontade, logo vi que o coroa não tem nenhuma marra”, relata.
VIGÁRIO GERAL
Sany Pitbull está fazendo escola. Toda semana ele, que atualmente é pai de dois filhos e mora em Botafogo (“Na Zona Sul a gente está mais perto das coisas, mas as pessoas são muito frias”), vai ao Centro Cultural Waly Salomão, em Vigário Geral, ensinar jovens carentes, com idades entre 17 e 23 anos, que sonham seguir carreira como DJ.
“As aulas lá vão do disco de vinil ao iPod. E já dá para destacar vários talentos, como o David Fernando, um garoto de 19 anos que foi terceiro colocado na Olimpíada de Matemática das escolas públicas. Mixagem nada mais é que matemática pura. Ele chegou no curso dizendo que queria ser o DJ de sua comunidade. Hoje, ele olha para mim e fala: ‘Agora eu quero tocar em Londres, que nem você’”, conta.
Entre tantas atividades nacionais e internacionais, é o projeto na comunidade, chamado ‘Favela Studio’, o que mais encanta Sany Pitbull. “O que mais gosto de fazer é estar lá e ver os olhos daqueles moleques brilhando. Isso me completa mais que a possibilidade de tocar na abertura da Copa, pode acreditar”, garante o DJ. LSM (foto: João Laet; arte Fernanda Precioso)
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