quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Os Beatles depois dos Beatles

As polêmicas envolvendo a separação dos Beatles vão muito além da questão sobre jogar a culpa em Yoko Ono, a viúva de John Lennon. Depois dos anos de sonho, os quatro integrantes da banda saíram dos estúdios direto para os tribunais, e brigaram feio sobre direitos autorais, editoras, gravadoras, contratos de merchandising e licenciamentos. É esta parte da história dos cabeludos de Liverpool que o jornalista inglês Peter Doggett conta no livro ‘A Batalha Pela Alma dos Beatles’.

As pessoas costumam pensar nos Beatles como a banda perfeita, modelo do movimento de paz e amor e da ideologia dos anos 60, e, mesmo sabendo que eles tinhas suas diferenças, poucos sabem que eles se odiaram depois do fim do grupo. Você acredita que seu livro irá destruir essa imagem de sonho que muita gente tem sobre os Beatles?  
PETER DOGGETT: Certamente não quero destruir o sonho de ninguém. Mas acho que é hora de acabar um pouco com essa mitologia que sempre circulou sobre o grupo e dizer a verdade que realmente aconteceu. No livro, quis mostrar as dificuldades geradas com o fim da banda para os quatro integrantes e suas famílias. Ninguém antes na história tinha lidado com uma situação dessas: de ser muito famoso e carregar nas costas os sonhos de muita gente e ao mesmo tempo ter que se estabelecer como quatro indivíduos independentes, e eles pagaram um preço terrível por esta independência. Embora eles tenham tido comportamentos horríveis contra os outros em algumas ocasiões, embaixo disso tudo existiu muito amor  entre aqueles quatro homens que nenhuma ação na Justiça poderia destruir.

Qual a responsabilidade de Yoko Ono no fim dos Beatles?
PD: Não acho que ela deva ser culpada por isso. Não acredito que ela queria acabar com os Beatles, ou que tenha tentado fazer isso. Ao mesmo tempo, não acho que eles terminariam tão rápido se ela não tivesse aparecido. O que aconteceu foi que ela abriu os horizontes de John Lennon para novas ideias e novas maneiras de ser um artista em um momento que ele estava começando a se sentir amarrado no grupo. Como John sempre foi um cara que fazia coisas de uma forma dramática, ele imediatamente transferiu toda sua lealdade de Paul para Yoko. E depois disso acontecer, era impossível para os Beatles continuar da mesma forma que antes. Então, se Yoko não tivesse chegado, os Beatles talvez tivessem continuado por mais alguns anos, mas não acredito que John seria feliz. Então, o término teria acontecido mais cedo ou mais tarde.


Embora John Lennon seja usualmente relacionado com a paz, no livro a impressão que dá é que ele não era essa pessoa pacífica que imaginamos... ele nos enganou durante todos esses anos?
PD:  Não acho que ele estivesse fingindo. Tenho certeza de que ele era apaixonado pela paz, ou então não teria dispendido tanto tempo e dinheiro à sua campanha. Mas, ao mesmo tempo, ele ainda era o mesmo jovem atormentado e violento que passou uma infância e adolescência difícil em Liverpool. Então, ele era capaz de pregar a paz no mundo ao mesmo tempo que dá um soco em alguém que o decepcionou. Você pode chamar isso de hipocrisia, ou apenas dizer que ele era um ser humano normal, como todos nós.

Você acredita que os leitores ficarão chocados ao saber que George Harrison, com aquela imagem de cara espiritualizado, estava envolvido com drogas pesadas e que flertou com a irmã de sua mulher?
PD: Estou certo de que alguns leitores ficarão chocados, mas, assim como John, George era humano, e os humanos são usualmente cheios de contradições. Ele não era o único roqueiro envolvido com drogas nos anos 60 e 70, e certamente não foi o único cara que ficou interessado na irmã de sua mulher. O problema é que a mídia gosta de colocar os famosos em pequenas caixas, então George foi o "beatle quieto", virou o "beatle espiritualizado" e depois o "beatle mais interessado em dinheiro". Na realidade, ele foi todas essas coisas ao mesmo tempo, e tentava lidar com sua devoção às suas crenças religiosas ao mesmo tempo que tinha seus casos e comprava carros esporte caríssimos.

O que você acha que teria acontecido se John e Paul tivessem feito novas canções e gravado nos anos 70, quando John estava separado de Yoko Ono e isso quase se tornou realidade?
PD: É uma pergunta fascinante. Gostaria de saber a resposta... na verdade, eu gostaria que isso tivesse acontecido! Mas acredito que se John e Paul tivessem colaborado nos anos 70, as pessoas iriam ter tantas expectativas que seria impossível supri-las. Então, acho que seja lá que novas músicas tivessem feito, alguns críticos e parte do público ficariam desapontados. Acho também que seria muito difícil emocionalmente para John e Paul trabalharem juntos por um longo período, como fizeram nos anos 60. Em mundo ideal, John teria visitado Paul nas gravações de seu disco 'Venus & Mars', dado algumas boas ideias em algumas músicas e arranjos, apresentado algumas novas canções e eles teriam se divertido tanto que, em uma próxima oportunidade, chamariam George e Ringo e fariam um disco inteiro juntos. Mas, não importa o quanto boa suas novas músicas fossem, e tenho certeza de que seriam, eles nunca conseguiriam mudar o mundo como fizeram nos anos 60. Aquele tipo de coisa só acontece uma vez... LSM

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