Você já ouviu Nico Rezende e nem sabe. “Isso acontece muito nos shows. Vou cantando minhas músicas, e o público pergunta: ‘Mas essa também é sua?’. Quando lancei meu último disco de inéditas, em 2007, no fim das apresentações perguntavam se o CD tinha as antigas canções conhecidas, e não tinha. Por isso, resolvi regravar e renovar este repertório”, explica o cantor e compositor.
Para resolver o imbróglio, Nico Rezende desnuda seus sucessos em ‘Piano & Voz’, CD que comemora 25 anos de carreira. É impossível escrever a história do pop brasileiro dos anos 80 sem tocar algumas vezes em seu nome. Em 1987, sua bonita balada ‘Esquece e Vem’ liderou por semanas consecutivas as paradas. Logo compôs mais sucessos, só que para as vozes de outros artistas: Ritchie fez de ‘Transas’ (“Tanto tempo faz que a gente transa/E não se conversou...”) um megahit, Zizi Possi gravou ‘Perigo’ (“Perigo é ter você perto dos olhos/Mas longe do coração...”) e Marina registrou ‘Pseudo Blues’ (“O certo é incerto/O incerto é uma estrada reta...”).
Depois de emplacar essas e outras, o nome de Nico Rezende sumiu. Mas ele não se afastou da música. “Aconteceu tudo muito rápido naquela década. Produzi e gravei com muita gente, com Marina, Lulu Santos e até Roberto Carlos. Gravei o piano e fiz o arranjo original de ‘Codinome Beija-Flor’, do Cazuza. Mas, nos anos 90, minha vida deu uma virada e voltei a fazer jingles, atividade que tinha no início da carreira, trabalhando com Zé Rodrix. Montei uma produtora e fiz muitas trilhas para teatro e cinema. Fiz a direção musical de humoristas como Chico Anysio, Tom Cavalcante, Nelson Freitas e Eri Johnson, e até emplaquei na TV o tema de abertura de ‘Malhação’”, lista Rezende.
Hoje, ele olha para trás com nostalgia daqueles já saudosos anos 80. “Costumo dizer que tudo o que era música aqui no Rio virou comida: tanto os espaços para shows quanto os prédios onde eram as gravadoras viraram mercados ou restaurantes”, brinca. No entanto, Nico Rezende reconhece avanços no cenário musical. “Antes, o artista tinha muito pouca autonomia. A gravadora tinha um conselho que escolhia o repertório, o arranjador, praticamente tudo. Hoje, tudo é muito mais democrático. Qualquer pessoa que tenha uma canção, pega o violão, grava e em cinco minutos já está no YouTube”, compara ele.
Só uma coisa parece não ter mudado em sua carreira desde os anos 80 até hoje: “É impossível eu fazer um show sem cantar ‘Esquece e Vem’. Saio sob vaias se não tocar esta música”, diverte-se o cantor e compositor. LSM
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