segunda-feira, 7 de junho de 2010

Gil segue andando com fé na boa música

Só um compositor magistral para fazer um disco de forró em pleno entrar do período junino não despertar o cético sentimento de oportunismo e, pelo contrário, soar tão autêntico e natural como se fosse um disco de carreira como outro qualquer, sem um fio condutor.

Gilberto Gil continua um artista interessante neste ‘Fé na festa’. A expectativa por desvendar que inspiradas melodias vai trazer desta vez é no fundo o que desperta mais interesse por esse cara. Registre-se também, sempre, a incrível performance de mestres de seus instrumentos, como são os fiéis escudeiros Sergio Chiavazzoli (guitarra), Arthur Maia (baixo), Toninho Ferragutti (acodeão), Nikolas Krassic (violino) ou Jorginho Gomes (percussão), afiadíssimos. Os diálogos e duelos que a sanfona promove, ora com o violino, ora com a guitarra, respondem pelos mais altos momentos do disco.

Há, para um mais crítico, porém, aquela sonoridade ‘padrãozona’, tudo perfeito até demais, que sente-se falta de um quê orgânico, sujo mesmo, com a ‘marca da caveira’ de outrora, quando fazia canções ainda mais inspiradas, de quando tivera suas melhores ideias musicais, aquelas que o imprimiu na história. Mas tal observação seria muito particular e nem de longe ofuscam as boas novas 13 canções. São sete só de Gil, três parcerias, uma de Luiz Gonzaga, uma de João Silva e uma de Targino Gondim, do hit ‘Esperando na janela’. E da mesma forma desta, foi com ritmos nordestinos que Gil escolheu adornar esta nova safra. Baiões, xotes e xaxados comem solto, mas sobressai por cima o talento do autor.

A opção monotemática pelo sabor nordestino pode cansar a audição, principalmente pelo abusado uso dos coros femininos com os quais pretende-se incrementar os refrães, mas independentemente de qualquer moldura que escolhesse, as músicas seriam igualmente interessantes, com a personalidade de um compositor magistral. LSM

* Crítica originalmente publicada no site Laboratório Pop: http://www.laboratoriopop.com.br/criticas/cd/fe-na-festa/260

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