Idolatrados por um público quase 100% masculino, Rush volta ao Brasil esperando reunir mais mulheres na plateia, como o cantor Wando
Eles são feios e não estão na moda. Quem se assume assim é Geddy Lee, cofundador do virtuoso trio canadense Rush, que domingo pousa pela segunda vez no Rio, na Praça da Apoteose. O grupo formado também pelo guitarrista Alex Lifeson e pelo baterista Neil Peart é cultuado por uma fiel legião de fãs, daqueles que ficam fascinados nos shows e nunca vão embora antes do último acorde.
Tais seguidores do rock repleto de arranjos complicados, registre-se, são quase em sua totalidade homens. Lee se mostra ainda mais entusiasmado para voltar ao Brasil ao ser informado que um artista local é tão feio quanto ele, mas tem um público 100% feminino e ainda recebe calcinhas das fãs no palco.
“Opa! Gostaríamos também de ter muitas calcinhas jogadas no palco”, se assanha o músico, que no grupo detona no baixo, canta e ainda toca teclado com os pés e mãos. “Não fazia a mínima ideia de como somos amados no Brasil antes da primeira vez que estivemos aí. Ficamos muito surpresos, foi além do que esperávamos”, avalia o show no Maracanã em 23 de novembro de 2002, que virou o CD e DVD ‘Rush In Rio’.
Curiosamente, eles tocam no Rio desta vez justamente diante do enorme monumento em forma de ‘M’ que o arquiteto Oscar Niemeyer criou inspirado nas bundas das mulatas. Mais apropriado, impossível.
CHORA CORAÇÃO
Apesar de ter em seu repertório títulos como ‘Closer To The Heart’ (‘Perto do Coração’), o romantismo definitivamente não faz parte dos herméticos assuntos tratados nas letras do Rush, que namoram até com a ficção científica. Geddy Lee credita o baixo quorum feminino em suas plateias ainda ao som cerebral que produzem. A vontade de cantar para mais mulheres, no entanto, é revelada por ele também no documentário ‘Rush: Além do Palco Iluminado’, lançado m DVD e em cartaz no Festival do Rio. O baixista afirma que “a motivação para o grupo ainda estar na estrada há mais de 40 anos são as garotas”. “Esse filme não é para mim. Eu falo muito ali”, desconversa. “Mas fico feliz que tantos fãs tenham gostado do resultado”.
Na tela, os músicos do Rush são celebrados como “altos sacerdotes do rock conceitual” por integrantes do Metallica, Kiss, Smashing Pumpkins, Rage Against The Machine e White Stripes, entre diversos outros respeitados roqueiros que não medem palavras ao se derreterem pelos ídolos. Tal reverência é graças a álbuns considerados clássicos, como ‘Fly By Night’, ‘Hemispheres’ e ‘Moving Pictures’ — este, lançado em 1981, será executado na íntegra nesta nova turnê, ‘Time Machine’.
“Esse disco foi um enorme salto na nossa carreira, apesar de considerar que foi no ‘2112’ (de 1976) a primeira vez que chegamos com um som que ninguém havia feito”, destaca Lee, prometendo para 2011 o 20º álbum de estúdio, ‘Clockwork Angels’ — duas novas já serão tocadas no Rio, ‘Caravan’ e ‘BU2B’.
A ‘marca’ do Rush, como o baixista define em ‘Além do palco...’, é “sempre querer ir mais além”. Depois de décadas em ação, independentemente do sexo predominante na plateia, o grupo passou no único teste verdadeiro: o teste do tempo.
PAIXÃO BRASILEIRA
Quase oito anos de espera desde a primeira passagem do Rush pelo Brasil, na época com a turnê ‘Vapor Trails’, os fãs já se preparam para mais uma noite de muitas emoções. Mal podem esperar pelo momento de cutucar o amigo para, cúmplices, concordarem que eles tocam perfeitamente.
“Este vai ser o quinto show deles que vou assistir”, festeja o guitarrista Alex Martinho, que além do primeiro show no Rio conferiu os canadenses três vezes nos Estados Unidos e ainda atua na banda cover 2112, dedicada, claro, ao repertório dos ídolos. “A única coisa ruim é que, quando os originais vêm, ninguém quer ver shows de releituras”. diverte-se.
Baterista da banda Fly By Night, que também só toca Rush, André ‘Geleia’ se prepara para o que classifica como “o momento mais emocionante da vida”. “Um dos caras da produção é tio da mãe do meu filho e, sabendo do meu fanatismo, prometeu que vai me colocar no backstage. Não estou nem acreditando, acho que a ficha ainda nem caiu, mas estou animadasso”, suspira.
Idolatrados no mundo inteiro, os integrantes do Rush revelam que também têm seus ídolos, pelos quais se rasgam em elogios. “Cresci ouvindo artistas como Led Zeppelin, The Who, Cream, Yes e Jeff Beck. Esses foram os grandes que me influenciaram”, enumera Geddy Lee. LSM
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