Autor de biografia ensina a gostar do astro do rock, criticado por sua voz fanhosa
O cantor e compositor norte-americano Bob Dylan divide com o nosso Chico Buarque uma injusta fama: a de ser um mau cantor. De fato, os dois artistas têm uma voz esquisita, fanhosa, fora dos padrões dos grandes cantores. Mas tal característica é compensada pela extrema habilidade de ambos em escrever letras incríveis — porém, no caso do Dylan, essa qualidade não impressiona o ouvinte brasileiro que não fala inglês e que vai, fatalmente, continuar achando o astro do rock um chato de galochas mesmo.
“Entendo a dificuldade de gostar do Bob Dylan sem entender a língua. Me surpreende até o fato de ele ter tantos fãs em países como Alemanha, França ou Itália. Para superar essa limitação, o ideal é traduzir as letras. Ele é um grande poeta”, ensina o escritor e historiador norte-americano Daniel Mark Epstein, autor do livro ‘A Balada de Bob Dylan — Um Retrato Musical’.
Existem dezenas de livros contando a vida de Bob Dylan, e ele próprio já escreveu a sua biografia, ‘Crônicas’, mas Epstein conta sua versão de uma forma diferente. O autor escolheu quatro emblemáticas apresentações do artista, em 1963, 1974, 1997 e 2009, para mostrar como ele mudou o rumo de sua obra com o passar dos anos.
“Bob Dylan é o artista vivo mais interessante para se escrever uma biografia, principalmente porque ele está aí até hoje, lançando novos discos, e se transformando. Acho que por eu também ser poeta e músico, além de contemporâneo dele, posso dar uma nova perspectiva que nenhum outro biógrafo poderia conseguir”, avalia Daniel Mark Epstein.
Mas as reclamações do público sobre Dylan não se resumem à sua voz. Muita gente, fãs inclusive, não suporta o fato de ele mudar tanto as músicas em relação às gravações originais quando as apresenta ao vivo. Muitas vezes, só cai a ficha sobre que canção ele está cantando quando ela está já chegando ao fim.
“Tive o privilégio de ver um dos primeiros shows dele, o de 1963, que relato no livro. Posso dizer que Dylan não está interessado em se repetir, o que seria para ele como viver no passado, um tipo de morte até. Ele é um artista que segue sempre olhando para frente, e isso demanda uma mudança constante”, defende o autor. LSM
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