Aos 90 anos, a testemunha viva da nossa Era do Rádio está cheia de vida e conta como é seu dia a dia
Nosso fotógrafo está frustrado. “Marlene, me perdoe, vou precisar sair antes do fim da entrevista porque ainda preciso fazer uma outra foto, do grupo Revelação, que não sei se a senhora conhece”, desculpa-se. A eterna Rainha do Rádio arregala os olhos, como se fosse lhe puxar a orelha. “Claro que eu conheço o Revelação! Eu sou antenada!”, dispara.
Aos 90 anos, Victoria de Martino Bonaiute, a lendária cantora e atriz Marlene, que acaba de ganhar a biografia ‘A Incomparável’, nos recebeu em seu apartamento, na rua Siqueira Campos, em Copacabana. Encontramos uma senhora cheia de vida e muito divertida, e o papo foi repleto de nostalgia.
“Tenho muitas saudades de tudo o que vivi. Foram muitos anos de trabalho, mas minha perna esquerda me obrigou a adiantar meu descanso. Levei um tombo, quebrei o fêmur e sei lá mais o quê”, resigna-se a diva.
Ela mora apenas com o papagaio Rivelino (“Ele é muito afinado, parece um verdadeiro cantor”), companheiro há 40 anos, e tem a atenção diária da cuidadora Maria e do filho Sérgio Henrique, 59. “Ele é mais que um filho, é um amigo”, elogia.
Essa aproximação dos dois, Sérgio revela, nem sempre foi assim. No auge da fama dela, ele preferiu se afastar do mito que se tornou sua mãe Victoria.
“Ela sempre foi uma mulher à frente de seu tempo, e as pessoas não entendiam, tinham preconceito. Na escola, tudo de errado que acontecia, sempre apontavam para mim: ‘Só pode ser coisa do filho da Marlene’. Me afastei da artista para ter minha identidade própria, para ser o Sérgio, e não ‘o filho da Marlene’. Só contei isso a ela faz pouco tempo”, relata.
Agora, o passatempo preferido dos dois é escutar os CDs que ele grava para ela, coletâneas de canções de diversas épocas que Marlene gosta de ouvir e cantar junto. Ele coloca um para tocar enquanto conversamos. Abre com o sucesso italiano ‘Come Prima’, na interpretação da própria Marlene. “Eu cantei em várias línguas”, destaca, orgulhosa. “Ouço música o dia inteiro. Canto para mim mesma, coisas de tudo quanto é ritmo, até as novidades”.
Marlene também gosta de ver televisão e ler a Bíblia. “Sou evangélica, esse é o meu livro predileto”, faz questão de ressaltar.
Do CD, ouvimos a voz do cantor francês Charles Aznavour. “Ah, esse aí foi um grande amigo. Nunca esqueço o coquetel que dei para ele na minha casa. Ele foi no Olympia, quando cantei em Paris com a Edith Piaf. Ficou na primeira fila. Nossa, como era simpático”, suspira, o olhar longe, talvez na Era do Rádio, da qual ela é das poucas testemunhas vivas. Talvez a mais importante entre todas. “Corri o mundo com a música. Mas a música é em segundo lugar. Em primeiro, vem o amor”, ensina. LSM (fotos André Luiz Mello)
Sou um homem de 72 anos. Conheci Marlene no auge, dela, meu e da Radio Nacional.
ResponderExcluirFrequentei os programas do Manoel Barcelos onde ela se apresentava. E posso dar o meu testemuho
que Marlene é o retrato da arte. Sua intimidade com o palco era inacreditável. Sua firmeza e determninação rompiam todas as barreiras da emoção. Ela dominava o palco e a atenção do publico. MARLENE foi, simplesmente, o MÁXIMO. E para mim foi, é e continuará sendo sempre A MAIOR. Obrigado por você existir. loseiramil@gmail.com