O Xantoné Blacq Trio chegou ao Rio anunciado, com pompas, como a “banda de Amy Winehouse”. No show que fizeram na Miranda, semana passada, além de enfileirar clássicos da saudosa cantora, com quem dividiram palcos mundo afora, também apresentaram suas próprias canções e releituras de outros nomes da música soul, como Stevie Wonder e Michael Jackson. A surpresa da apresentação, no entanto, foi a participação especial de uma jovem brasileira, Sabrina Malheiros. Acompanhada pelos gringos, ela interpretou a música ‘Batucada’, de Marcos Valle.
“Tocamos juntos em Londres”, conta Sabrina, que é filha do baixista Alex Malheiros, da lendária banda Azymuth, e traça carreira internacional na capital inglesa. “Com isso, surgiu o convite para eles gravarem o meu quarto CD, em agosto, quando retornam ao Brasil para mais shows”.
(foto: Pedro Mena)
Aproveitando o feriado prolongado na cidade, os caras do Xantoné Blacq Trio aceitaram um convite de Sabrina: embarcar em um passeio tipicamente carioca. Guiados por ela, bebem muitas caipirinhas, comem churrasquinho de rua em Santa Teresa e se jogam na badalada noite da Lapa.
“Sabrina é uma cantora fantástica!”, atesta Xantoné Blacq, tecladista e vocalista. “Eu já conhecia o Azymuth. Ela precisava de instrumentistas e, assim que nos conhecemos, já começamos a fazer música”.
Sabrina Malheiros, porém, é bem diferente da doidona Amy Winehouse. Enquanto a tropa internacional entorna o que aparecer pela frente, ela se comporta (ao menos durante a matéria), bebendo apenas alguns copinhos de cerveja no conhecido Bar do Gomez, de Santa Teresa. Em seu repertório, em vez do soul, uma dançante mistura de samba com pitadas eletrônicas. Sem problemas. Os rapazes já estão escolados com os nossos ritmos.
“Amy falava sempre da música brasileira, ela era antenada”, decreta o baterista Nathan Allen, entre um bolinho de bacalhau e um frango à passarinho (registre-se que a inglesa chegou a gravar uma versão para ‘Garota de Ipanema’, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes).
Xantoné, que é nigeriano mas mora em Londres desde os 9 anos, lembra a primeira vez que ouviu a nossa batucada: “Quando eu era pequeno, o programa ‘Fantástico’ passava na televisão nigeriana. Foi quando ouvi o som da cuíca. Pensei: ‘Que instrumento estranho’. E, a partir daí, fiquei curioso pelo Brasil”, recorda.
Nesse momento, o tecladista rega generosamente com pimenta um bolinho de bacalhau. Ao notar o olhar assustado dos brasileiros, devolve: “Relaxa, gente, eu sou da Nigéria”, diverte-se.
O baixista Alex Bonfant, o ‘branquelo’ da banda, se espanta mesmo é com o próprio quitute. “É o melhor que já comi! Em Londres, só tem croquete de carne. De peixe, nunca vi”, degusta. E manda vir outra dose da tradicional cachaça mineira Boazinha.
A essa altura, tudo é festa para os músicos. De Santa Teresa, Sabrina Malheiros puxa o bonde ladeira abaixo até a Lapa. Primeira escala: a conhecida Casa da Cachaça, um dos bares mais informais do boêmio bairro carioca. De lá, ela os acompanha até a não menos tradicional Pizzaria Guanabara, onde pedem várias fatias. Aí, bate uma vontade de dançar, e a noite acaba no bar Leviano, ao som de salsa, merengue e rumba. O roteiro com a brasileira se dá como uma dança afinada, atestando que a sintonia entre a cantora e os músicos acontece tanto nos palcos quanto fora deles.
Em agosto, quando voltam ao Brasil, os gringos vão se dividir entre o projeto Amy Lives — que levaram à Virada Paulista este mês — e o disco de Sabrina.
“Muita gente toca músicas da Amy pelo mundo. Somos os originais, mas mudamos os arranjos, fazendo o que imaginamos que ela mesma estaria fazendo hoje”, encerra Xantoné.
E pedem a saideira. LSM (fotos de José Pedro Monteiro)
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