O nome da banda que o vocalista Nasi ajudou a fundar não poderia ser mais apropriado. Cinco anos depois da turbulenta separação do Ira!, com direito a brigas, ele se mostra mesmo raivoso em ‘A Ira de Nasi’ (Editora Belas Letras, 317 pág., R$ 29,90), sua biografia assinada pelos jornalistas Mauro Beting e Alexandre Petillo. Nasi relata as pazes que fez com seu irmão e ex-empresário Airton Valadão, mas as melhores partes do livro são as histórias de sexo, drogas e rock and roll, em que o músico conta os seus podres. Aqui, ele fala do lançamento e anuncia novo disco solo.
Como surgiu a ideia de lançar este livro contando a sua biografia?
Em 2004, nós do Ira! começamos a preparar a nossa própria biografia junto do jornalista Alexandre Petillo. Com o fim da banda, em 2007, perdemos o interesse nesse projeto e o material de entrevistas e pesquisa acabou ficando arquivado. No ano passado, fui procurado pela editora Belas Letras com a ideia de retomar isso. Sugeri, então, fazer a minha biografia, que contaria também a história do Ira!, afinal, foi a banda que eu criei e a minha história e a do Ira! estão entrelaçadas. O Alexandre disse que só faltaria se aprofundar mais na minha carreira solo e esmiuçar a questão da separação do grupo. Eu chamei o Mauro Beting para ajudar, porque é um cara com quem eu já trabalhei e que curte muito rock and roll. Só quis que não fosse algo chapa-branca. Eu, como consumidor, quando compro a biografia de um artista, quero que quem escreveu vá abrir as vísceras do biografado.
No livro, você relata o relacionamento que teve com a então namorada do Edgard Scandurra. Se fosse a biografia do Ira!, inicialmente planejada quando o grupo ainda estava junto, esta história também seria contada da mesma forma?
Como a banda estava viva, eu não contaria isso. Deixar isso guardado era um código de honra entre nós. Mas essa história foi um dos motivos de a banda ter acabado. Em 2006, o Edgard mandou um e-mail raivoso para o meu irmão, que era o empresário do Ira!, falando que estava em crise criativa, que não conseguia mais fazer músicas porque não tinha superado essa história que aconteceu dez anos antes. Tivemos ali uma primeira ruptura, que não veio a público. Eu achava que isso tinha sido superado, que essa questão já estava debaixo do tapete. Naquele momento, eu pedi o boné. Foi logo depois do nosso ‘Acústico MTV’. Me convenceram a voltar, mas eu estava convencido a dar uma parada por tempo indeterminado.
Você sabe se os outros integrantes do Ira! leram este seu livro?
Soube que o Edgard deu uma declaração infantil, coisa típica dele. Disse que, se eu tinha transado com muitas mulheres, 80% disso era por causa das músicas dele. Eu morri de rir. Ele é um fanfarrão. Tenho certeza que no livro não tem nada de difamatório, nada que possa ser classificado como calúnia. E, quer saber? Pouco me importa a opinião deles. Até por curiosidade, acho que eles deveriam ter algum interesse nisso, afinal, é a história do Ira!. Mas meu contato com eles hoje é nenhum.
Já foram lançados diversos livros sobre o rock brasileiro dos anos 80, época em que o Ira! surgiu. Você acha que a história daquela década já foi bem contada?
Não li todos os livros, mas li a biografia do Lobão, e tem um paralelo entre o meu e o dele. Eu narro a cena paulistana da década de 80, e ele descreve a carioca. Mas, por melhor que tenha um bom trabalho jornalístico, será sempre a visão particular de quem escreveu. Os anos 80 foram uma época muito rica de contradições e polêmicas. Estávamos testando os limites do fim da censura e do uso de drogas. É um período de excessos, que teve os primeiros artistas a se declararem com HIV, as prisões dos Titãs e do Lobão, a homossexualidade do Renato Russo. Foi muito mais rico que esse mar de poodles que está hoje aí. Atualmente, a cena do rock está muito comportada. É tudo maquiagem. O pó que os artistas passam hoje é na cara, não é no nariz.
Você vai lançar um novo disco solo?
Vai sair no mês que vem e vai se chamar ‘Perigoso’. Serão dez faixas, entre inéditas e versões para ‘As Minas do Rei Salomão’, do Raul Seixas; ‘Dois Animais Na Selva Suja da Rua’, do Taiguara, que foi gravada pelo Erasmo Carlos; ‘Não Há Dinheiro Que Pague’, do Paulo César Barros, que fez sucesso com o Roberto Carlos; além de uma versão blues para a balada ‘Como é Que Eu Vou Poder Viver Tão Triste’, do cantor Paulo Sergio. A faixa título, ‘Perigoso’, eu fiz inspirado no Johnny Cash, um cara que foi e voltou do inferno várias vezes.
Por você, existe a possibilidade de, mesmo que daqui a muitos anos, o Ira! voltar, nem que seja para apenas um show?
Hoje, não sei se os outros três são tragáveis para mim. Não é algo que desejo nesse momento, mas, depois que o Maluf deu a mão para o Lula, nada é impossível. LSM
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